31 maio 2024

SOLENIDADE DO SANTÍSSIMO CORPO E SANGUE DE CRISTO

 


 

 

Sempre me surpreende esta verdade imensa que é o Sacramento da Eucaristia.

Desde que “assistia” à celebração da Eucaristia, (pois não sabia bem o que fazia), até agora em que n’Ela participo verdadeiramente, sempre senti um imenso respeito pelo sagrado, um sentimento de pequenez, um sentimento de estar a viver para além de tudo o que possa entender, um sentimento de entrega, um sentimento de indignidade muito bem expresso na oração «Senhor eu não sou digno que entreis em minha morada, mas dizei uma só palavra e eu serei salvo».

Sinto-me, às vezes, como aquela mulher que apenas Lhe queria tocar no manto para ser curada, mas, infelizmente, bem longe da fé que a moveu ao encontro de Jesus.

Há celebrações em que me deixo envolver de tal modo que me parece estar num outro lugar, ou melhor, num espaço para além do tempo e do mundo.

Há momentos a seguir à Comunhão em que me sinto envolvido num tão imenso amor que me vêm as lágrimas aos olhos.

Mas também há outros dias, outras celebrações, em que me deixo perder nas preocupações do mundo, nas distrações da vida, na ansiedade do tempo, às vezes até criticando interiormente a homília mais longa, os baptismos na celebração dominical, as festas da catequese que prolongam o tempo da celebração, o tempo dos avisos, enfim, um nunca acabar de coisas que o meu coração ainda de pedra, se deixa levar pelo mundo, perdendo o encontro tão vivo e rico com Jesus na Eucaristia.

E, quando tal acontece, sinto-me sempre, passado pouco tempo, um ingrato, um fraco, um pobre que não sabe como é rico por ter Jesus consigo.

E depois, por vezes, sou muito formal, ou seja, como se para adorar a Deus, fosse absolutamente necessário estar na presença do Santíssimo Sacramento da Eucaristia, quando foi Ele mesmo que disse que «quem realmente come a minha carne e bebe o meu sangue fica a morar em mim e Eu nele».

Mas realmente, na minha paróquia, temos pelo menos dois momentos semanais de adoração ao Santíssimo Sacramento da Eucaristia, e estes momentos são vividos em silêncio que por vezes nos parecem tão constrangedores, mas que quando a eles nos habituamos são de uma riqueza imensa.

São dois amigos que se olham, que se amam, e em que Um deles dá tudo ao outro, e o outro, o pobre eu, dá a fraqueza do seu amor, dá a debilidade da sua fé, dá a sua incompleta entrega.

Nestes momentos, por vezes, apetece-me estender-me pelo chão, de cara voltada para baixo e ali deixar-me estar assim, numa atitude de adoração e entrega.

Só não o faço para não chamar a atenção para mim, porque é Ele que é e tem de ser sempre o centro de tudo e de todos.

Enfim, deixei falar o coração, ou melhor, deixei o coração escrever estas palavras que representam muito pouco do que sinto, e menos ainda do Tudo e do Todo que é o Santíssimo Sacramento da Eucaristia.

A Ele toda a honra, toda a glória e todo o louvor.

 

Marinha Grande, 29 de Maio de 2024

Joaquim Mexia Alves

30 maio 2024

Solenidade de Corpus Christi

  Solenidade de Corpus Christi  (Vatican Media)  

Celebrar a Eucaristia e partilhar o corpo e o sangue do Senhor é comprometer-se a partilhar o que se tem e, sem dúvida, partilhar a própria vida como fez Jesus e continua a fazer na Eucaristia. 
 

Padre César Augusto, SJ - Vatican News

Desde criança, acostumamo-nos tanto a ir à missa dominical que perdemos um pouco o significado do que celebramos. Ela corre o perigo de se tornar um simples momento de oração comunitária e de devoção. Se isso acontece, estamos corrompendo o sentido da Eucaristia.

Em primeiro lugar, ela consciencializa-nos da grande amizade selada entre Deus e o Homem. Deus quer unir-se para sempre ao ser por ele criado, que inventa um modo de estar sempre visivelmente presente aos olhos da sua criatura.  Mais ainda, na 1ª Carta aos Coríntios, Paulo diz-nos que o Senhor realizou a nova e eterna aliança, através do derramamento do seu sangue, objeto de perdão e da santificação humana. O pão, o seu corpo, é partido como alimento entre os irmãos. “Porque há um só pão, nós todos somos um só corpo, pois todos participamos desse único pão.” (1Cor 10,17)

Por isso do mesmo modo que a Igreja faz a Eucaristia, a Eucaristia faz a Igreja. Não é possível separar o corpo eucarístico do corpo eclesial, da comunidade.

Celebrar a Eucaristia é fazer memória da ação do Senhor na Ceia e da sua morte, é tornar presente o seu sacrifício redentor, é a celebração da partilha na Comunidade e é a celebração do futuro, da sua vinda gloriosa.

Celebrar a Eucaristia e partilhar o corpo e o sangue do Senhor é comprometer-se a partilhar o que se tem e, sem dúvida, partilhar a própria vida como fez Jesus e continua a fazer na Eucaristia. De facto, viver a Eucaristia é comprometer-se com o outro, é fazer-se responsável pelo outro.

Que a nossa vida, o nossos dias, sejam marcados pelo seguimento da pessoa de Jesus Cristo, da sua entrega para o bem de todos, sem receio de sacrifícios e de partilhas. Partilhar o pão eucarístico, o corpo do Senhor, seja incentivo e também reflexo da partilha do pão que está sobre a nossa mesa, de todos os dons que o Senhor nos presenteia, sem mérito nosso, enfim, de toda nossa vida.

VN

28 maio 2024

DIOCESE EM REORGANIZAÇÃO PASTORAL


 

 

Vivemos na nossa Diocese de Leiria-Fátima um tempo em que nos confrontamos com a falta de sacerdotes, o que forçosamente leva a pensar na reorganização pastoral das paróquias, vigararias e da própria diocese.

Esta situação não é exclusiva da nossa diocese, e, com certeza, verifica-se também noutras dioceses de Portugal e do mundo, muito provavelmente.

Poderíamos e deveríamos tentar perceber a razão porque as vocações sacerdotais diminuíram tanto na Igreja Católica, sobretudo ao nível do clero secular/clero diocesano.

Obviamente que não tenho competência, nem saber, para querer “dar conselhos”, ou encontrar soluções para a situação, mas posso, reflectindo para mim próprio, analisar, salvo seja, o caminho que se percorre, embora não seja conhecedor de todas as opções e discussões que sobre o tema têm havido.

Mas há algo que me chama a atenção.

As reuniões e encontros sucedem-se, as análises são partilhadas, cada um, (e ainda bem que assim é), dá a sua opinião livremente, mas não parece, a mim apenas, com certeza, haver uma coesão de pensamento, ou melhor, uma identidade do que é a Igreja, e como Ela se edifica através daqueles que são Igreja, movidos pelo Espírito Santo.

É que, se tivermos em atenção o tempo que cada reunião ou encontro duram, em comparação com a oração feita para que esses encontros e reuniões tenham a mão de Deus, a diferença parece-me abissal.

Obviamente que as reuniões e encontros não têm de ter o mesmo tempo de oração como têm de debate, (ou deveriam ter?), mas fora desse tempo de reunião deveriam acontecer momentos vários de oração de toda a diocese por essa intenção, para já não falar da oração particular de cada um diariamente e antes de cada reunião.

Refere-se muito hoje o desejo de regresso à vida das “primeiras comunidades” do cristianismo, mas o que sobressai dessas “primeiras comunidades” é o que vem descrito nos Actos dos Apóstolos e não só: «Eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, à união fraterna, à fracção do pão e às orações.» Act 2, 42

E era precisamente esta “prática” constante que levava os Apóstolos com aqueles primeiros cristãos a discernirem o caminho da Igreja nascente, segundo a vontade de Deus.

Por isso lemos nos mesmos Actos dos Apóstolos versículos como este: «O Espírito Santo e nós próprios resolvemos não vos impor outras obrigações além destas, que são indispensáveis» Act 15, 28

«O Espírito Santo e nós próprios», porque em primeiro lugar é preciso escutar o Espírito Santo, o que se faz primeiramente pela oração, pelo silêncio, pela entrega, pela humildade, pela escuta de Deus e, com certeza, também dos outros.

Mas todos aqueles que são chamados a debater este tema da reorganização da diocese, sacerdotes e leigos, não devem colocar em primeiro lugar os seus planos, muito bem pensados, provavelmente, sem primeiro os colocar nas mãos de Deus, para poderem discernir o que é a vontade de Deus e o que são apenas os planos humanos, que podem estar cheios de saber e de certezas, mas que se não forem do agrado de Deus, de nada servirão e soçobrarão irremediavelmente mais cedo ou mais tarde.

Devemos, com certeza, servirmo-nos das experiências do passado, analisando o que foi bom e o que não resultou tão bem.

Devemos também abrir-nos à novidade, pois o Espírito Santo suscita sempre coisas novas àqueles que a Ele se entregam.

Mas devemos, sem dúvida, entregar-nos à oração contínua, individualmente e colectivamente, pois só com a graça do Espírito Santo encontraremos o caminho que Deus quer para a Sua Igreja no seu todo, e na porção que é a nossa diocese.

A oração deve ser a fonte onde se encontram os planos para a Igreja, deve ser o suporte desses mesmos planos, e não os planos dos homens serem a fonte da oração, ou sequer o suporte da oração.

E ainda mais do que isso, ou melhor, completando isso, devemos ter sempre presente que a cabeça da Igreja é Cristo e que a missão da Igreja é levar Cristo à humanidade e a humanidade a Cristo, e que nós apenas semeamos, porque Ele é que é o verdadeiro Agricultor.

Unamo-nos em oração, nas nossas orações particulares do dia a dia, colocando essa intenção sempre, e unamo-nos em assembleia de fiéis, em Igreja, rezando sempre por essa intenção em cada Eucaristia, em cada Adoração, em cada momento de oração comunitária.

Assim, sem dúvida, chegaremos a um momento em que também poderemos dizer em Igreja: «O Espírito Santo e nós …».

 

Marinha Grande, 28 de Maio de 2024

Joaquim Mexia Alves

 

26 maio 2024

Francisco às crianças: "O Espírito Santo acompanha-nos na vida"

 
 
Cinquenta mil fiéis participaram, na Praça de São Pedro, na missa da I Jornada Mundial das Crianças. No dia em que a Igreja recorda a Santíssima Trindade, Francisco conversou com as crianças, recordando o amor do Pai e "Jesus que perdoa tudo e sempre". Junto com elas, rezou a Ave-Maria, e pediu para que rezem pela paz. Anunciou que a próxima Jornada Mundial das Crianças será em setembro de 2026.
 

Michele Raviart/Mariangela Jaguraba – Vatican News

O Papa Francisco presidiu a missa na Solenidade da Santíssima Trindade, neste domingo (26/05), na Praça São Pedro, I Jornada Mundial das Crianças.

A sua homilia, feita espontaneamente, foi centrada na Santíssima Trindade. "O Pai criou-nos, Jesus salvou-nos, o Espírito Santo acompanha-nos." Assim, o Pontífice explicou às milhares de crianças presentes na Praça de São Pedro, para a I Jornada Mundial dedicada a elas, o mistério de Deus, Uno e Trino.

"Estamos aqui para rezar juntos, para rezar a Deus. Vocês concordam?", perguntou o Papa, reiterando que o Pai Criador "ama-nos muito" e faz-nos crescer.

A humildade de pedir perdão a Jesus

"Jesus!", gritam as crianças quando o Papa lhes pergunta o nome do filho de Deus. "Peçamos a Jesus para que nos ajude e esteja perto de nós", disse Francisco, porque "quando comungamos, recebemos Jesus e Jesus perdoa os nossos pecados". Isto acontece "sempre, sempre, sempre", lembrou o Papa, "para um homem ou uma mulher com muitos pecados" e "até mesmo para o mais feio dos pecadores".

Não se esqueçam disto: Jesus perdoa tudo e perdoa sempre, e nós devemos ter a humildade de pedir perdão. "Perdoa-me, Senhor, eu errei. Sou fraco. A vida colocou-me em dificuldades, mas tu perdoas tudo. Eu gostaria de mudar minha vida e tu ajudas-me".

A felicidade da fé

Não é fácil, continuou o Papa, explicar o que é o Espírito Santo, que "está dentro de nós" porque o recebemos no Batismo e nos Sacramentos. Ele "dá-nos força, consola-nos nas dificuldades". O Espírito Santo é aquele "que nos acompanha ao longo da vida". Cinco vezes o Papa pediu para as crianças repetirem isto, antes de explicar-lhes a felicidade da fé:

Queridos irmãos e irmãs, meninos e meninas, todos nós somos felizes porque acreditamos. A fé torna-nos felizes. Acreditamos em Deus que é, todos juntos: "Pai, Filho e Espírito Santo".

Oração a Maria e pela paz

Os cristãos também têm uma mãe, "Maria", respondem as crianças, a quem Francisco pediu para invocarem, rezando uma Ave-Maria com todos os fiéis. "Rezem pelos pais, pelos avós, pelas crianças doentes", exortou o Papa, e "rezem sempre e sobretudo pela paz, para que não haja guerras". "O que faz Espírito Santo?", perguntou novamente antes de prosseguir com a celebração da missa. "Ele acompanha-nos", responderam as crianças em coro.

Após a oração do Angelus e um monólogo do diretor de cinema e ator vencedor do Oscar Roberto Benigni, Francisco anunciou a data da II Jornada Mundial das Crianças, que será em setembro de 2026.

VN

24 maio 2024

O CAMINHO A VERDADE E A VIDA

 


 

 

Dou-Te a mão e partimos vida fora.

Vais-me avisando dos obstáculos que o inimigo vai colocando no caminho e eu, então, aperto-Te a mão com mais força e, todo apoiado em Ti, vou-os ultrapassando com mais ou menos dificuldade.

Por vezes, por culpa minha, largo a Tua mão, e logo caio no primeiro buraco que me aparece no caminho.

Choro arrependido, prometo não mais Te largar, e Tu, com um sorriso imenso e uma paciência infinita, agarras a minha mão, levantas-me e dás-me um novo caminhar.

Cada dia é um novo dia, é um novo desafio, um “novo” renascer, em que Tu sempre presente, não desistes de mim e me amas tão simplesmente.

Quando chega a noite, recostamo-nos os dois, e eu, coloco a cabeça no Teu colo, pego na Tua mão, coloco-a sobre a minha cabeça e deixo-me adormecer assim, envolvido no Teu amor.

Não sei se me fazes uma festa de carinho ou se acordo por mim, mas sei ou quero, que o meu primeiro olhar encontre o Teu olhar, que os meus primeiros pensamentos sejam sempre para Ti, que as minhas primeiras palavras sejam para Te dizer do meu amor, (por vezes tão fraco, Senhor!), que sinto e vivo por Ti.

Às vezes fujo-Te, (como se fosse possível fugir-Te!), mas Tu não cessas de me procurar, como procuraste aquela ovelha que, desgarrada, se perdia pelos meandros da vida.

E quando me encontras, (ou eu me deixo encontrar), parece que o Teu sorriso aumenta, parece que uma alegria infinda toma conta de Ti, e fazes uma festa tão grande, que quase me apetece … fugir de Ti mais vezes!

E então, de mão dada, lá vamos os dois caminhando, umas vezes sorrindo, outras vezes chorando, (sim porque Tu choras comigo, também), umas vezes conversando, outras num silêncio partilhado, mas tendo sempre a certeza de que vais comigo para todo o lado.

Assim sempre conTigo, o caminho é seguro, a mentira desfalece, a morte nada pode porque a vida é mais forte.

E então, eu abro os meus braços para o Céu, e grito cheio de Ti: Sim, Senhor Jesus, Tu és realmente o Caminho, a Verdade e a Vida!

 

Marinha Grande, 24 de Maio de 2024

Joaquim Mexia Alves