Vejo-me num canto da sala de cima, onde celebras a Páscoa com os Teus Apóstolos, a Tua Última Ceia.
Estou ali em silêncio, agachado, de joelhos, como se fosse para não me veres, como se fosse possível Tu não saberes que eu ali estou.
A refeição prossegue e as conversas cruzam-se na mesa, mas em todas elas há uma pergunta no ar: E agora, o que vai Ele fazer?
Tinhas-lhes dito que ias morrer, que ias partir e eles começavam a sentir-se amedrontados.
Olhas a cada um com esse Teu olhar de amor, de compaixão, querendo incutir-lhes a confiança, a esperança, a força, para acreditarem e viverem tudo aquilo que vai acontecer e que Tu sabes bem o que é, e como isso os vai afectar.
Sabes que vais dar a vida por todos, sabes que todos eles vão fugir e até negar, mas o Teu amor por eles, por todos nós, (que tantas vezes fugimos de Ti e Te negamos), contínua a derramar-se em nós sem medida.
Já sabes como lhes hás-de dizer, mostrar, como vais ficar com eles, connosco, até ao fim dos tempos.
Sabes também que eles não vão perceber para já o alcance do que vais fazer, como tantos de nós continuamos tantas vezes sem perceber.
Depois de olhares cada um intensamente, mais uma vez, tomas o pão nas Tuas mãos, abençoa-lo, parte-lo e dás a cada um dizendo: «Isto é o meu corpo, que é para vós; fazei isto em memória de mim». 1 Cor 11, 24
Não Te importas com o espanto que lhes causas, com a surpresa nos seus rostos, e, amorosamente, tomas o cálice nas Tuas mãos, novamente dás graças, abençoas e dás a cada um deles, dizendo: «Este cálice é a nova Aliança no meu sangue; fazei isto sempre que o beberdes em memória de mim». 1 Cor 11, 25
Eles, como nós, não conseguem abarcar a imensidão do mistério divino que ali realizas e continuas a realizar todos os dias na Eucaristia.
Sabes bem que um dia, guiados pelo Espírito Santo, Te havemos de reconhecer ao «partir do pão». Lc 24, 35
Agora o Teu olhar projecta-se para além deles, e atinge cada um de nós que, na Missa de Quinta Feira Santa, e em todas as Missas, abre o seu coração à Tua presença viva na Eucaristia.
E nós, tal como eles, então, sentimo-nos tocados pelo Teu infinito amor.
Levanto a minha cabeça e percebo que a sala de cima onde julgo estar, é afinal a assembleia daqueles que em Ti acreditam e Te querem seguir em Igreja.
E, ao olhar com os olhos do coração, com o olhar da fé, vejo-Te na Hóstia e no Cálice consagrados e exclamo dentro de mim: «Meu Senhor e meu Deus». Jo 20, 28
Marinha Grande, 27 de Março de 2024
Joaquim Mexia Alves
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