Provocação - Coloca-te perante ti e
pergunta-te seriamente que caminho estás a fazer neste encontro com Deus
que queres para a tua vida.
Reflexão - Terei que examinar verdadeiramente o que me motiva, o que me apaixona, a verdade da procura no meu coração.
P
- Então fá-lo sem medo, entregando-te ao Espírito Santo, para que Ele
te guie e te mostre com a verdade os passos que dás em frente e os
passos em que retrocedes.
R - Em primeiro lugar quero acreditar que me move o amor de Deus, o amor a Deus, a vontade de fazer a sua vontade.
P
- Mas porquê? Para te satisfazeres, para te sentires bem, ou por
achares que estás a fazer o que é devido para seguires Cristo?
R
- Pois, o problema está muitas vezes aí. Será que o faço para me sentir
bem, para me sentir “aconchegado” pela presença de Deus, ou então,
também, por achar que Ele precisa de mim e fica contente por eu fazer o
que faço ou querer fazer o que Ele quer?
É tão estranho reconhecer que talvez as minhas razões não sejam as melhores!
P
- Não te preocupes com isso e abre o teu coração, a tua alma. Deixa que
saia de lá aquilo que tantas vezes se calhar não tens coragem, ou mesmo
até tens vergonha perante ti próprio de admitir.
R
- E se eu olho para trás e reconheço que o meu caminho afinal está
errado, ou melhor, que o faço por motivos que não são os verdadeiros, os
mais puros?
P
- Estás aqui, não estás? A tentar abrir o teu coração e o teu ser
perante Deus e perante ti, por isso tens que reconhecer que nem tudo
pode estar errado, ou seja, que no profundo do teu coração está Deus que
te quer guiar ao seu encontro.
R
- Sim reconheço isso. Se não houvesse em mim uma ânsia de ser o que Ele
quer, com certeza não me perguntaria porque faço o caminho ou como faço
o caminho.
P - Exactamente. Então o que te incomoda?
R
- Sabes que uma das coisas que me é difícil de perceber, ou melhor de
viver, é esta “capacidade” para escrever e, por exemplo, fazer oração.
P - Porquê?
R
- Porque embora reconheça que tudo vem dEle, mesmo assim acho ou penso
que tenho algum mérito nisso e isso incomoda-me, porque queria ser
completamente liberto de tudo isso para não me ufanar, não me sentir
“especial”!
P
- Se isso te incomoda significa que dentro de ti a tua consciência te
alerta para o perigo da vã glória, e isso é bom, porque também significa
que Ele mesmo te alerta, mas te dá a mão.
R
- Mas eu não queria “deleitar-me” com elogios, com referências, com
parabéns! Queria que não os houvesse, (será que queria mesmo?), ou então
que lhes fosse completamente indiferente.
Vês esta divisão que vive em mim, que me marca. Nem sequer ter a certeza se quero ou não quero essas atitudes para comigo?
P
- Mas quando recebes esses elogios, essas referências, achas que te são
devidas? Achas que são fruto apenas de ti, do que podes ou consegues
fazer sozinho?
R - Não, claro que
não! Claro que reconheço que é Ele que faz em mim, mas de algum modo
sinto que fui "escolhido" e isso orgulha-me como se eu tivesse algum
mérito nisso.
E depois dizem-me
para me entregar, para tudo confiar, mas estas dúvidas de pureza de
intenções não me largam, parece que não me deixam libertar do meu eu, do
eu com o qual eu me parece não sei lidar.
P
- Poderás não saber lidar tão bem, mas repara que ao te permitires
reconhecer tudo isso, significa que no fundo te estás a abrir a Ele e
que Ele te vai guiando no caminho que queres caminhar.
Sabes
bem que a sua misericórdia é infinita e que Ele te conhece melhor do
que tu te conheces, por isso sempre tens a sua mão a levantar-te para
Ele.
R - Sabes, apetece-me tantas
vezes abandonar tudo! Não é abandonar Deus e o caminho que vou fazendo,
mas sim todas as coisas em que estou envolvido e ser apenas mais um
entre todos, sem intervenção pública, sem dar a cara.
Mas
quando penso nisso fico sempre apreensivo e dividido entre fazê-lo para
me libertar ou fazê-lo para me pedirem que não o faça?
E se seu estiver errado e Ele quiser que eu faça o que faço porque realmente me chamou para o fazer?
P
- Não te sei responder, mas, no entanto, digo-te que confies e te abras
a tudo o que possa acontecer. Se não te chamarem, não te imponhas. Se
não te perguntarem, não opines. Se não quiserem precisar de ti, não te
faças “necessário”. Não queiras impor a tua presença como se ela fosse
necessária. Se Ele quiser que O sirvas de qualquer modo, Ele te chamará
do modo que melhor entender e tu irás entender que é Ele que te chama.
R
- E isso não me irá “doer” se por acaso não for chamado? Não irei
criticar e julgar porque não me quiseram usar para servir? Serei capaz
de estar com alegria onde outros estiverem a fazer o que eu fazia?
P
- Tens que confiar e rezar permanentemente. Não dizes tu que é preciso
invocar sempre o Espírito Santo? Então fá-lo com todas as tuas forças e
pede-lhe para Ele te guiar e ajudar a suportar tudo aquilo que
humanamente te possa magoar, embora no fundo saibas que isso é apenas
caminho de crescimento, caminho de encontro com Deus.
Só
comungando com os outros, só alegrando-te no que os outros fazem de
bem, serás comunhão também com Deus e assim aquilo que te parecia
impossível de ultrapassar, será ultrapassado e, pelo menos em relação a
isso, alcançarás a paz.
Mas não
penses que tudo fica resolvido, porque o teu caminho de aprendizagem é
longo e difícil, e por muito terás ainda que passar. Mas anima-te porque
Ele está a moldar-te segundo a sua vontade.
Marinha Grande, 19 de Janeiro de 2023
Joaquim Mexia Alves
Sem comentários:
Enviar um comentário