Mariangela Jaguraba - Vatican News
«Ide, pois, e fazei discípulos de todas as nações, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo». Com essas palavras de Jesus o Papa Francisco iniciou a catequese da Audiência Geral, desta quarta-feira (22/02), realizada na Sala Paulo VI, sobre a paixão de evangelizar.
Ide, diz o Ressuscitado, não para doutrinar, nem para fazer prosélitos, mas para fazer discípulos, ou seja, para oferecer a cada um a possibilidade de entrar em contacto com Jesus, de o conhecer e de o amar livremente. Ide, batizando: batizar significa imergir e, portanto, antes de indicar uma ação litúrgica, exprime um ato vital: mergulhar a própria vida no Pai, no Filho, no Espírito Santo; experimentar todos os dias a alegria da presença de Deus que está próximo de nós como Pai, como Irmão, como Espírito que age em nós, no nosso próprio espírito. Batizar é imergir-se na Trindade.
Segundo o Papa, "quando Jesus diz aos seus discípulos - e também a nós – “Ide!”, não comunica apenas uma palavra. Não! Comunica, ao mesmo tempo, o Espírito Santo, pois só graças a Ele, ao Espírito, podemos receber a missão de Cristo e cumpri-la. Com efeito, os Apóstolos permanecem fechados no Cenáculo, com medo, até chegar o dia de Pentecostes e descer o Espírito Santo sobre eles. O anúncio do Evangelho só se realiza na força do Espírito, que precede os missionários e prepara o coração: Ele é «o motor da evangelização»".
No Livro dos Atos dos Apóstolos, "vemos que o protagonista do anúncio não é Pedro, Paulo, Estêvão ou Filipe, mas o Espírito Santo". Os Apóstolos, "não obstante as diferentes sensibilidades e opiniões, põem-se à escuta do Espírito. E Ele ensina algo, válido até hoje: cada tradição religiosa é útil, se facilitar o encontro com Jesus. Poderíamos dizer que a decisão histórica do primeiro Concílio, do qual também nós beneficiamos, foi movida por um princípio, o princípio do anúncio: tudo na Igreja deve conformar-se com as exigências do anúncio do Evangelho; não com as opiniões dos conservadores ou dos progressistas, mas com o facto de que Jesus alcance a vida das pessoas. Por isso, cada escolha, uso, estrutura e tradição devem ser avaliados na medida em que favorecerem o anúncio de Cristo".
E quando se encontram divisões na Igreja, por exemplo, divisões ideológicas, eu sou conservador, ou eu sou progressista, onde está o Espírito Santo? Prestem atenção, pois o Evangelho não é uma ideia, o Evangelho não é uma ideologia, o Evangelho é um anúncio que toca e muda o teu coração, mas se te refugias numa ideia, numa ideologia seja de direita, de esquerda, ou de centro, estás a fazer do Evangelho um partido político, uma ideologia, um clube de pessoas. O Evangelho dá sempre a liberdade do Espírito que age em ti e te conduz. Quanto é preciso hoje tomar a liberdade do Evangelho nas mãos e deixarmo-nos conduzir pelo Espírito.
"Assim, o Espírito lança luz sobre o caminho da Igreja. Com efeito, Ele não é apenas a luz do coração, é a luz que orienta a Igreja: esclarece, ajuda a distinguir, a discernir", frisou ainda o Papa.
Por isso, é necessário invocá-lo frequentemente; o façamos também hoje, no início da Quaresma. Pois, como Igreja, podemos ter tempos e espaços bem definidos, comunidades, institutos e movimentos bem organizados, mas sem o Espírito, tudo permanece sem alma. Não basta a organização. É o Espírito que dá vida à Igreja.
Segundo Francisco, se a Igreja não rezar, não invocar o Espírito, "fecha-se em si mesma, em debates estéreis e extenuantes, em polarizações desgastantes, enquanto a chama da missão se extingue. É muito triste ver a Igreja como se fosse um parlamento, somente. A Igreja é outra coisa. A Igreja é a comunidade de homens e mulheres que creem e anunciam Jesus Cristo movidos pelo Espírito Santo e não pelas próprias razões. Sim, se usas a razão, mas vem o Espírito a iluminá-la e a movê-la".
O Espírito "faz-nos sair, impele-nos a anunciar a fé para nos confirmarmos na fé, a ir em missão para reencontrarmos quem somos. Por isso, o Apóstolo Paulo recomenda: «Não extingais o Espírito!»", disse ainda o Papa, convidando a rezar "com frequência ao Espírito", invocá-lo, pedir-lhe "todos os dias que acenda em nós a sua luz". Façamos isso "antes de cada encontro, para nos tornarmos apóstolos de Jesus com as pessoas que encontrarmos. Não extinguir o Espírito na comunidade cristã e dentro de cada um de nós".
"Como Igreja comecemos e recomecemos do Espírito", disse ainda o Papa, convidando a perguntar a nós próprios "se nos abrimos a esta luz, se lhe damos espaço". "Invoco o Espírito? Deixo-me orientar por Ele, que me convida a não me fechar, mas a levar Jesus, a dar testemunho do primado da consolação de Deus sobre a desolação do mundo? Que Nossa Senhora que entendeu isto muito bem, nos ajude entender", concluiu Francisco.
VN
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