31 agosto 2022

Papa: rezemos pelo fim da pena de morte no mundo

 
 
Na intenção de oração para setembro, no vídeo da Rede Mundial de Oração do Papa, o Pontífice aborda o tema da abolição da pena de morte, uma ação que "não oferece justiça às vítimas, mas encoraja a vingança", afirma ele, ao acrescentar que "a pena de morte é inadmissível". Por isso, conclama todos a rezar pelo fim dessa prática que ainda é aplicada em 55 países. 
 

Andressa Collet - Vatican News

“Cada dia mais pessoas em todo o mundo dizem não à pena de morte. Para a Igreja, isso é um sinal de esperança.”

Assim o Pontífice inicia o Vídeo do Papa de setembro que pede pelo o fim da pena de morte no mundo, uma intenção de oração que o Santo Padre confia à Igreja Católica através da Rede Mundial de Oração do Papa. Nesta edição, Francisco então indica que a rejeição a essa prática está a aumentar no mundo, o que a Igreja vê como "um sinal de esperança". De facto, de acordo com dados das Nações Unidas, cerca de 170 Estados aboliram a pena de morte, impuseram uma moratória à sua utilização na lei ou na prática, ou suspenderam as execuções durante mais de 10 anos. No entanto, a pena de morte ainda é aplicada em 55 países, em vários continentes. 

A posição da Igreja sobre a pena de morte

De João Paulo II a Bento XVI, os Pontífices pronunciaram-se fortemente contra o uso da pena de morte pelos governos nas últimas décadas. O Papa Francisco foi mais longe ao aprovar em 2018 um novo parágrafo do Catecismo condenando claramente a pena de morte e expressando o compromisso da Igreja na sua total abolição. 

"Do ponto de vista jurídico, a pena de morte já não é necessária. A sociedade pode reprimir eficazmente o crime sem privar definitivamente o infrator da possibilidade de redimir-se. Em toda condenação, deve haver sempre uma janela de esperança. A pena de morte não oferece justiça às vítimas, mas encoraja à vingança. E impede qualquer possibilidade de se desfazer um possível erro judicial. Por outro lado, moralmente a pena de morte é inadequada; ela destrói o dom mais importante que recebemos: a vida."

No vídeo deste mês, que chega num momento marcado por notícias de sentenças de morte e execuções em várias partes do mundo, o Papa faz o apelo não só aos cristãos, mas a todas as pessoas de boa vontade. 

"Não esqueçamos que, até ao último momento, uma pessoa pode converter-se e pode mudar. E, à luz do Evangelho, a pena de morte é inadmissível. O mandamento 'não matarás' refere-se tanto ao inocente como ao culpado. Apelo, pois, a todas as pessoas de boa vontade para que se mobilizem pelo fim da pena de morte em todo o mundo."

“Rezemos para que a pena de morte, que atenta contra a inviolabilidade e dignidade da pessoa, seja abolida nas leis de todos os países do mundo.”

O padre Frédéric Fornos, diretor internacional da Rede Mundial de Oração do Papa, comentou sobre esta intenção: "Este mês, o Papa Francisco convida-nos a rezar pelo fim da pena de morte, reiterando o que disse em Fratelli tutti e especificou no Catecismo da Igreja Católica: 'A Igreja está determinada a propor a sua abolição em todo o mundo. Porquê? Porque mesmo no último momento uma pessoa pode converter-se, reconhecer os seus crimes e mudar. A pena de morte, por outro lado, é como colocar-se no lugar de Deus. Com a condenação, determina-se que uma pessoa nunca será capaz de mudar, o que não sabemos'. Neste mês de setembro, o Papa convida-nos a rezar e a nos mobilizarmos para apoiar as associações e organizações que lutam pelo fim da pena de morte".

VN

SER IGREJA?


 
 
A Missa tinha acabado, mas ele ficou mais um pouco sentado na igreja a pensar.

Era estranho, pensou ele, ver que muita gente que ali vinha ao Domingo para a Missa, (ele incluído), não se cumprimentavam quando chegavam, nem com um simples sorriso, a não ser aqueles que nitidamente se conheciam no dia a dia.
E era estranho, porque dizendo-se filhos de Deus, então eram todos família e as famílias quando se reúnem cumprimentam-se, até efusivamente, quanto mais não seja porque é bom estarmos juntos.

Afinal, como se ensina, a Igreja são os filhos de Deus reunidos em assembleia e, então, todos os que ali estiveram são Igreja, filhos do mesmo Pai, irmãos em Cristo, templos do Espírito Santo.
Até têm todos a mesma Mãe, que nos foi dada por seu Filho Jesus Cristo.
Então não se deveriam cumprimentar em alegria quando se reúnem?
Tudo leva a crer, pelo que está escrito, que assim era nos primeiros tempos.

Outra coisa que lhe despertou a atenção foi o momento da consagração e o momento da comunhão.
Obviamente que não são momentos de bater palmas, de rir ruidosamente, de dar vivas, sequer de fazer barulho, mas deveriam ser pelo menos momentos de grande união, momentos de grande felicidade exposta nos rostos, momentos realmente muito vividos e, apesar de em muitos assim acontecer, parecia-lhe que também muitos viviam aqueles momentos como um qualquer outro momento, ou seja, como uma rotina quase indiferente.

Veio-lhe à cabeça a imagem de um estádio de futebol cheio de gente e como os adeptos de cada equipa vibravam com o jogo.
Na altura do golo todos os da mesma equipa saltavam, gritavam, alegravam-se e até se abraçavam, mesmo aqueles que não se conheciam pessoalmente mas que se identificavam como sendo da mesma equipa.
Pareciam todos irmanados na mesma alegria!
É curioso, pensou ele, que todos eles se alegram porque um jogador mete um golo e vivem-no como se fosse de cada um, mas afinal o golo é do jogador que o meteu.

Mas a verdade é que na Missa, sendo todos celebrantes, todos “metem golo” e por isso todos são de Cristo e Cristo é de todos!
Sorriu interiormente pensando que há “equipa de Deus” lhe faltava aquele “entrosamento”, para usar termos futebolísticos!

Havia tanto para pensar, mas quedou-se nos momentos finais da celebração.
Alguns nem sequer esperavam pela bênção final e uma maioria saía apressadamente como se tivessem algo mais importante para fazer.
E mais uma vez, nem um cumprimento, nem um sorriso, a não ser aqueles que já se conheciam.
Parecia que tudo tinha acabado e que a celebração não tinha deixado “marcas”, fossem elas quais fossem.

Inevitavelmente veio outra vez ao seu pensamento o jogo de futebol e era fácil de perceber que os adeptos da equipa vencedora não queriam arredar pé do estádio, festejando a vitória, e mesmo de saída, riam, davam vivas e até colocavam os braços por cima uns dos outros, saboreando a vitória o máximo tempo possível.
Haviam de chegar a casa, ao café ou ao bar e haviam de contar entusiasmados a outros o desenrolar do jogo e a vitória tão saborosa que tinham vivido.

Lembrou-se, mais uma vez com um sorriso, que os clubes guardam as taças que ganham lá nas sedes dos clubes e, no fundo, essas taças pertencem ao clube e não aos sócios.

Mas em Igreja e sendo Igreja a “Taça” é de todos e todos “A” transportam com eles em cada momento!

Que bom seria, pensou ele, a começar por si próprio, se todos os outros pudessem perceber que cada membro da Igreja traz Cristo consigo, e, por isso mesmo, dá testemunho da alegria de O ter e conta entusiasmado a todos, (com a devida sensatez), como é saboroso, (para usar termos de Salmos), e bom, comungar Cristo e vivê-lO no dia a dia.

Como seria fantástico deixarmo-nos entusiasmar por Deus e assim unidos em Igreja sermos realmente filhos de Deus que se unem, se conhecem, se ajudam e se amam mutuamente.

Já se fazia tarde e a igreja estava vazia, por isso ajoelhou-se frente ao sacrário e disse numa oração:
Fica comigo, Senhor, porque afinal ser Igreja não é nada fácil, mas é muito bom!!!



Marinha Grande, 31 de Agosto de 2022
Joaquim Mexia Alves

 

30 agosto 2022

Papa aos irmãos cardeais: saibam maravilhar-se com a missão de estar e de ser Igreja

 

 O Papa Francisco na Missa com os Cardeais na Basílica de S. Pedro, 30.08.2022 

 

Na missa que reuniu os 20 novos cardeais e o Colégio Cardinalício na Basílica de São Pedro no final da tarde desta terça-feira (30), Francisco refletiu sobre a importância de uma dupla admiração: "de estar na Igreja, de ser Igreja! E é isto que torna atraente a comunidade dos crentes, primeiro para si e depois para todos: o duplo mistério de ser abençoado em Cristo e ir com Cristo ao mundo".

 

Andressa Collet - Vatican News

A Capela Papal da Basílica de São Pedro recebeu os novos cardeais e o Colégio Cardinalício para uma celebração eucarística presidida pelo Papa Francisco. A missa concluiu um encontro de dois dias à portas fechadas no Vaticano, entre o Pontífice e os poucos menos de 200 cardeais, que aprofundou a Praedicate Evangelium, a Constituição Apostólica em vigor desde 5 de junho que reformou a Cúria Romana. 

A dupla admiração

A homilia proferida pelo Papa refletiu sobre uma dupla admiração: a de Paulo perante o desígnio de salvação de Deus (cf. Ef 1, 3-14) e a dos discípulos, incluindo o próprio Mateus, no encontro com Jesus ressuscitado, que os enviou em missão (cf. Mt 28, 16-20). Dois territórios, disse Francisco, de estar em Cristo e com Cristo, "onde sopra forte o vento do Espírito Santo" e de onde brota o encorajamento para que os cardeais saibam "maravilharem-se com o desígnio de Deus", amando "apaixonadamente a Igreja", prontos a servir em missão a todos os povos, assim como foi para São Paulo Apóstolo.

Uma missão que seja sempre acompanhada desta grata admiração pela história da salvação, através do "louvor, bênção, adoração e gratidão que reconhece a obra de Deus". Uma admiração que também pode ser experimentada de outra forma, recordou o Papa:

"Desta vez, não é o próprio plano de salvação que nos encanta, mas o facto – ainda mais surpreendente – de que Deus nos envolve no seu plano: é a realidade da missão dos apóstolos com Cristo ressuscitado."

Admiração é caminho de salvação

Os "onze discípulos" ouviram as palavras do Senhor para seguir evangelizando o mundo com a promessa final de "esperança e consolação: 'Eu estarei convosco todos os dias, até ao final dos tempos' (v. 20). Estas palavras do Ressuscitado ainda têm força para fazer vibrar os nossos corações, dois mil anos depois", disse o Pontífice. Uma admiração que não é diferente daquela vivida pelos cardeais reunidos hoje com o Papa:

"Irmãos, esta admiração é um caminho de salvação! Que Deus a mantenha sempre viva em nós, porque nos liberta da tentação de nos sentirmos 'à altura', de nutrir a falsa segurança de que hoje, na realidade, é diferente, não é mais como era no início, hoje a Igreja é grande, é sólida, e situamo-nos nos graus eminentes da sua hierarquia... Sim, há alguma verdade nisso, mas também há tanto engano, com que o Mentiroso tenta mundanizar os seguidores de Cristo e torná-los inofensivos."

Em Cristo e com Cristo

O Papa conduziu a homilia especialmente aos 20 novos cardeais criados no oitavo Consistório do seu pontificado, entre os quais, o arcebispo de Brasília, dom Paulo Cezar Costa, e o arcebispo de Manaus, dom Leonardo Steiner. E, também, aos quatro países pela primeira vez representados - Mongólia, Paraguai, Cingapura e Timor Leste - ao concluir:

"A Palavra de Deus hoje desperta em nós admiração de estar na Igreja, de ser Igreja! E é isto que torna atraente a comunidade dos crentes, primeiro para si e depois para todos: o duplo mistério de ser abençoado em Cristo e ir com Cristo ao mundo. Esta admiração não diminui em nós com o passar dos anos, nem diminui com o crescimento das nossas responsabilidades na Igreja. Graças a Deus não. Fortalece-se, torna-se mais profunda. Estou certo de que é assim também para vós, queridos Irmãos, que entram a fazer parte do Colégio Cardinalício."

VN

28 agosto 2022

O Papa no Perdão Celestino: humildade e mansidão para testemunhar a misericórdia

 

 

“Todos podemos experimentar um ‘terremoto da alma’, que nos coloca em contacto com a própria fragilidade, limitações e miséria. Nestas circunstâncias, pode-se aprender a mansidão, que junto com a humildade levam a guardar e testemunhar a misericórdia”. Palavras do Papa Francisco na homilia deste domingo (28) na cidade de L’Aquila por ocasião do “Perdão Celestino”
 

Jane Nogara - Vatican News

Na Basílica de Collemaggio em L’Aquila, o Papa Francisco presidiu à Santa Missa na segunda etapa da sua visita pastoral neste domingo, 28 de agosto. Ao falar aos fiéis na sua homilia o Papa inicio, recordando que os Santos são uma fascinante explicação do Evangelho. Pois as suas vidas, disse Francisco, são o ponto privilegiado a partir do qual podemos vislumbrar a boa nova que Jesus veio proclamar, ou seja, que Deus é nosso Pai e todos somos amados por Ele. Este é o coração do Evangelho, e Jesus é a prova deste Amor, da sua encarnação, do seu rosto.

A grandeza de Celestino V

“Hoje celebramos a Eucaristia num dia especial para esta cidade e esta Igreja: o Perdão Celestino”. Lembramos erroneamente a figura de Celestino V como "aquele que fez a grande recusa", segundo a expressão de Dante na Divina Comédia; mas Celestino V não era o homem do "não", ele era o homem do "sim". “De facto”, explica ainda Francisco, “não há outra maneira de realizar a vontade de Deus a não ser assumindo a força dos humildes”.

A força dos humildes

“A humildade”, disse, “não consiste em nos desvalorizarmos, mas naquele realismo saudável que nos faz reconhecer o nosso potencial e também as nossas misérias. Partindo precisamente das nossas misérias, a humildade faz-nos desviar o olhar de nós mesmos e voltar o nosso olhar para Deus, Aquele que pode fazer tudo e também obtém para nós o que não podemos ter por nós mesmos”.

“A força dos humildes é o Senhor, não as estratégias, os meios humanos, as lógicas deste mundo”

“Neste sentido”, pondera o Papa, “Celestino V foi uma corajosa testemunha do Evangelho, porque nenhuma lógica de poder poderia prendê-lo e administrá-lo. Nele admiramos uma Igreja livre das lógicas do mundo e testemunhamos plenamente o nome de Deus que é a Misericórdia.

A misericórdia

Há muitos século que L’Aquila, mantém vivo o dom que o próprio Papa Celestino V lhe deixou. “É o privilégio de lembrar a todos que com a misericórdia, e somente com a misericórdia, a vida de cada homem e de cada mulher pode ser vivida com alegria”.

“Misericórdia é a experiência de nos sentirmos acolhidos, restaurados, fortalecidos, curados, encorajados. Ser perdoado é experimentar aqui e agora o que mais se aproxima da ressurreição. O perdão vai da morte à vida, da experiência da angústia e da culpa à da liberdade e da alegria”

Compreender a dor dos outros

Falando aos presentes que sofreram por causa do terremoto de 2009, Francisco recordou que “aqueles que sofreram devem ser capazes de valorizar o seu próprio sofrimento, devem compreender que na escuridão que viveram, também lhes foi dado o dom de compreender a dor dos outros”. Recordando aos presentes:

“Vocês podem cuidar da misericórdia porque sofreram a experiência da miséria”

Refletindo que “todos na vida, sem necessariamente experimentar um terremoto, podem, por assim dizer, experimentar um ‘terremoto da alma’, que os coloca em contacto com a sua própria fragilidade, as suas próprias limitações, a sua própria miséria”. “Nesta experiência", disse, "pode-se perder tudo, mas também se pode aprender a verdadeira humildade. Nestas circunstâncias, a pessoa pode deixar-se enfurecer pela vida, ou pode aprender a mansidão”.

“Humildade e mansidão, portanto, são as características de alguém cuja tarefa é guardar e testemunhar a misericórdia”

Servir e não ser servido

Por fim o Papa recordou a todos os presentes:

O cristão sabe que a sua vida não é uma carreira à maneira deste mundo, mas uma carreira à maneira de Cristo, que dirá de si mesmo, que veio para servir e não para ser servido (cf. Mc 10, 45). Enquanto não compreendermos que a revolução do Evangelho reside neste tipo de liberdade, continuaremos a testemunhar guerras, violência e injustiça, que nada mais são do que o sintoma externo de uma falta de liberdade interior. Onde não há liberdade interior, egoísmo, individualismo, sobrepõem-se interesse próprio e opressão".

VN

24 agosto 2022

Papa Francisco: a guerra é uma loucura de todos os lados

 
  Guerra na Ucrânia  
 
O Papa Francisco na audiência geral desta quarta-feira recordou os seis meses de guerra na Ucrânia: "Penso em tanta crueldade, tantos inocentes que estão a pagar a loucura, a loucura de todos os lados porque a guerra é uma loucura e ninguém na guerra pode dizer: "não, eu não sou louco". A loucura da guerra".
 

Silvonei José - Vatican News

“Renovo o meu convite para implorar a paz do Senhor para o amado povo ucraniano que sofre o horror da guerra há seis meses”: palavras do Papa Francisco na conclusão da Audiência geral desta quarta-feira na Sala Paulo VI, no Vaticano. O Santo Padre fez votos de que sejam tomadas medidas concretas para acabar com a guerra e evitar o risco de um desastre nuclear em Zaporizhzhia.

Trago no meu coração os prisioneiros, especialmente aqueles em condições frágeis, e peço às autoridades responsáveis que trabalhem para a sua libertação e penso nas crianças, tantos mortos, tantos refugiados, temos aqui, são tantos, tantos feridos, tantas crianças ucranianas e crianças russas que se tornaram órfãs e a orfandade não tem nacionalidade, perderam o pai ou a mãe, sejam russos, sejam ucranianos.

 

 O Papa Francisco durante a Audiência geral 

 

Francisco fala de tanta crueldade:

Penso em tanta crueldade, tantos inocentes que estão a pagar a loucura, a loucura de todos os lados porque a guerra é uma loucura e ninguém na guerra pode dizer: "não, eu não sou louco". A loucura da guerra.

O Papa dirigiu o seu pensamento àquela pobre jovem que voou pelos ares devido a uma bomba colocada debaixo do assento do seu carro, em Moscovo. Os inocentes pagam pela guerra. Os inocentes.

Pensemos nesta realidade e digamos uns aos outros: a guerra é uma loucura. E aqueles que beneficiam tanto da guerra como do comércio de armas são criminosos, que matam a humanidade.

O pensamento de Francisco foi também para outros países que estão em guerra, como a Síria, há mais de 10 anos: “pensemos na guerra no Iemen, onde tantas crianças passam fome, pensemos nos Rohingya que viajam pelo mundo devido à injustiça de serem expulsos das suas terras”, disse o Papa.

Mas hoje, de maneira especial, seis meses desde o início da guerra, pensemos na Ucrânia e na Rússia, ambos os países que consagrei ao Imaculado Coração de Maria, que ela, Mãe, olhe para esses dois países amados, olhe para a Ucrânia, olhe para a Rússia, e que Ela nos traga a paz! Precisamos de paz!

 

  Sala Paulo VI  

VN

23 agosto 2022

Francisco, ao serviço da paz

 

  O Papa Francisco em oração   (Vatican Media)  

 
Seis meses de guerra na Ucrânia, seis meses de apelos constantes em que Francisco, num momento em que a "lógica diabólica e perversa" das armas parece prevalecer, implorou para evitar a catástrofe e promover a fraternidade humana.
 

Paolo Ondarza - Cidade do Vaticano

Quem faz a guerra esquece a humanidade. Em seis meses de conflito na Ucrânia, foram incessantes os apelos do Papa Francisco pela paz e para esconjurar o risco de uma catástrofe global.

Uma derrota para todos

O Pontífice não perdeu a oportunidade de recordar ao mundo, com um olhar que ultrapassa a contingência das fronteiras geográficas onde se combate, que "toda guerra representa uma derrota para todos" (Angelus, 27 de março de 2022), exortando a inverter a perspetiva e, portanto, "derrotar a guerra" (Audiência Geral, 23 de março de 2022).

“A nossa imaginação - disse ele - parece cada vez mais centrada na representação de uma catástrofe final que nos extinguirá. O que acontece com uma eventual guerra atómica." (Audiência Geral 16 de março de 2022).

"Que diante do perigo de autodestruição, a humanidade compreenda que chegou a hora de aboli-la", repudiá-la, "apagá-la da história humana antes que seja ela quem apague o homem da história". "Que tipo de vitória - perguntou - será aquela que coloca uma bandeira sobre uma pilha de escombros?" (Angelus 10 de abril de 2022). "Que o Espírito do Senhor nos liberte a todos dessa necessidade de autodestruição".

Um ato sacrílego

A guerra é, de facto, um insensato "lugar de morte onde pais e mães enterram os seus filhos, onde os homens matam os seus irmãos sem sequer os terem visto, onde os poderosos decidem e os pobres morrem". É uma loucura que não tem justificativa - observou pensando nas muitas crianças deslocadas desde o início do conflito - “devasta não só o presente, mas também o futuro de uma sociedade. Significa destruir o futuro, provocar traumas dramáticos nos menores e mais inocentes entre nós”. Um ato bárbaro, bestial, repugnante e sacrílego: isto é, contrário à "sacralidade da vida humana, especialmente a vida humana indefesa, que deve ser respeitada e protegida, não eliminada, e que vem antes de qualquer estratégia!" (Angelus 20 de março de 2022)

O sonho e o pesadelo

“De facto, Deus é apenas o Deus da paz, não da guerra” e “fica com os artífices de paz” (Angelus 27 de fevereiro de 2022), continua a reiterar Francisco: “quem apoia a violência profana o seu nome” (Angelus 13 de março de 2022), nega o “sonho de Deus para a humanidade que se realizou no Pentecostes, dia em que povos de diferentes línguas se encontram e se entendem. Pelo contrário, a guerra é “um pesadelo” em que “os povos se chocam, se matam e as pessoas”, em vez de se aproximarem, são expulsas das suas casas” (Regina Coeli - 5 de junho de 2022).

Nunca acostumarmo-nos com a guerra

Com os seus pensamentos voltados para além da Europa, aos conflitos esquecidos na Síria, Iêmen ou Mianmar, para mencionar apenas alguns elementos desta “terceira guerra mundial em pedaços”, o Pontífice lembrou-nos repetidamente, a nunca considerar nenhum conflito armado como inevitável.

Na verdade, é preciso opormo-nos com toda força ao risco de nos acostumarmos, ou mesmo esquecer a “trágica realidade do que está a acontecer na Ucrânia, ou noutros lugares, como se fosse uma coisa distante e “arrefecer o coração”: "a indignação de hoje - foi a exortação -, deve ser convertida "no compromisso de amanhã. Porque, se sairmos desta história como antes, todos seremos culpados de alguma forma”.

Filhos de um mesmo Pai

"O Pai de todos, não só de alguém", de facto, "quer-nos irmãos e não inimigos". A guerra, em vez disso, lembra "o espírito de Caim" que matou o  seu irmão Abel. "A humanidade é teimosa", repete os erros e horrores do passado, observou o Pontífice: "Somos apaixonados pelas guerras, pelo espírito de Caim, pela matança, em vez do espírito de paz". (Conferência de imprensa no retorno de Malta - 3 de abril de 2022).

“Quem persegue os seus próprios propósitos em detrimento dos outros - disse o Bispo de Roma algumas semanas antes do início do conflito, convidando-os para um dia de oração pela paz em 26 de janeiro de 2022 - despreza a sua própria vocação de homem, porque todos fomos criados irmãos” (Angelus 23 de janeiro de 2022).

Oração incessante

Mesmo antes do recrudescimento da violência, quando as forças armadas da Federação Russa invadiram o território ucraniano, Francisco pediu incessantemente uma inversão de rota, indicando no ensinamento de Jesus a resposta à insensatez diabólica da violência (Audiência Geral 23 de fevereiro de 2022).

Na Quarta-feira de Cinzas, 2 de março, abriu a Quaresma com o jejum e a oração pela paz na Ucrânia, convidando todos a não desviar o olhar e esperar do Deus da reconciliação com a intercessão de Maria, Rainha da Paz: "Não deixemos de rezar, ou melhor, rezemos com mais intensidade!" para que "o Senhor abra caminhos de diálogo que os homens não querem ou não conseguem encontrar", admoestou na convicção de que "a paz no mundo começa sempre com a nossa conversão pessoal, no seguimento de Cristo" (Audiência Geral 2 de março de 2022 ).

Consagrados à Rainha da Paz

Ao Imaculado Coração de Maria, no dia 25 de março, dia da Anunciação, Francisco consagrou toda a humanidade, especialmente a Rússia e a Ucrânia, implorando a harmonia duradoura entre as nações sob o manto da Mãe comum: "Livra-nos da guerra, preserva o mundo da ameaça nuclear”. “Por favor, continuem a rezar o Rosário pela paz todos os dias. E rezemos pelos líderes das nações, para que não percam 'o faro das pessoas', que querem a paz e sabem bem que as armas nunca a trazem” (Regina Coeli - 8 de maio de 2022).

O risco de uma ruína

Com dor no coração diante de cenários cada vez mais alarmantes, o Pontífice exortou os líderes políticos a um "sério exame de consciência diante de Deus": "Peço a todas as partes envolvidas que se abstenham de qualquer ação que cause ainda mais sofrimento às populações, desestabilizando a convivência entre as nações e desacreditando o direito internacional”.

Constatando a impotência da Organização das Nações Unidas (Audiência Geral de 6 de abril de 2022) e na convicção de que "cada dia de guerra piora a situação para todos", pediu que "aos interesses de parte sejam antepostas iniciativas políticas e ações ao serviço da fraternidade humana, com um premente apelo: "Não levem a humanidade à ruína, por favor!"

"Um "diálogo sério" é de facto, segundo o Bispo de Roma, a única solução e "as armas não são o caminho". Nunca! (Angelus 12 de dezembro de 2021): "Caso se olhar para a realidade com objetividade, considerando os danos que cada dia de guerra traz para aquela população, mas também para o mundo inteiro, a única coisa razoável seria parar e negociar" (Angelus 31 de julho de 2022).

A lógica diabólica das armas

Daí o alerta: “Negociações reais e concretas sejam postas em prática para um cessar-fogo e uma solução sustentável. Seja ouvido o grito desesperado do povo sofredor, pare a destruição macabra de cidades e povoados”.

De facto, a guerra nunca está do lado do homem: "não olha para a vida concreta das pessoas, mas coloca na frente de tudo interesses de parte e poder. Confia-se à lógica diabólica e perversa das armas, que é a mais distante da vontade de Deus. E distancia-se das pessoas comuns, que querem a paz; e que em cada conflito são a verdadeira vítima, que paga na própria pele as loucuras da guerra”.

Negociação e bem comum

Toda a crise pode torna-se uma oportunidade antes que seja tarde demais e a ucraniana, segundo o Pontífice, “ainda pode tornar-se um desafio para sábios estadistas, capazes de construir um mundo melhor no diálogo para as novas gerações. Com a ajuda de Deus, isto é sempre possível! Mas é preciso passar das estratégias de poder político, económico e militar para um projeto de paz global: não a um mundo dividido entre potências em conflito; sim a um mundo unido entre povos e civilizações que se respeitem" (Angelus 3 de julho de 2022).

Ao lado das vítimas

Constante o apelo para favorecer a abertura de corredores humanitários seguros e implementar ações de ajuda à população martirizada pelas bombas, daqueles que, a apenas três mil quilometros de Roma, estão "no martírio" e fogem da violência, especialmente crianças e idosos, vítimas indefesas da soberba e do egoísmo.

Com a mesma preocupação, Francisco nunca deixou de agradecer a tantos homens e mulheres de boa vontade que desde o primeiro momento abriram as portas aos refugiados nos quais, recordou, Cristo está presente: "Não nos cansemos de acolher generosamente, como se estáa fazer: não só agora, na emergência, mas também nas próximas semanas e meses”. “Pensemos nessas mulheres, nessas crianças que com o tempo, sem trabalho, separadas dos seus maridos, serão procuradas pelos “abutres” da sociedade. Vamos protegê-las, por favor”.

Ao serviço da paz

Esperança, angústia e preocupação são os sentimentos que o Pontífice confidenciou para compartilhar com cada pessoa desde fevereiro passado. Nunca foi apenas o olhar solidário e solidário de um espetador: desde o primeiro momento ele se aproximou daqueles que todos os dias correm o risco de serem vítimas da ferocidade da guerra e tentou de todas as maneiras chegar ao coração daqueles que ainda podem inverter a rota.

Logo no início visitou o embaixador na Embaixada russa junto à Santa Sé; teve conversas telefônicas com o presidente ucraniano Zelensky; agradeceu reiteradamente aos jornalistas que, enviados ao campo para garantir a informação, colocaram as suas vidas em risco; encorajou e congratulou-se com a recente saída dos portos ucranianos dos primeiros navios carregados de grãos como um sinal de esperança.

Uma solicitude que se expressou no compromisso ativo da Santa Sé, de trabalhar sem reservas para se colocar ao serviço da paz, com o envio à Ucrânia em março passado dos cardeais Krajewski e Czerny, respetivamente Esmoler e Prefeito do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral, e em maio, do arcebispo Paul Richard Gallagher, secretário para as Relações com os Estados.

O bispo de Roma nunca o escondeu: no fundo cultiva o forte desejo de "abrir uma porta", de ir às áreas afetadas pelo conflito, primeiro a Moscovo e depois a Kiev: "está na mesa", "eu gostaria de ir lá". “Para servir a causa da paz”.

VN

21 agosto 2022

Apelo do Papa pela Nicarágua: que o diálogo seja a base de uma convivência pacífica

 
Nicarágua: solidariedade e oração das Igrejas dos continentes à comunidade católica  (AFP or licensors)
 
O Papa acompanha "de perto com preocupação e tristeza a situação que se criou na Nicarágua, que envolve pessoas e instituições".

Mariangela Jaguraba - Vatican News

Após a oração mariana do Angelus deste domingo (21/08), o Papa Francisco fez o seguinte apelo:

Acompanho de perto com preocupação e tristeza a situação que se criou na Nicarágua, que envolve pessoas e instituições. Gostaria de expressar a minha convicção e a minha esperança de que, por intermédio de um diálogo aberto e sincero, se possa encontrar as bases para uma convivência respeitosa e pacífica. Peçamos ao Senhor, por intercessão da Puríssima, para que inspire esta vontade concreta no coração de todos.

A seguir, Francisco saudou os romanos e peregrinos de vários partes da Itália e demais países, famílias, grupos paroquiais e associações. Em particular, saudou a comunidade do Pontifício Colégio Norte-Americano, especialmente os novos seminaristas recém-chegados, e exortou-os "ao compromisso espiritual e à fidelidade ao Evangelho e à Igreja". Saudou as consagradas da Ordo virginum e encorajou-as "a testemunhar alegremente o amor de Cristo". Saudou também os jovens do Caminho da Via Lucis que, seguindo o exemplo dos Santos da "porta ao lado", encontrarão os pobres que vivem nas estações ferroviárias.

VN

O Papa: a porta estreita de Jesus torna-nos capazes de acolher a verdadeira vida

 

 O Papa Francisco no Angelus deste Domingo 

"A medida é Jesus e o seu Evangelho: não o que pensamos, mas o que Ele nos diz. Portanto, trata-se de uma porta estreita não porque seja destinada a poucos, mas porque ser de Jesus significa segui-lo, comprometer a vida no amor, no serviço e no dom de nós como Ele fez, que passou pela porta estreita da cruz", disse Francisco no Angelus deste domingo.

Mariangela Jaguraba - Vatican News

O Papa Francisco rezou a oração mariana do Angelus, deste domingo (21/08), com os fiéis e peregrinos reunidos na Praça São Pedro.

Na alocução que precedeu a oração, o Pontífice recordou a passagem do Evangelho de Lucas da liturgia deste domingo, em que alguém pergunta a Jesus: "São poucos aqueles que se salvam?". E o Senhor responde: "Façam todo o esforço possível para entrar pela porta estreita".

Segundo o Papa, "a porta estreita é uma imagem que poderia assustar-nos, como se a salvação fosse destinada apenas a poucos eleitos ou aos perfeitos. Mas isto contradiz o que Jesus ensinou em muitas ocasiões; e de facto, um pouco mais adiante, Ele afirma: "Muita gente virá do oriente e do ocidente, do norte e do sul, e tomarão lugar à mesa no Reino de Deus.". Portanto, essa porta é estreita, mas está aberta para todos! Não se esqueçam disto: a todos! A porta está aberta para todos!"

"Para entender melhor, é preciso interrogarmo-nos sobre o que é essa porta estreita. Jesus pega na imagem da vida daquela época e provavelmente refere-se ao facto de que, ao cair da noite, as portas da cidade eram fechadas e apenas uma, menor e mais estreita, permanecia aberta: para voltar para casa só se podia passar por ali", sublinhou Francisco.

A seguir, o Papa convidou a pensar no que Jesus diz: "Eu sou a porta: Quem entra por mim, será salvo".

Significa que para entrar na vida de Deus, na salvação, é preciso passar por Ele, não por outro, por Ele, acolhè-Lo e a sua palavra. Assim como para entrar na cidade era preciso "medir-se" com a única porta estreita que permanecia aberta, a do cristão é uma vida " à medida de Cristo", fundada e modelada Nele. Significa que a medida é Jesus e o seu Evangelho: não o que pensamos, mas o que Ele nos diz. Portanto, trata-se de uma porta estreita não porque seja destinada a poucos, mas porque ser de Jesus significa segui-lo, comprometer a vida no amor, no serviço e no dom de nós mesmos como Ele fez, que passou pela porta estreita da cruz.

Segundo o Papa, "entrar no projeto de vida que Deus nos propõe requer restringir o espaço do egoísmo, reduzir a presunção de autossuficiência, baixar a estatura da soberba e do orgulho, vencer a preguiça para atravessar o risco do amor, mesmo quando envolve a cruz".

Pensemos concretamente nos gestos de amor diários que realizamos com dificuldade: nos pais que se dedicam aos filhos fazendo sacrifícios e abrindo mão do tempo para si mesmos; nos que cuidam dos outros e não apenas dos próprios interesses, quantas pessoas são assim, boas; nos que se dedicam ao serviço dos idosos, dos mais pobres e dos mais frágeis; nos que trabalham com afinco, suportando dificuldades e talvez incompreensões; nos que sofrem por causa da fé, mas continuam a rezar e amando; nos que, em vez de seguir os seus instintos, respondem ao mal com o bem, encontram a força para perdoar e a coragem para recomeçar.

Estes "são alguns exemplos de pessoas que não escolhem a porta larga do seu próprio conforto, mas a porta estreita de Jesus, de uma vida passada no amor. Estes, diz hoje o Senhor, serão reconhecidos pelo Pai muito mais do que aqueles que acreditam que já foram salvos e, na realidade, são "trabalhadores da injustiça", disse ainda Francisco.

"Irmãos e irmãs, de que lado queremos estar? Preferimos o caminho fácil de pensar apenas em nós mesmos ou da porta estreita do Evangelho, que coloca em crise o nosso egoísmo, mas nos torna capazes de acolher a verdadeira vida que vem de Deus e nos torna felizes? De que lado estamos?", perguntou o Papa, pedindo para que "Nossa Senhora, que seguiu Jesus até à cruz, nos ajude a medira nossa vida Nele, para entrar na vida plena e eterna".

VN

17 agosto 2022

Papa: a aliança das pessoas idosas e das crianças salvará a família humana

 
  Papa Francisco com uma criança na Audiência geral  
 
"Dar testemunho de fé diante de uma criança é semear aquela vida, dar testemunho de humanidade e de fé é a vocação dos idosos. Dar às crianças a realidade que viveram como testemunho, dar o testemunho. Nós, velhos, somos chamados a isso, a dar testemunho, para que elas o levem em frente." Sabedoria, idosos com o seu testemunho credível às crianças, às quais não se deve desmiticar a imagem de um Deus com cabelos brancos, que não é um símbolo bobo, mas uma imagem bíblica, nobre e terna.
 

Vatican News

“O testemunho dos idosos é credível para as crianças: os jovens e os adultos não são capazes de torná-lo tão autêntico, tão terno, tão pungente, como os idosos podem.”

São as últimas catequeses sobre a velhice, como anunciado pelo Papa na Audiência Geral da última quarta-feira. E na de hoje, Francisco de uma forma quase poética falou desta aliança entre os idosos e as crianças, aliança esta que salvará a família humana.

A sua inspiração baseia-se nas palavras do sonho profético de Daniel que evocam uma visão de Deus misteriosa e ao mesmo tempo esplêndida, e que são retomadas no Livro do Apocalipse e referem-se a Jesus Ressuscitado, que aparece ao Vidente como Messias, Sacerdote e Rei, eterno, omnisciente e imutável e diz-lhe: "Não temas! Eu sou o Primeiro e o Último, e o que vive. Pois estive morto, e eis-me de novo vivo pelos séculos dos séculos. " Assim – disse o Papa - a última barreira de temor e angústia que a teofania sempre despertou, desaparece: o que vive tranquiliza-nos:

Neste entrelaçamento de símbolos há um aspeto que talvez nos ajude a entender melhor a ligação desta teofania com o ciclo da vida, o tempo da história, o senhorio de Deus sobre o mundo criado. E este aspeto tem a ver precisamente com a velhice.

 

 Sala Paulo VI - Audiência geral 

De facto, explicou, "a visão transmite uma impressão de vigor e força, nobreza, beleza e encanto. O vestido, os olhos, a voz, os pés, tudo é esplêndido. Os seus cabelos, porém, são cândidos: como a lã, como a neve. Como os de um idoso".

O termo bíblico mais comum para indicar ancião – acrescentou - é "zaqen": de "zaqan", que significa "barba":

O cabelo branco é o símbolo antigo de um tempo muito longo, de um passado imemorável, de uma existência eterna. Não devemos desmitificar tudo para as crianças: a imagem de um Deus idoso com cabelos brancos não é um símbolo bobo, é uma imagem bíblica, nobre e também terna. A figura que no Apocalipse está entre os castiçais de ouro sobrepõe-se à do "Antigo dos dias" da profecia de Daniel. É velho quanto toda a humanidade, e ainda mais. É antigo e novo como a eternidade de Deus.

O Santo Padre recorda que nas Igrejas Orientais, a festa da Apresentação do Senhor, celebrada em 2 de fevereiro, é uma das doze grandes festas do ano litúrgico. Ela destaca o encontro entre a humanidade, representada pelos idosos Simeão e Ana, com Cristo, o Senhor, o Filho eterno de Deus feito homem. "Um belo ícone dele pode ser admirado em Roma nos mosaicos de Santa Maria in Trastevere".

Na liturgia bizantina, o bispo reza com Simeão: 'Este é Aquele que nasceu da Virgem: é o Verbo, Deus de Deus, Aquele que se fez carne para nós e salvou o homem'. E continua: "Que se abra hoje a porta do céu: o Verbo eterno do Pai, tendo assumido um princípio temporal, sem deixar a sua divindade, é apresento por sua vontade ao templo da Lei pela Virgem Mãe, e o ancião o toma nos seus braços".

 Sala Paulo VI - Audiência geral 

O Papa recorda ainda as palavras que o bispo reza com Simeão na liturgia bizantina, palavras que expressam a profissão de fé dos quatro primeiros Concílios Ecuménicos, que são sagrados para todas as Igrejas. Mas – acrescentou - "o gesto de Simeão é também o mais belo ícone da especial vocação da velhice: apresentar as crianças que vêm ao mundo como um dom ininterrupto de Deus, sabendo que uma delas é o Filho gerado na intimidade mesma de Deus, antes de todos os séculos":

Assim, a velhice, encaminhada em direção de um mundo no qual finalmente poderá irradiar-se, sem obstáculos, o amor que Deus colocou na Criação, deve realizar este gesto de Simeão e de Ana, antes de partir:

A velhice deve dar testemunho - para mim este é o cerne, o mais central da velhice - a velhice deve dar testemunho às crianças da sua bênção: ela consiste na sua iniciação - bela e difícil - ao mistério de um destino à vida que ninguém pode aniquilar. Nem mesmo a morte. Dar testemunho de fé diante de uma criança é semear aquela vida, dar testemunho de humanidade e de fé é a vocação dos idosos. Dar às crianças a realidade que viveram como testemunho, dar o testemunho. Nós, velhos, somos chamados a isso, a dar testemunho, para que elas o levem em frente.

 

 Sala Paulo VI - Audiência geral 

E o testemunho dos idosos – salientou - é credível para as crianças: "os jovens e os adultos não são capazes de torná-lo tão autêntico, tão terno, tão pungente, como os idosos podem":

Quando a pessoa idosa abençoa a vida que lhe vem ao encontro, deixando de lado todo o ressentimento pela vida que está a partir, é irresistível.  Não é amargurado porque o tempo passa e ele está por partir, não. É com aquela alegria do bom vinho, do vinho que ficou bom com os anos. O testemunho dos idosos une as idades da vida e as próprias dimensões do tempo: passado, presente e futuro, porque eles não são a memória, são o presente e também a promessa. É doloroso - e prejudicial - ver que as idades da vida são concebidas como mundos separados, em competição entre elas, cada um tentando viver à custa do outro. E isto não está certo. A humanidade é antiga, muito antiga, se olharmos para o tempo do relógio. Mas o Filho de Deus, que nasceu de uma mulher, é o Primeiro e o Último de todos os tempos. Isto significa que ninguém fica fora da sua eterna geração, fora da sua maravilhosa força, fora da sua proximidade amorosa.

Então, do próprio Francisco, uma afirmação também profética: "A aliança das pessoas idosas e das crianças salvará a família humana":

A aliança - e digo, aliança - a aliança dos velhos e das crianças salvará a família humana. Onde as crianças, onde os jovens falam com os velhos, há um futuro; se não houver este diálogo entre velhos e jovens, o futuro não é claro. A aliança dos velhos e das crianças salvará a família humana. Poderíamos, por favor, devolver às crianças, que devem aprender a nascer, o testemunho terno dos idosos que possuem a sabedoria do morrer? Esta humanidade, que com todo o seu progresso parece-nos como um adolescente nascido ontem, será capaz de reavivar a graça de uma velhice que mantém firme o horizonte do nosso destino? A morte é certamente uma passagem difícil na vida, para todos nós: é uma passagem difícil. Todos nós partiremos, mas não é fácil. Mas a morte é também a passagem que encerra o tempo da incerteza e joga fora o relógio. Pois a beleza da vida, que não tem mais uma data de expiração, começa precisamente ali.

VN

16 agosto 2022

DIÁLOGOS COM O SENHOR DEUS 23


 

 

O que pensas tu que é a oração?
Eu, Senhor?


Sim, tu. É a ti que me dirijo e pergunto: O que pensas tu que é a oração?
Oh, Senhor, e sei lá eu responder-Te a essa pergunta! Tu é que tens de me ensinar a orar, pelo Teu amor, Senhor eu to peço.


Eu ensino-te todos os dias, meu filho, quando o Espírito Santo te impele a pensar em mim, a dirigires-te a mim, a sentires a minha presença na tua vida. Por isso pergunto-Te novamente: O que pensas tu que é a oração?
Oh, Senhor, eu penso que orar é procurar-Te com amor, é sentir-Te com amor, é falar-Te com amor. Mas eu, Senhor, embora Te procure, embora Te sinta, embora Te fale, ainda acho que não sei orar.


Então pensas tu que as palavras são mais importantes?
Que a tua postura é mais importante?
Que a tua sinceridade é mais importante?
Sei lá, Senhor, penso que tudo isso e muito mais é importante na oração.


Sabes, meu filho, o que é mais importante quando orares?
Não, Senhor. Diz-me, por favor!


O mais importante, meu filho, é o teu desejo de Mim, o teu coração aberto para mim, a tua vontade íntima de fazer a minha vontade. O resto, (que é importante também), deixa Comigo porque eu sei bem o que desejas e precisas.
Obrigado, Senhor, e atrevo-me a perguntar: Estive a orar, Senhor?


Claro, meu filho! Não está em ti esse desejo de Mim, de Me encontrares, de quereres ser nada para Eu ser tudo em ti?
Sim, Senhor, pelo menos é isso que eu desejo que assim seja, quando Te procuro e a Ti me entrego.


Então, meu filho, aí tens a oração que se faz vida em ti!
Obrigado, Senhor!




Monte Real, 16 de Agosto de 2022
Joaquim Mexia Alves