14 novembro 2023

TONTO E CEGO!


 
 
 
 
Confesso, Senhor, que por vezes apetece-me desistir, não da vida, claro, mas de tantas coisas que a “atrapalham” e que, saindo do meu controle, acabam por me dar momentos de frustração, de incómodo, de tristeza e, às vezes, até de alguma irritação.

E nessas alturas fico muitas vezes a remoer nesses incómodos, nessas tribulações, nessas tristezas, quase como se me “deleitasse” no meu pequeno sofrimento.

Sim, Senhor, escrevo bem, pequeno sofrimento, porque realmente não passam de coisas pequenas perante a grandeza da vida, perante já tantos anos vividos e, sobretudo, perante a certeza, (que deveria ter constantemente), de que estás connosco e que nunca nos abandonas e não nos deixas ser tentados acima das nossas forças.

Porque não consegui isto ou aquilo, por que alguém não fez aquilo que devia ter feito, porque aqueles planos tão bem pensados não foram bem sucedidos, porque esta ou aquela situação que julgava ultrapassada afinal “regressa” sempre para me “atormentar”, enfim, as “queixas” são imensas e parecem não dar espaço a tudo o que de bom me acontece todos os dias.

E no fundo não dão espaço a tudo o que de bom me acontece todos os dias, porque nesses momentos me fecho apenas no menos bom que me vai acontecendo.

Não porque não tenhamos que, obviamente, enfrentar as dificuldades, mas porque é nessa luta que encontramos a vida e Te encontramos, também, Senhor, sempre pronto para nos dares a mão e nos fazeres “andar sobre as águas”.

Afinal tenho tanto para agradecer, tanto para sorrir, tanto para me alegrar, tanto para dar, para partilhar, e, nesses momentos mais difíceis, apenas penso no que não tenho, no que não consigo resolver, nas tristezas e nos sofrimentos, enfim, em vez de me ver cheio de Ti, Senhor, reduzo-me a encher-me apenas de mim.

E, claro, fui escrevendo e Tu, Senhor, foste-me dando a mão, olhaste para mim e abriste um sorriso na minha cara, e eu apenas me apetece dizer-Te:
Não ligues, Senhor, porque eu sou um tonto, por vezes cego, que Te não vê, porque apenas se quer ver a si próprio.



Monte Real, 14 de Novembro de 2023
Joaquim Mexia Alves
 

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