24 setembro 2023

O Papa no Angelus: a "moeda" de Deus é o seu amor, incondicional e gratuito

 
 
"A justiça humana diz para “dar a cada um o que merece”, enquanto a justiça de Deus não mede o amor na balança dos nossos rendimentos, dos nossos desempenhos ou dos nossos fracassos: Deus ama-nos e basta, ama-nos porque somos filhos, e fá-lo com amor incondicional e gratuito."
 

Jackson Erpen – Cidade do Vaticano

A justiça de Deus não mede o amor na balança dos nossos rendimentos, desempenhos ou fracassos, Deus ama-nos porque somos filhos e fá-lo com amor incondicional e gratuito, "para o seu coração nunca é tarde, Ele procura e espera-nos sempre."

Critérios de Deus

Este é o cerne da reflexão do Papa Francisco inspirada na narrativa de Mateus (20, 1-16) sobre o proprietário da vinha que paga o mesmo valor aos trabalhadores contratados em diferentes horas do dia, o que é considerado injusto pelos que foram contratados primeiro e trabalharam mais.

Francisco explica ainda no início que “a parábola não deve ser lida por meio de critérios salariais; mas sim, quer mostrar os critérios de Deus, que não faz cálculos dos nossos méritos, mas nama-nos como filhos.”

O Senhor procura e nos espera-nos sempre

Então chama atenção para duas ações divinas da narrativa. A primeira delas, Deus que sai a qualquer hora para nos chamar, destacando assim que não são apenas os homens que trabalham, mas “sobretudo Deus, que sai sempre, sem se cansar, o dia inteiro":

Deus é assim: não espera os nossos esforços para vir ao nosso encontro, não nos faz um exame para avaliar os nossos méritos antes de nos procurar, não desiste se demoramos a responder-lhe; pelo contrário, Ele mesmo tomou a iniciativa e em Jesus “veio” ao nosso encontro, para nos manifestar o seu amor (...). Para o seu coração nunca é tarde, Ele procura e espera-nos sempre. Não esqueçamos disto: o Senhor nos procura e espera-nos sempre.

A justiça de Deus é superior, vai além

Francisco chega então à segunda ação divina: precisamente porque Deus é tão generoso, ele retribui a todos com a mesma “moeda”, que é o seu amor. E o último sentido da parábola é esse: os trabalhadores deaúltima hora são pagos como os primeiros porque, na realidade, aquela de Deus é uma justiça superior, vai além:

A justiça humana diz para “dar a cada um o que merece”, enquanto a justiça de Deus não mede o amor na balança dos nossos rendimentos, dos nossos desempenhos ou dos nossos fracassos: Deus ama-nos e basta, ama-nos porque somos filhos, e o faz com amor incondicional, um amor gratuito.

Superar relação 'mercantil' com Deus

Como já tinha feito em tantas outras ocasiões, ao falar sobre a gratuidade, Francisco chama a atenção para o risco de termos uma “relação ‘mercantil’ com Deus, centrando-nos mais na nossa bravura do que na generosidade da sua graça”:

Às vezes, mesmo como Igreja, em vez de sair a cada hora do dia e abrir os braços a todos, podemo-nos sentir os primeiros da classe, julgando os outros distantes, sem pensar que Deus também os ama com o mesmo amor que tem por nós. E mesmo nas nossas relações, que são o tecido da sociedade, a justiça que praticamos por vezes não consegue escapar do esquema do cálculo e limitamo-nos a dar de acordo com o que recebemos, sem ousar fazer algo mais, sem apostar na eficácia do bem feito gratuitamente e do amor oferecido com grandeza de coração.

Agir com os outros como Jesus age comigo

O Papa então propõe que nos interroguemos:

Eu cristão, eu cristã, sei ir na direção dos outros? Sou generoso, sou generosa com todos, sei dar aquele “a mais” de compreensão, de perdão, como Jesus fez comigo e faz todos os dias comigo?

Que Nossa Senhora – disse ao concluir - nos ajude a converter-nos à medida de Deus, à de um amor sem medida.

VN

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