Seguiam os dois de mão dada no autocarro de volta à sua terra, ainda com um sorriso “meio tolo” nos seus rostos.
O João olhou para a Isabel com aquele olhar de quem ama um amor sempre novo e disse:
Gostei tanto de estar ali com tanta malta como nós e com o Papa!
A Isabel olhou para ele enternecida, apertou-lhe ainda mais a mão e respondeu:
Também eu, João, também eu!
Fez-se
um silêncio entre os dois, apesar do barulho feito por tantos jovens
naquele autocarro e deixaram-se ficar assim, de mãos dadas, olhando um
para o outro com uma felicidade que não sabiam perceber … ainda.
A Isabel cortou o silêncio para dizer:
E agora? Agora o que vamos fazer?
O João olhou-a e respondeu:
Sei
lá! Se calhar temos que perceber bem o que o Papa nos disse! Ele disse
para não termos medo, mas isso já Jesus dizia naquele tempo, há muito
tempo.
E tu tens medo?
Perguntou a Isabel.
Não sei bem, disse o João, acho que tenho algum receio do futuro, mas de Deus sinto que não tenho medo.
É
como eu! Sinto que Deus nos ama, que Jesus está connosco, mas quando
olho para a frente tenho um pouco de medo do que aí possa vir.
O João pensou um pouco e disse:
Sabes,
eu acho que o Papa queria dizer que não devíamos ter medo de ser
cristãos, de ser católicos, de ser Igreja, porque se o formos
verdadeiramente, Jesus está connosco e nada de verdadeiramente
importante nos há-de faltar.
A Isabel riu-se com vontade e respondeu:
Não te conhecia esses “dotes” de fé!
E acrescentou:
Estou
a brincar, mas a verdade é que a mim também me tocaram aqueles dias,
aquelas celebrações, sobretudo a presença de unidade, de amor, que só
Deus pode fazer sentir em tanta gente.
Mais uma vez o silêncio tomou conta deles apesar do “tumulto” que tantos jovens faziam no autocarro.
E agora, João?
Perguntou a Isabel, retomando a conversa interrompida.
O João olhou para ela, apertou a mão com força e disse:
Só
podemos ter duas atitudes. Ou continuamos assim, a fazer as nossas
vidas tipo um poucochinho em Igreja ou assumimos a fé que nos foi dada, e
vivemo-la com a força que nos vem de Deus.
A Isabel tomando coragem, respondeu-lhe:
Mal puder, quando chegarmos, vou-me confessar e recomeçar a partir daí.
O João anuiu e disse que ela não iria só porque essa era também a sua intenção.
De mãos dadas em silêncio, mais uma vez, viveram aquele momento como algo que começava verdadeiramente nas suas vidas.
Quase ao mesmo tempo, olhando um para o outro perguntaram-se:
E o todos, todos, todos?
Ah,
João, temos que acolher aqueles que não vivem como nós, ou melhor, que
não pensam como nós, que têm outras maneiras de sentir a vida, desde a
espiritualidade até mesmo ao sexo, e acolhê-los, fazendo-os sentir que a
Igreja é de todos.
Sim,
Isabel, é verdade, mas temos que mostrar com as nossas vidas que Jesus
chama todos, mas que depois compete a cada um aceitar o chamamento de
Cristo com tudo o que esse caminho contém.
Meu
querido João, a nós compete-nos tão só mostrar com as nossas vidas e o
nosso proceder que Deus a todos ama por igual e a todos chama para Ele,
depois cada um perante esse chamamento responde conforme a sua vontade,
porque Deus nada impõe, “apenas” ensina como viver e “apenas” ama!
Sabes,
Isabel, acho que o nosso amor vem de Deus e se Deus nos ama e nos faz
amar um ao outro, temos que nos servir desse amor para amar também os
outros e ajudá-los a encontrarem o mesmo amor com que nós amamos e que,
afinal, é o amor de Deus em nós.
Deram um beijo, reclinaram-se nos assentos do autocarro e ficaram a olhar para um “nada” que afinal estava repleto de Deus.
Marinha Grande, 9 de Agosto de 2023
Joaquim Mexia Alves
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