O tema deste ano é “Escuta a voz da criação”. Esta voz, lamenta o
Papa na mensagem, tornou-se um “grito amargo”, ou melhor, um coro de
gritos na decorrência dos maus-tratos humanos: grita a Mãe Terra, gritam
as criaturas, gritam os mais pobres e, entre eles, os povos indígenas, e
grita a futura geração. Esses clamores provocados pelos nossos excessos
consumistas, à mercê de um antropocentrismo despótico, que provocam,
por sua vez, as mudanças climáticas.
Diante deste quadro, é preciso limitar o colapso dos ecossistemas e
há uma única opção segundo Francisco: arrependimento e mudança dos
estilos de vida e dos modelos de consumo e produção. Não só no âmbito
individual, mas também comunitário. Esta catástrofe ecológica, afirma o
Pontífice merece a mesma atenção que outros desafios globais, como as
graves crises sanitárias e os conflitos bélicos.
Um pedido, "em nome de Deus"
Por isso, o Papa cita dois eventos de fundamental importância
promovidos pelas Nações Unidas: a COP27 sobre o clima, programada para o
mês de novembro no Egito, e a COP15 sobre a biodiversidade, que se
realizará em dezembro no Canadá.
Francisco recorda a adesão da Santa Sé ao Acordo de Paris, que prevê
limitar o aumento da temperatura a 1,5°C e para reduzir a zero, com a
maior urgência possível, as emissões globais dos gases de efeito estufa.
A finalidade é caminhar rumo à direção mais respeitadora da criação e
do progresso humano integral de todos os povos presentes e futuros, um
progresso fundado na responsabilidade, na prudência/precaução, na
solidariedade e atenção aos pobres e às gerações futuras.
“Na base de tudo, deve estar a aliança entre o ser humano e o meio
ambiente que, para nós fiéis, é espelho do amor criador de Deus.”
Eis então o apelo do Papa:
“Repito: Quero pedir, em nome de Deus, às grandes empresas
extrativas – mineiras, petrolíferas, florestais, imobiliárias,
agro-alimentares – que deixem de destruir florestas, zonas húmidas e
montanhas, que deixem de poluir rios e mares, que deixem de intoxicar as
pessoas e os alimentos.”
Dívida ecológica
Neste processo de conversão, aponta Francisco, não se pode
negligenciar as exigências da justiça, especialmente para com os
trabalhadores mais afetados pelo impacto das mudanças climáticas.
Neste sentido, escreve ainda o Papa, “é impossível não reconhecer a
existência duma ‘dívida ecológica’ das nações economicamente mais ricas,
que poluíram mais nos últimos dois séculos”. Por outro lado, os países
menos ricos não estão isentos das suas responsabilidades. “É necessário
agirem todos, com decisão. Estamos a chegar a um ponto de rutura.”
A mensagem foi concluida com um convite de Francisco, para que neste
“Tempo da Criação” as cúpulas COP27 e COP15 possam unir a família
humana. “Choremos com o grito amargo da criação, escutemo-lo e
respondamos com os factos para que nós e as gerações futuras possamos
ainda alegrar-nos com o canto doce de vida e de esperança das
criaturas.”
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