29 abril 2022

Rezar pelas vocações - Mensagem do Cardeal-Patriarca

 

 

Caros amigos

A primeira semana de maio deste ano é dedicada à oração pelas vocações. Vamos vivê-la com toda a convicção, pois estamos certos de que a iniciativa é divina, como em tudo o que respeita ao nosso bem e ao bem dos outros. Melhor dizendo, ao bem dos outros através de nós, que nisso mesmo encontraremos a felicidade. Uma frase de Jesus di-lo claramente: «A felicidade está mais em dar do que em receber» (At 20, 35).

Afinal é de felicidade que se trata, quando rezamos pelas vocações. Felicidade da Igreja que se alegra com elas, como a messe com a semente que a faz crescer e frutificar, tal como diz uma legenda na fachada do Seminário dos Olivais. Mas felicidade também de cada um de nós, que só se encontrará verdadeiramente a si quando coincidir de consciência e vontade com aquilo para que Deus o criou.

O mais importante na vida é isto mesmo: que cada homem ou mulher deste mundo descubra o que Deus quer de si e lhe corresponda inteiramente. Só assim se “realizará”, pois tornará real e efetivo o que doutro modo ficaria por fazer, contrariando o chamamento divino que está na origem da sua própria vida. Ficaria uma vida por cumprir inteiramente.

Quando São Paulo descobriu e aceitou a vocação apostólica, reconheceu-se assim: «… aprouve a Deus – que me escolheu desde o seio de minha mãe e me chamou pela sua graça – revelar o seu Filho em mim, para que o anuncie como Evangelho entre os gentios» (Gl 1, 15-16). E disse de todos nós: «É Deus quem segundo o seu desígnio, opera em vós o querer e o agir» (Fl 2, 13).

Frases como estas refletem o que o próprio Jesus dizia de si: «O meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou – Deus Pai – e consumar a sua obra» (Jo 4, 34). Na oração que nos ensinou, disse-nos tudo o que importa dizermos a Deus Pai, como nesta frase: «Seja feita a Vossa vontade, assim na terra como no céu». Esta terra começa por ser cada um de nós, onde a Palavra seja assimilada e dê muito fruto.

Tratando-se duma “semana de oração pelas vocações”, tem de ser sobretudo ocasião para fazermos coincidir o nosso pensamento e a nossa vontade com o pensamento e a vontade de Deus. Façamo-lo por nós e por todos, como o Pai Nosso também se reza no plural.

Já em Mês de Maria, respondamos como Ela ao mensageiro celeste: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra» (Lc 1, 38). Foi assim que por Ela Jesus chegou ao mundo e é assim que por nós continuará a chegar agora. A vocação própria de cada um – sacerdotal, diaconal, consagrada ou laical, todas missionárias a seu modo – traduzirá sempre a única vontade salvadora de Deus.


+ Manuel Clemente

Patriarcado de Lisboa

Animação Vocacional propõe momentos de oração pelas vocações

 

 

A Igreja assinala, entre 1 e 8 de maio, a Semana de Oração pelas Vocações. No Patriarcado de Lisboa, estão previstas algumas iniciativas preparadas pelo Sector de Animação Vocacional. Durante a semana, o sector diocesano convida todo os cristãos para participarem na oração diária do Terço, pelas 21h30, via Zoom. Na terça-feira, dia 3 de maio, em lugar da oração do Terço, vai decorrer a Vigília de Oração pelas Vocações, em modo presencial, também às 21h30, no Seminário dos Olivais.

Para esta semana, o Cardeal-Patriarca desafia os diocesanos a fazerem desta iniciativa “ocasião” para fazer “coincidir” o “pensamento” e a “vontade” de cada um “com o pensamento e a vontade de Deus”. Numa carta enviada à diocese, D. Manuel Clemente lembra que “o mais importante na vida” é que “cada homem ou mulher deste mundo descubra o que Deus quer de si e lhe corresponda inteiramente”. “Só assim se ‘realizará’, pois tornará real e efetivo o que doutro modo ficaria por fazer, contrariando o chamamento divino que está na origem da sua própria vida. Ficaria uma vida por cumprir inteiramente”, refere.

Pode acompanhar esta Semana de Oração pelas Vocações pelas redes sociais do pelo Sector de Animação Vocacional, no Instagram e Facebook, e através do site https://vocacoes.patriarcado-lisboa.pt.



Patriarcado de Lisboa

O Papa: o abuso sexual de crianças ofende a vida no seu florescimento, é inaceitável

 
O Papa Francisco com os membros da Pontifícia Comissão para as Tutela dos Menores

O Pontífice sublinhou que o serviço confiado à Comissão para a Tutela dos Menores deve "ser realizado com cuidado" e requer "a atenção contínua da Comissão, para que a Igreja não seja apenas um lugar seguro para os menores e um lugar de cura, mas seja totalmente confiável na promoção de seus direitos no mundo inteiro. Infelizmente, não faltam situações em que a dignidade das crianças é ameaçada, e isso deveria ser uma preocupação de todos os fiéis e de todas as pessoas de boa vontade".
 

Mariangela Jaguraba - Vatican News

O Papa Francisco recebeu em audiência, no Vaticano, nesta sexta-feira (29/04), os membros da Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores, que se reuniram em assembleia plenária esta semana.

O Pontífice sublinhou que o serviço confiado à Comissão para a Tutela dos Menores deve "ser realizado com cuidado" e requer "a atenção contínua da Comissão, para que a Igreja não seja apenas um lugar seguro para os menores e um lugar de cura, mas seja totalmente confiável na promoção dos seus direitos no mundo inteiro. Infelizmente, não faltam situações em que a dignidade das crianças é ameaçada, e isso deveria ser uma preocupação de todos os fiéis e de todas as pessoas de boa vontade".

Assumir a responsabilidade de prevenir os abusos 

“O abuso, em todas as suas formas, é inaceitável. O abuso sexual de crianças é particularmente grave porque ofende a vida no seu florescimento. Em vez de florescer, a pessoa abusada é ferida, às vezes de forma indelével.”

Recentemente recebi uma carta de um pai, cujo filho foi abusado e, por causa disso, não saiu do seu quarto por muitos anos, marcando quotidianamente a família com as consequências do abuso. As pessoas abusadas às vezes sentem-se presas entre a vida e a morte. Estas são realidades que não podemos remover, por mais dolorosas que sejam.

"O testemunho dos sobreviventes é uma ferida aberta no corpo de Cristo que é a Igreja", frisou o Papa, exortando os membros da Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores "a trabalharem diligente e corajosamente para tornar conhecidas estas feridas, procurar aqueles que sofrem por causa delas e reconhecer nestas pessoas o testemunho do nosso Salvador sofredor. Cada membro da Igreja, de acordo com o seu status, é chamado a assumir a responsabilidade de prevenir os abusos e trabalhar pela justiça e cura".

Métodos a fim de que a Igreja proteja os menores

A seguir, o Papa disse que com a Constituição Apostólica Praedicate Evangelium, estabeleceu formalmente a Comissão como parte da Cúria Romana, dentro do Dicastério para a Doutrina da Fé. Isso não deve colocar em risco a liberdade de pensamento e ação da Comissão ou diminuir a importância das questões por ela tratadas. "Convido-os a estarem vigilantes para que isso não aconteça", ressaltou Francisco.

O Papa pediu aos membros da Comissão para que proponham "os melhores métodos para que a Igreja proteja os menores e as pessoas vulneráveis ​​e ajude os sobreviventes a se curarem, levando em conta que a justiça e a prevenção são complementares". Um serviço que fornece "melhores práticas e procedimentos que podem ser implementados em toda a Igreja".

As sementes lançadas começam a dar bons frutos

Francisco pediu também para que "a tutela e o cuidado das pessoas abusadas se tornem norma em todas as áreas da vida da Igreja. "A sua estreita colaboração com o Dicastério para a Doutrina da Fé e outros Dicastérios deve enriquecer o seu trabalho e ele, por sua vez, enriquecer o da Cúria e das Igrejas locais. Como isto possa ser feito da maneira mais eficaz, deixo para a Comissão e o Dicastério. Trabalhando juntos, eles implementam concretamente o dever da Igreja de proteger aqueles que estão sob a sua responsabilidade. Este dever baseia-se na conceção da pessoa humana na sua dignidade intrínseca, com atenção especial aos mais vulneráveis. O compromisso no âmbito da Igreja universal e das Igrejas particulares concretiza o plano de proteção, cura e justiça, segundo as respetivas competências", sublinhou Francisco.

“As sementes lançadas começam a dar bons frutos. A incidência de abuso de menores por parte do clero tem mostrado um declínio por vários anos nas partes do mundo onde dados e recursos confiáveis ​​estão disponíveis.”

Anualmente, gostaria que vocês me preparassem um relatório sobre as iniciativas da Igreja para a proteção de menores e adultos vulneráveis. Isto pode ser difícil no início, mas peço-vos que comecem por onde for necessário a fim de fornecer um relatório confiável sobre o que está a acontecer e o que precisa de ser mudado, para que as autoridades competentes possam agir. Este relatório será um fator de transparência e responsabilidade e - espero - dará uma indicação clara do nosso progresso neste compromisso. Se não houver progresso, os fiéis continuarão a perder a confiança nos seus pastores, tornando cada vez mais difícil o anúncio e o testemunho do Evangelho.

VN

27 abril 2022

O Papa: restabelecer a ponte forte entre jovens e idosos

 
 
Francisco disse que o Livro de Rute "contém também um valioso ensinamento sobre a aliança das gerações: onde a juventude se mostra capaz de dar novo entusiasmo à idade madura, quando a juventude dá novo entusiasmo aos idosos, a velhice mostra-se capaz de reabrir o futuro para a juventude ferida". 
 

Vatican News

O Papa Francisco deu continuidade ao ciclo de catequeses sobre a velhice na Audiência Geral, desta quarta-feira (27/04), realizada na Praça de S. Pedro. "Noemi, a aliança entre gerações que abre o futuro" foi o tema deste encontro semanal.

A catequese de Francisco foi inspirada no "maravilhoso Livro de Rute, uma preciosidade da Bíblia", que "ilumina a beleza dos laços familiares: gerados pela relação de um casal, mas que vão além do vínculo do casal. Em comparação com o Cântico dos Cânticos, o Livro de Rute é como o outro painel do díptico do amor nupcial. Tão importante como essencial, celebra o poder e a poesia que devem habitar os laços de geração, parentesco, dedicação e fidelidade que envolvem toda a constelação familiar".

Valioso ensinamento sobre a aliança das gerações

Sabemos que os clichés sobre os laços de parentesco criados pelo matrimónio, especialmente entre sogra e nora, falam contra esta perspectiva. Mas, precisamente por esta razão, a palavra de Deus torna-se preciosa. A inspiração da fé pode abrir um horizonte de testemunho que vai contra os preconceitos mais comuns, um horizonte que é precioso para toda a comunidade humana. Convido-vos a redescobrir o livro de Rute! Especialmente na meditação sobre o amor e na catequese sobre a família.

A seguir, o Papa disse que "este pequeno livro contém também um valioso ensinamento sobre a aliança das gerações: onde a juventude se mostra capaz de dar novo entusiasmo à idade madura, quando a juventude dá novo entusiasmo aos idosos, a velhice mostra-se capaz de reabrir o futuro para a juventude ferida".

Os mundos são de novo pacificados

"No início, a idosa Noemi, embora movida pelo afeto das noras, viúvas dos seus dois filhos, é pessimista quanto ao seu destino num povo que não é o seu. Ela encoraja afetuosamente as jovens viúvas a regressarem às suas famílias para reconstruírem a própria vida", disse o Papa. "Movida pela dedicação de Rute, Noemi sairá do seu pessimismo e até tomará a iniciativa, abrindo um novo futuro para Rute. Ela instrui e encoraja Rute, a viúva do seu filho, a conquistar-se um novo marido em Israel. Booz, o candidato, mostra a sua nobreza, defendendo Rute dos homens seus empregados. Infelizmente, este é um risco que também se verifica hoje", sublinhou Francisco.

"O novo matrimónio de Rute é celebrado e os mundos são de novo pacificados. As mulheres de Israel dizem a Noemi que Rute, a estrangeira, vale “mais de sete filhos” e que o matrimónio será uma “bênção do Senhor”. Noemi, que era amargurada, dizia que o seu nome era amargura, revive, renasce e na sua velhice conhecerá a alegria de desempenhar um papel na geração de um novo nascimento", disse ainda o Papa, acrescentando:

Vejam quantos “milagres” acompanham a conversão desta idosa! Ela converte-se ao compromisso de se tornar disponível, com amor, para o futuro de uma geração ferida pela perda e em risco de abandono. As frentes de recomposição são as mesmas que, de acordo com as probabilidades desenhadas pelos preconceitos do senso comum, deveriam gerar fraturas insuperáveis. Em vez disso, a fé e o amor permitem que sejam superados: a sogra supera o ciúme do próprio filho amando o novo vínculo de Rute; as mulheres de Israel superam a desconfiança em relação ao estrangeiro; a vulnerabilidade da jovem sozinha, perante o poder do homem, reconcilia-se com uma relação cheia de amor e respeito.

A sogra: mãe do seu cônjuge, avó dos seus filhos

"Tudo isto porque a jovem Rute persistiu em ser fiel a um vínculo exposto ao preconceito étnico e religioso", frisou o Papa, que a propósito da sogra disse:

Hoje, a sogra é um personagem mítico, a sogra, não digo que pensamos nela como o diabo, mas sempre se pensa nela de maneira má. A sogra é a mãe do seu marido, é a mãe da sua esposa. Pensemos hoje nesse sentimento um pouco impregnado de que a sogra quanto mais longe, melhor. Não! Ela é mãe, é idosa. Uma das coisas mais bonitas das avós é ver os netos, quando os filhos têm filhos, elas revivem. Olhem bem a relação que vocês têm com as vossas sogras e se às vezes são um pouco especiais, elas deram-lhe a maternidade do seu cônjuge, deram-lhe tudo. Ao menos façam-nas felizes, que continuem a sua velhice com felicidade. E se têm algum defeito que seja corrigido. Digo também a vocês sogras: cuidado com a língua, porque a língua é um dos pecados mais feios das sogras. Tenham cuidado!

A seguir, o Papa recomendou aos jovens que conversem "com os seus avós, que conversem com os idosos e que os idosos conversem com os jovens". "Devemos restabelecer esta ponte forte, há uma corrente de salvação e felicidade ali. Que o Senhor nos ajude desta forma a crescer em harmonia nas famílias, aquela harmonia construtiva que vai do idoso ao jovem, aquela bela ponte que devemos proteger e conservar", concluiu.

VN

24 abril 2022

O Papa renova apelo pela trégua na Ucrânia: som das armas prevalece sobre os sinos da Ressurreição

 
 2022.03.24 Regina Coeli 
 
“Renovo o apelo a uma trégua pascal, sinal mínimo e tangível de uma vontade de paz. Detenha-se o ataque para que se possa ir ao encontro dos sofrimentos da população exausta. Detenha-se, obedecendo às palavras do Ressuscitado, que no dia de Páscoa repete aos seus discípulos: «A paz esteja convosco!»”
 

Bianca Fraccalvieri – Vatican News

Após a oração do Regina Coeli neste II Domingo de Páscoa, o Papa Francisco renovou o seu apelo por uma trégua pascal na Ucrânia.

Ao saudar as várias Igrejas orientais, católicas e ortodoxas, que celebram hoje a Páscoa de acordo com o calendário juliano, o Pontífice afirmou:

“Seja Ele a doar a paz, ultrajada pela barbárie da guerra. Justamente hoje perfaz dois meses desde o início desta guerra: que ao contrário de parar, agravou-se.”

Nesses dias que são os mais santos e solenes para todos os cristãos, prosseguiu o Papa, é triste que se sinta ainda mais o tilintar das armas, em vez do som dos sinos que anunciam a ressurreição. E é triste que as armas estejam a ocupar mais e sempre o lugar da palavra.

“Renovo o apelo a uma trégua pascal, sinal mínimo e tangível de uma vontade de paz. Detenha-se o ataque para que se possa ir ao encontro dos sofrimentos da população exausta. Detenha-se, obedecendo às palavras do Ressuscitado, que no dia de Páscoa repete aos seus discípulos: «A paz esteja convosco!»”

Dirigindo-se aos fiéis, Francisco pediu que intensifiquem a oração pela paz e que tenham a coragem de dizer e manifestar que a paz é possível. Aos líderes políticos, exortou que ouçam a voz do povo, que quer a paz e não uma escalada do conflito.

Camarões

Outro pedido de paz foi dirigido aos Camarões. Os bispos realizam este domingo uma peregrinação com os seus fiéis, ao  Santuário mariano de Marianberg, para consagrar novamente o país à Mãe de Deus e colocá-lo sob a sua proteção.

"Rezemos em particular pelo regresso da paz ao país, que há mais de cinco anos, em várias regiões, foi dilacerado pelas violências", suplicou o Papa.

"Elevemos também nós a nossa súplica, junto dos irmãos e irmãs dos Camarões, para que Deus, por intercessão da Virgem Maria, conceda em breve uma paz verdadeira e duradoura a este amado país."

VN

Regina Coeli: É melhor uma fé imperfeita, mas humilde, do que uma fé forte, mas presunçosa

 
 2022.04.24 Regina Coeli 
 
O Apóstolo Tomé foi o tema da alocução do Santo Padre que precedeu a oração do Regina Coeli neste II Domingo de Páscoa. Tomé representa todos nós, disse o Papa, e nos ensina que "é melhor uma fé imperfeita, mas humilde, que sempre volta a Jesus, do que uma fé forte, mas presunçosa, que nos torna orgulhosos e arrogantes.”
 

Bianca Fraccalvieri – Vatican News

Após celebrar a missa na Basílica Vaticana neste Domingo da Misericórdia, o Papa Francisco rezou a oração do Regina Coeli.

Aos milhares de fiéis e peregrinos na Praça de S. Pedro, o Pontífice comentou o Evangelho deste último dia da Oitava de Páscoa, concentrando-se no Apóstolo Tomé, “que representa todos nós”.

Assim como ele, disse o Papa, também nós temos dificuldade em acreditar que Jesus ressuscitou. Mas não nos devemos envergonhar, pois Cristo não procura cristãos perfeitos, que ostentam uma fé segura sem jamais duvidar. "Tenho medo quando vejo cristãos ou associações de cristãos que creem ser perfeitos."

A “aventura da fé”, como a definiu Francisco, é feita de luzes e sombras, alternando momentos de consolação e entusiasmo, com cansaços e perdições.

Mas não devemos temer as crises, "não são um pecado", afirma o Papa, pois ajudam a reconhecermo-nos necessitados, tornammo-nos humildes, reavivam a necessidade de Deus.

“É melhor uma fé imperfeita, mas humilde, que regressa sempre a Jesus, do que uma fé forte, mas presunçosa, que nos torna orgulhosos e arrogantes.”

Diante das incertezas de Tomé, observou Francisco, a atitude de Jesus é única: Ele “pôs-se no meio”.

“Jesus não se rende, não se cansa de nós, não se assusta com as nossas crises e fraquezas. Ele volta sempre.”

Jesus volta quando as portas estão fechadas, quando duvidamos, e fá-lo não com sinais poderosos, mas com as suas chagas.

Ele espera somente que O chamemos, o invoquemos ou, como fez Tomé, protestemos, apresentando as nossas necessidades e incredulidades. Ele volta porque é paciente e misericordioso, vem para “abrir os cenáculos dos nossos medos”.

Francisco concluiu convidando os fiéis a relembrarem a última vez que viveram um momento de crise e se fecharam nos seus problemas, deixando Jesus de fora. E a prometeram que, da próxima vez, irão à procura de Jesus.

“Assim, também nos tornaremos capazes da nos compaixão, de aproximar sem rigidez e sem preconceitos as chagas dos outros. Que Nossa Senhora, Mãe de misericórdia, nos acompanhe no caminho de fé e de amor.”

VN

23 abril 2022

O Papa: precisamos de discípulos capazes de transmitir a chama da esperança

 
 Audiência do Papa Francisco aos participantes no simpósio promovido pela Associação Fiat (Vatican News) 
 
A questão da evangelização está no coração da missão da Igreja. Mas hoje é mais explícito; essas duas frases de ouro do Papa Paulo VI: a vocação da Igreja é evangelizar; a alegria da Igreja é evangelizar. Sempre! Mais do que nunca somos desafiados a ser protagonistas de uma Igreja em saída, sob o impulso do Espírito Santo. De facto, "uma evangelização com o espírito é uma evangelização com o Espírito Santo, já que Ele é a alma da Igreja evangelizadora", disse o Papa aos membros da Associação Fiat
 

Raimundo de Lima - Vatican News

O Santo Padre recebeu em audiência na manhã deste sábado, 23 de abril, na Sala Clementina, no Vaticano, os participantes do Simpósio promovido pela Associação “Fiat”: “Nas pegadas do cardeal Suenens-O Espírito Santo, Maria e a Igreja”, um grupo de 120 pessoas.

Dirigindo-se aos membros da Associação, Francisco expressou a sua proximidade espiritual a todos e, com eles, agradeceu ao Senhor pela obra do cardeal Suenens e de Veronica O'Brien, um trabalho que continua hoje no seu apostolado.

Evangelização no coração da missão da Igreja

Em fidelidade às intuições evangélicas dos seus fundadores, ressaltou Francisco, vocês estão comprometidos em compartilhar o Evangelho com cada pessoa que a Providência coloca no vosso caminho. Dito isto, o Papa acrescentou:

Hoje, a questão da evangelização está no coração da missão da Igreja. Mas hoje é mais explícito; essas duas frases de ouro do Papa Paulo VI: a vocação da Igreja é evangelizar; a alegria da Igreja é evangelizar. Sempre! Mais do que nunca somos todos desafiados a ser protagonistas de uma Igreja em saída, sob o impulso do Espírito Santo. De facto, "uma evangelização com o espírito é uma evangelização com o Espírito Santo, já que Ele é a alma da Igreja evangelizadora".

Precisamos de discípulos convencidos na sua profissão de fé

O Papa destacou que o mundo está a  tornar-se cada vez mais secularizado. Precisamos de discípulos convencidos na sua profissão de fé e capazes de transmitir a chama da esperança aos homens e mulheres deste tempo.

As tragédias que estamos a viver neste momento, particularmente a guerra no território da Ucrânia tão próxima a nós, lembram-nos a necessidade urgente de uma civilização do amor. No olhar dos nossos irmãos e irmãs vítimas dos horrores da guerra, lemos a necessidade profunda e premente de uma vida marcada pela dignidade, paz e amor.

Cultivar continuamente o espírito missionário

Como a Virgem Maria, prosseguiu o Pontífice, devemos cultivar continuamente o espírito missionário para nos aproximar daqueles que sofrem, abrindo os nossos corações para eles. Devemos caminhar com eles, lutar com eles pela sua dignidade humana e espalhar o perfume do amor de Deus por toda parte.

A nossa casa comum é abalada por múltiplas crises. Não devemos ter medo das crises; as crises purificam-nos, elas fazem-nos sair melhor. Sem medo! É por isso que precisamos de construir uma humanidade, uma sociedade de relações fraternais e cheia de vida.

A Igreja confia em vós

Caros amigos, a Igreja tem confiança em vós, disse o Papa, exortando-os a dar, por palavras suas, ações e testemunhos, uma mensagem forte ao nosso mundo, tão pobre em humanidade.

Que vocês possam haurir, através da oração e da própria missão, à fonte do bem e da verdade e encontrar na comunhão com Cristo que morreu e ressuscitou a força para ver o mundo com um olhar positivo, um olhar de amor, um olhar de esperança, um olhar de compaixão e ternura, com atenção especial para as pessoas menos favorecidas e marginalizadas, concluiu o Santo Padre.

VN

22 abril 2022

Cardeal Czerny: o Dia da Terra exige ações urgentes

 
 Dia da Terra 
 
Refletindo sobre o Dia da Terra, o Cardeal Michael Czerny explica porque a Igreja e o Papa Francisco se preocupam tanto com a Terra, e lamenta os "fracassos ameaçadores" que tornam "urgente a ação para proteger o meio ambiente"
 

Deborah Castellano Lubov

Para o Cardeal Michael Czerny  agora mais do que nunca, devemos ser cidadãos responsáveis e proteger a nossa Casa Comum. Falando ao Vatican News sobre o Dia da Terra, comemorado em todo o mundo neste 22 de abril, o Prefeito interino do Dicastério do Vaticano para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral reflete sobre a razão pela qual a Igreja se preocupa tanto com o Dia dedicado à proteção do planeta.

Em cada Dia da Terra, milhões de pessoas em todos os continentes reúnem-se para chamar a atenção da necessidade de salvaguardar o nosso planeta.  "A Igreja", afirma o Cardeal canadense ao Vatican News, "preocupa-se muito com a Terra porque a Terra foi criada por Deus, o mesmo Deus que nos criou a todos como irmãos que são chamados a viver juntos na nossa Casa Comum e a cuidar dela". E o Dia da Terra, continua, "é um dia para lembrar a nossa pertença a esta Casa Comum a uma família comum", e para lembrar "a nossa muito séria, e eu diria, responsabilidade crescente para cuidar bem desta única Casa Comum que temos".

“Neste ano celebramos o Dia da Terra à sombra de múltiplas falhas sérias, graves e ameaçadoras por parte da família humana para levar esta realidade a sério”

Por esta razão, insiste o Cardeal Czerny, é "um dia urgente" a ser comemorado.

Perto do coração do Papa Francisco

O Prefeito do Vaticano também reflete sobre o porquê da importância para o Papa Francisco de chamar a atenção para a proteção do meio ambiente. O "Papa Francisco", observa o Cardeal Czerny, "chamou-nos a prestar atenção ao meio ambiente, praticamente desde o início de seu pontificado e especialmente na sua encíclica Laudato si", a primeira encíclica de um Papa dedicada ao meio ambiente. "Mas para responder à pergunta sobre o porquê da importância para o Papa", destaca o cardeal, "temos que ler a encíclica Fratelli tutti, ali percebemos a profunda importância de que é uma vocação única ser irmãos uns dos outros, e cuidar da nossa Casa Comum".

“Não se pode ter um sem o outro”

"Então, isto faz com que o Dia da Terra seja um chamamento para sermos cidadãos responsáveis nesta Terra", ressalta o Cardeal, "urgentemente". "Se não for assim, nada faremos", conclui o Cardeal Czerny, lamentando, "esta é, infelizmente, a direção em que estamos a ir".

 

 

VN

Dia da Terra: JMJ divulga Carta-Compromisso com a Sustentabilidade

 

 

No Dia da Terra, assinalado neste dia 22 de abril, a JMJ Lisboa 2023 divulgou uma Carta-Compromisso com a Sustentabilidade que assume para a construção da jornada e que propõe à comunidade em geral, equipa, parceiros, voluntários e peregrinos.

“Vamos juntos construir a Jornada Mundial da Juventude mais sustentável de sempre!” é o apelo da organização da JMJ Lisboa 2023. Numa carta-compromisso, intitulada “Juntos por uma Jornada Mundial da Juventude mais sustentável” e divulgada no Dia da Terra, a organização começa por recordar que o Papa desafia todos a fazer da jornada de Lisboa “um evento jovem, com vida e força”. “É, pois, com mente fresca e criativa, bem como lúcida e responsável, que olhamos para a JMJ Lisboa 2023. Agosto de 2023 irá acolher um evento sem precedentes. Devemos aprender com a experiência adquirida em jornadas anteriores, promovendo a criatividade e a inovação”, pode ler-se.

A organização quer ter presentes objetivos de sustentabilidade “abraçados mundialmente”, como os ‘Laudato Si’ Goals’, apresentados pelo Vaticano e a Agenda 2030 das Nações Unidas (ODS). A jornada quer assentar nos “pilares” das encíclicas do Papa Francisco ‘Laudato Si’ e ‘Fratelli Tutti’, e da exortação apostólica ‘Christus Vivit’, que “convocam para o cuidado com a nossa Casa Comum”.

“Inspirados por estes valores, e considerando a interpelação do Santo Padre a que vivamos segundo os valores da fraternidade universal e do cuidado com a Casa Comum, comprometemo-nos, juntos, a fazer da sustentabilidade um objetivo central da concretização da JMJ Lisboa 2023”.

A carta-compromisso cita uma passagem da encíclica ecológica e social ‘Laudato Si’ (2015): “Tudo está ligado. A preocupação com o Ambiente deve, assim, ser associada a um amor sincero pelos nossos semelhantes e a um compromisso inabalável de resolver os problemas da sociedade”. (LS, 91). “A JMJ Lisboa 2023 terá na sua génese o conceito de ecologia integral”, assinala o documento.

O ponto de partida para este compromisso é “a sobriedade de cada um” em relação à utilização dos bens, assim como “a honestidade de fazer o melhor possível”. “Queremos que a JMJ Lisboa 2023 seja uma referência no compromisso com a sustentabilidade, e que deixe um legado positivo duradouro no território, na comunidade em geral, na equipa, nos parceiros, nos voluntários e nos peregrinos”, indica a organização do evento.

Em abril de 2021, a organização da próxima Jornada Mundial da Juventude divulgou o Terço JMJ Lisboa 2023, em madeira e em plástico 100% reciclado.

Com Ecclesia

Patriarcado de Lisboa

21 abril 2022

Páscoa em Alenquer trouxe as Festas do Império do Divino Espírito Santo

 

 

As Festas do Império do Divino Espírito Santo regressaram a Alenquer no Domingo de Páscoa, 17 de abril, durante a Missa solene com entronização das insígnias do Espírito Santo, na Igreja de São Francisco, em Alenquer.

Após dois anos de celebrações condicionadas pela pandemia, “a população volta a poder vivenciar na íntegra esta tradição secular, que partiu de Alenquer e atualmente é celebrada em diversos pontos do globo, tendo sido inclusivamente candidata a uma das maravilhas do património imaterial nacional, em 2019”, assinala o município, em comunicado. As festas do Espírito Santo vão agora prolongar-se durante cerca de dois meses, até dia 5 de junho. “Às iniciativas de cariz mais religioso, como missas e procissões, somam-se outras atividades, tais como visitas guiadas, rotas turísticas, concertos, teatros, exposições ou tertúlias, espalhadas um pouco por todo o concelho”, revela a nota, destacando que “o ponto alto está reservado para o fim de semana de 3 a 5 de junho, com a Festa da Luz, o Bodo típico terceirense ou a Feira do Pão”. “Tudo isto, envolto num ambiente único, com tetos e tapetes floridos a enfeitar as ruas, contribuindo para uma experiência inesquecível”, frisa o comunicado.

Para o vereador da Câmara Municipal de Alenquer com o pelouro da Cultura, as Festas do Império do Divino Espírito Santo são uma oportunidade para esta terra. “Tencionamos reforçar o facto de estas serem uma das festas mais antigas do nosso país, que cumpriram 700 anos em 2021, e também estreitar os laços com diferentes comunidades, no continente e nas ilhas, tornando-as numas festas de índole nacional, aproveitando também a capacidade aglutinadora da vontade das pessoas da terra e de termos comunidades a trabalhar em conjunto em prol de um projeto que visa sobretudo dignificar a pessoa humana”, refere Rui Costa. Recorde-se que o município de Alenquer, juntamente com os de Ponta Delgada e Angra do Heroísmo, está a trabalhar no sentido de preparar uma candidatura destas festas a património mundial imaterial da UNESCO.

 

  

Patriarcado de Lisboa

Ucrânia, o Papa une-se ao apelo da ONU por uma trégua na Páscoa

 
Ações de guerra na Ucrânia  (ANSA)
  
Um "cessar-fogo" por ocasião da celebração da Páscoa segundo o calendário juliano, no dia 24 de abril: o pedido da ONU é acolhido por Francisco e pela Santa Sé.
 

Vatican News

A Santa Sé divulgou um comunicado, nesta quinta-feira (21/04), sobre a adesão do Papa Francisco ao apelo do secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, por uma trégua humanitária de quatro dias, na Ucrânia, durante a celebração da Páscoa ortodoxa, segundo o calendário juliano.

A pausa humanitária começa nesta quinta-feira (19/04) vai até ao próximo domingo 24 de abril, para permitir a abertura de corredores humanitários.

Segundo a nota da Santa Sé, "no último Domingo de Ramos, o Papa Francisco pediu uma trégua na Páscoa, para alcançar a paz". "A Santa Sé e o Santo Padre unem-se ao apelo que o secretário-geral da ONU, António Guterres, lançou em 19 de abril, de acordo com o chefe da Igreja greco-católica ucraniana, Sua Beatitude Sviatoslav Shevchuk, por uma trégua por ocasião da celebração da Páscoa, em 24 de abril, segundo o calendário juliano", ressalta o comunicado da Santa Sé.

"Conscientes de que nada é impossível para Deus, invocam o Senhor para que a população presa em zonas de guerra seja evacuada e que a paz seja restabelecida em breve, e pedem a quem tem a responsabilidade das nações para ouvir o grito de paz do povo", conclui a nota vaticana.

Por sua vez, o secretário-geral da ONU explicou que a trégua humanitária cria as condições necessárias para dois pontos fundamentais. Primeiro: a passagem segura de todos os civis que querem deixar as áreas de combates agora e no futuro em coordenação com o Comité Internacional da Cruz Vermelha.

Segundo: além de operações humanitárias que já ocorrem, uma pausa permite a entrega segura de ajuda às pessoas mais afetadas em áreas como Mariupol, Kherson, Donetsk e Luhansk. O plano já foi apresentado aos dois lados e à sociedade civil, como confirmou o secretário-geral da ONU.

Guterres lembrou que a Páscoa é um momento de renovação, ressurreição e esperança. Um momento que deveria ser de união. Este ano, a Semana Santa Ortodoxa está a ser vivida sob uma nuvem de guerra, que representa a negação total da mensagem da Páscoa.

VN

20 abril 2022

O Papa: honrar os idosos, reconhecer a sua dignidade

 
  
Na Audiência Geral desta quarta-feira, Francisco disse que "incentivar os jovens, mesmo indiretamente, a uma atitude de suficiência - e até de desprezo - em relação à velhice, a sua fraqueza e a sua precariedade, produzem coisas horríveis. Abre caminho para excessos inimagináveis". 
 

Mariangela Jaguraba - Vatican News

"Honra o pai e a mãe: o amor pela vida vivida" foi o tema da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral desta quarta-feira (20/04), realizada na Praça de S. Pedro.

Francisco deu continuidade ao ciclo de catequeses sobre a velhice, dizendo que "as experiências da nossa fragilidade, diante das situações dramáticas e às vezes trágicas da vida, podem acontecer em qualquer momento da existência. No entanto, na velhice podem causar menos impressão e induzir a uma espécie de vício, até mesmo de incómodo, nos outros".

Respeito e cuidado da vida de qualquer pessoa

Segundo o Papa, "as feridas mais graves da infância e da juventude causam um sentimento de injustiça e rebelião, uma força de reação e luta. Ao contrário, as feridas, mesmo graves, da velhice são inevitavelmente acompanhadas pelo sentimento de que a vida não se contradiz, porque já foi vivida".

Na experiência humana comum, o amor - como se costuma dizer - é descendente: não volta à vida que está atrás de nós com a mesma força com que se derrama na vida que ainda está à nossa frente. A gratuiticidade do amor também aparece nisto: os pais souberam sempre disto, os idosos aprendem isto cedo. No entanto, a revelação abre caminho para uma restituição diferente do amor: é a estrada para honrar quem nos precedeu.

 

O Papa Francisco no Papamóvel, na Audiência Geral desta quarta-feira

 

De acordo com Francisco, não se trata apenas de honrar o pai e a mãe, mas "a geração e as gerações anteriores, cuja despedida também pode ser lenta e prolongada, criando um tempo e um espaço de convivência duradoura com as outras idades da vida. Noutras palavras, trata-se da velhice da vida. Honra é uma boa palavra para enquadrar este âmbito de restituição do amor que diz respeito aos idosos. Hoje, redescobrimos o termo "dignidade" para indicar o valor do respeito e do cuidado da vida de qualquer pessoa. Dignidade, aqui, equivale essencialmente a honra".

O desprezo que desonra os idosos, desonra a todos nós

O Papa convidou a pensar "nesta bela declinação do amor que é a honra. O cuidado dos doentes, o apoio a quem não é auto-suficiente, a garantia do sustento, podem carecer de honra. Falta honra quando o excesso de confiança, em vez de se expressar como delicadeza e afeto, ternura e respeito, se transforma em aspereza e prevaricação. Quando a desorientação é censurada e até punida, como se fosse uma falta. Quando perplexidade e confusão se tornam uma abertura para chacota e agressão. Pode até acontecer em casa, nos asilos, bem como nos escritórios ou nos espaços abertos da cidade".

Incentivar os jovens, mesmo indiretamente, a uma atitude de suficiência - e até de desprezo - em relação à velhice, a sua fraqueza e a sua precariedade, produzem coisas horríveis. Abre caminho para excessos inimagináveis. Os jovens que largam fogo na coberta de um "mendigo", por considerá-lo um descarte humano, são a ponta do iceberg, ou seja, do desprezo por uma vida que, longe das atrações e impulsos da juventude, já aparece como uma vida de descarte. Esse desprezo, que desonra os idosos, na verdade desonra a todos nós.

 

 O Papa Francisco chega ao adro da Basílica de S. Pedro 
 

Segundo o Papa, devemos oferecer "o melhor apoio social e cultural a quantos são sensíveis a esta forma decisiva de "civilização do amor". Não é uma questão de cosméticos e cirurgia plástica. Pelo contrário, é uma questão de honra, que deve transformar a educação dos jovens em relação à vida e suas fases".

Descartar o idoso é um pecado grave

A seguir, Francisco convidou os pais a aproximarem os filhos, as crianças, os jovens aos idosos. Quando o idoso estiver doente, um pouco fora de si, deixar que eles se aproximem dele. O Papa então contou uma história pessoal de quando estava em Buenos Aires e gostava de visitar os asilos. Uma vez perguntou a uma senhora idosa: "A senhora tem quantos filhos?" - “Tenho quatro, todos casados, com netos...”, e começou a falar-lhe da família. "E eles vêm?" - “Sim, eles vêm  sempre!”.

Quando o Papa saiu do quarto, a enfermeira, que tinha ouvido a conversa disse-lhe: "Padre, ela disse uma mentira para encobrir os filhos. Não vem ninguém há seis meses!”. "Isto é descartar o idoso, é pensar que o idoso é lixo", disse Francisco, acrescentando: Por favor: é um pecado grave. Este é o primeiro grande mandamento, e o único que diz o prémio: "Honra teu pai e tua mãe e terás longa vida na terra". Este mandamento de honrar os idosos dá-nos uma bênção, que é gasta assim: "Terás uma vida longa". Por favor, protejam os idosos, pois eles são a presença da história, a presença da minha família, e graças a eles estou aqui, todos podemos dizer: graças a vós, avô e avó, estou vivo. Por favor, não os deixe sozinhos", concluiu.

 

VN

18 abril 2022

O Papa: a falsidade, nas palavras e na vida, leva-nos de volta ao túmulo

 
 O Papa Francisco durante o Regina Caeli desta segunda feira, na Oitava da Páscoa 
 
No Regina Caeli desta "Segunda-Feira na Oitava de Páscoa", Jesus "convida-nos a sair dos túmulos dos nossos medos" e recorda-nos que "o Ressuscitado quer tirar-nos dos sepulcros das falsidades e das duplicidades".
 

Mariangela Jaguraba/Silvonei José - Vatican News

O Papa Francisco rezou a oração mariana do Regina Caeli, nesta "Segunda-Feira na Oitava de Páscoa (18/04), feriado no Vaticano e em Itália, conhecida como "Segunda-feira do Anjo", para lembrar a aparição do anjo às mulheres, anunciando a ressurreição de Jesus.

Segundo Francisco, "os dias da Oitava da Páscoa são como um único dia em que a alegria da Ressurreição é prolongada. Assim, o Evangelho da Liturgia de hoje continua a falar-nos do Ressuscitado, da sua aparição às mulheres que tinham ido ao túmulo". "Jesus vai ao encontro delas e saúda-as. Depois, diz-lhes duas coisas, que serão boas para nós também acolhermos, como um dom da Páscoa", frisou o Papa.

Sair dos túmulos dos nossos medos

Primeiro, ele tranquiliza-as com as seguintes palavras: "Não tenham medo".

O Senhor sabe que os medos são os nossos inimigos diários. Ele também sabe que os nossos medos provêm do grande medo, o medo da morte: medo de desaparecer, de perder entes queridos, de estar doente, de não conseguir fazer mais. Mas, na Páscoa, Jesus venceu a morte. Ninguém mais, portanto, pode dizer-nos de forma mais convincente: "Não tenha medo". O Senhor o diz ali mesmo, ao lado do túmulo do qual Ele saiu vitorioso. Ele convida-nos assim a sair dos túmulos dos nossos medos. Ouçamos bem: sair dos túmulos dos nossos medos, porque eles são como túmulos, eles nos enterram-nos por dentro.

Segundo o Papa, Jesus "sabe que o medo está sempre agachado à porta dos nossos corações e que precisamos de ouvir dizer: não tenhas medo: na manhã de Páscoa como na manhã de cada dia". "Irmão, irmã, que acreditas em Cristo, não tenhas medo! "Eu, diz-nos Jesus, provei a morte por ti, tomei sobre mim o teu mal". Agora, ressuscitei para te dizer: Estou aqui, contigo, para sempre. Não tenhas medo", sublinhou o Pontífice.

A alegria da Páscoa não é para ser guardada para ti mesmo

"Como podemos concretamente combater o medo? ", perguntou o Papa, respondendo com a segunda coisa que Jesus disse às mulheres: "Vão anunciar aos meus irmãos que se dirijam para a Galileia. Lá eles me verão".

Vão e anunciem. O medo fecha-nos sempre em nós mesmos; Jesus, ao invés, faz-nos sair e envia-nos aos outros. Aqui está o remédio. Mas eu, podemos dizer, não sou capaz! Aquelas mulheres certamente não eram as mais adequadas ou preparadas para anunciar o Ressuscitado, mas o Senhor não se importa. A Ele importa que se saia e se anuncie. Porque a alegria da Páscoa não é para ser guardada para ti mesmo. A alegria de Cristo é fortalecida ao doá-la, multiplica-se quando se compartilha. Se nos abrimos e levamos o Evangelho, o nosso coração expande-se e supera o medo. Este é o segredo: anunciar para vencer o medo.

A falsidade leva de volta ao túmulo

O Papa disse que o Evangelho de hoje "diz-nos que o anúncio pode encontrar um obstáculo: a falsidade. Na verdade, o Evangelho narra "um contra-anúncio", o dos soldados que tinham guardado o sepulcro de Jesus. Eles são pagos com "uma boa soma de dinheiro" e recebem estas instruções: "Digam isto: 'Os seus discípulos vieram de noite e roubaram-no enquanto dormíamos'". "Vocês estavam a dormir? Vocês viram no sono quando eles roubaram o corpo? Há ali uma contradição, mas uma contradição que todos acreditam, porque há dinheiro envolvido. É o poder do dinheiro, aquele outro senhor que Jesus diz para nunca servir. Há dois senhores: Deus e o dinheiro. Nunca servir", sublinhou Francisco.

Aqui está a falsidade, a lógica da ocultação, que se opõe à proclamação da verdade. É um lembrete também para nós: a falsidade, nas palavras e na vida, polui o anúncio, corrompe por dentro, leva de volta ao túmulo. A falsidade leva-nos para trás, leva-nos à morte, ao sepulcro. O Ressuscitado, ao invés, quer-nos tirar dos sepulcros, das falsidades e das dependências. Diante do Senhor ressuscitado, existe este outro deus: o deus dinheiro, que suja tudo, que arruína tudo, fecha as portas para a salvação. E isso está por todo lado. Na vida quotidiana, há a tentação de adorar o deus dinheiro.

Segundo Francisco, "nós escandalizamo-nos quando, através da informação, descobrimos mentiras e enganos na vida das pessoas e na sociedade". "Mas, vamos também dar um nome às falsidades que existem dentro de nós! E coloquemos essas nossas opacidades diante da luz de Jesus ressuscitado. Ele quer levar à luz as coisas escondidas, para nos tornar testemunhas transparentes e luminosas da alegria do Evangelho, da verdade que nos liberta", concluiu o Papa, pedindo "a Maria, Mãe do Ressuscitado, que nos ajude a vencer os nossos medos e nos conceda a paixão pela verdade".

VN

17 abril 2022

Homilia no Domingo de Páscoa da Ressurreição do Senhor

 

 

Para entender finalmente a Escritura

Ouvimos há pouco a Maria Madalena: «Levaram o Senhor do sepulcro e não sabemos onde O puseram…». Pois bem, nós estamos aqui neste dia inteiramente pascal porque sabemos onde Ele está. Como direis daqui a pouco: «Ele está no meio de nós!».
Aliás, também a discípula o soube e logo ali bem perto, quando Ele a chamou pelo nome. E depois os discípulos, quando nesse primeiro Domingo Jesus não precisou que lhe abrissem a porta da sala onde estavam para se apresentar no meio deles. E, daí até hoje, é a mesma presença que reconhecemos, preenchendo todo o espaço e todo o tempo: «Ele está no meio de nós!» E dizemo-lo com uma certeza surpreendente, que antecede tudo mais, como evidência que se impõe e o tempo não dilui.
Sim, poderei dizer por todos vós, que a presença de Cristo não é apenas memória do que disse e fez, como desde há dois milénios é transmitida. Não pensamos nele como em mais uma figura do passado, memorável que fosse por algum feito realizado. Guardamos certamente essas figuras e o seu legado, reconhecendo nelas o melhor que a humanidade atingiu e nos legou. Não é pouco e é sobretudo justíssimo que o façamos.
Mas com Jesus Cristo é diferente. Diferente porque não é passado só, mas presente hoje, como será amanhã. Preencheu tão totalmente o pouco espaço-tempo que foi o seu que o alargou a toda realidade em qualquer ocasião que seja. Sim, ressuscitou naquela altura precisa, a seguir ao silêncio do sábado. Mas, sobretudo sim, aí despontou o Domingo que não tem ocaso e o faz contemporâneo de cada um de nós. Assim o experimentamos e confessamos, como companhia permanente e total. Aliás, espera-nos agora aonde nos precede, em toda Galileia deste universo em expansão.
A Páscoa de Jesus abrange-nos como o fez a Saulo na estrada de Damasco, reduzindo tudo o que estava para trás a expetativa ou indício, finalmente compreendido. Trata-se duma presença que relativiza ou inclui todas as outras. A Páscoa de Jesus é um acontecimento absoluto, que reconfigura tudo o mais.

Com ela “ressuscitaremos para a luz da vida”, como pediu a oração coleta. Por isso o batismo que recebemos se chama também “iluminação”. Dêmo-nos conta de que efetivamente assim é, pois que o modo como vemos as coisas, próprias e alheias, só à luz da ressurreição de Cristo se consegue explicar.
Falei do batismo e devo dizê-lo mais devagar. Na antiga definição do sacramento, é obra da graça divina, mas pressupõe que não haja óbice da nossa parte. Daí a consciência que requer a quem o recebe e a quem o pede para outrem. Como acontecia com os primeiros cristãos e ainda sucede agora onde não há liberdade religiosa, implica risco e compromisso. Não se trata de tingir religiosamente a vida que se leva ou quer levar; trata-se, isso sim, de mergulhar profundamente na Páscoa de Cristo, para emergir diferente, com tudo o que ela exige e nos oferece além de nós.
Há inegavelmente um antes e um depois de Cristo, tanto na história do mundo como na história pessoal de cada um. Não é difícil aos historiadores verificarem que assim é, tal a diferença entre o que as culturas e civilizações tocadas pela mensagem cristã foram manifestando no modo de entender a dignidade humana, a relação com os outros e a presença no mundo e o que outras maneiras de ver tinham ou continuam a ter.
Igualmente no que a cada pessoa diz respeito. - Algum de nós pensaria como pensa, sobre si e sobre os outros, sobre a vida e sobre a morte, sobre o sentido ou não-sentido das coisas, se não reconhecesse a Jesus como o Cristo e não O sentisse em si e junto a si, nos múltiplos sinais da sua presença e nas constantes interpelações que vai fazendo?!
Interpelações constantes e redobradas agora, em tempo de profundas mudanças na cultura e na civilização, porque tanto tocam a valorização das coisas como a organização da vida coletiva. Não há campo em que a questão não se ponha e tudo nos coloca hoje numa situação semelhante à daqueles que primeiro viveram a ressurreição de Cristo. Precisamente aqueles que a essa luz pascal perceberam o que realmente vale.
No Ressuscitado compreenderam que a vida se ganha quando se oferece e que viver em Cristo é viver com os outros e para os outros, solidários como Ele foi e nos ensina a ser com todos e cada um, a começar pelos mais frágeis e injustiçados. Precisamente com esses se identificou Cristo crucificado. É estando com eles que mais estamos com Cristo, que assim mesmo ressuscitou.

Isto nos leva à última frase do Evangelho de há pouco. Diz que os discípulos «ainda não tinham entendido a Escritura, segundo a qual Jesus havia de ressuscitar dos mortos».
Assim como já respondemos a Maria Madalena, dizendo que sabemos onde está o Senhor, digamos agora aos discípulos que sim, que entendemos a Escritura, segundo a qual Jesus havia de ressuscitar dos mortos. E respondamos convictamente tanto a uma como a outra interpelação.
Na verdade, toda a Escritura que antecede a vida de Jesus só encontra “pleno cumprimento” no movimento total que o nunca por demais citado hino da Carta aos Filipenses nos entoa: Sendo de condição divina, Cristo esvaziou-se a si mesmo, tomando a condição de servo e até à morte e morte de cruz; por isso mesmo Deus o elevou acima de tudo e lhe concedeu o nome que está acima de todo o nome (cf. Fl 2, 6 ss).
A promessa feita a Abraão pressupôs também alguma “morte”, no sentido em que perdeu a sua terra e se dispunha a perder o próprio filho. A saída do cativeiro egípcio pressupôs a “morte” de Moisés como príncipe, para se retomar como condutor do povo de Deus. A promessa feita a David viria a concretizar-se bem depois, quando daquele reino já não restava senão a profecia – e como esta se realizou em Jesus, de modo tão inesperado e despossuído de si.
Ressuscitar é renascer de Deus e inteiramente d’Ele, pressupondo o esvaziamento de nós próprios e do que desejaríamos só por nós. Ou melhor, convertendo o que em nós exista de aspiração pessoal mais profunda no perfeito cumprimento da vontade divina, para que seja esta a conduzir-nos, da crucifixão à glória.
Sabendo também que a vontade divina tanto nos quer a nós como quer a todos – e a todos nos oferece como sinais do seu amor. Por isso mesmo a cruz gloriosa tanto nos ergue para o Pai como nos oferece aos irmãos, na haste que se eleva e nos braços que se estendem.
Concretizar hoje mesmo esta verdade, na ação de graças que nos mantém em Deus e no serviço concreto que prestarmos aos outros, é viver a Páscoa por que o mundo espera. Sim, já entendemos que o caminho da ressurreição passa sempre pela cruz. Pois não se trata de fazer o que faríamos sozinhos, mas de oferecer aos outros o que só Deus em nós gera. Assim aconteceu com Cristo e por isso o temos redivivo e tão presente. Assim acontecerá connosco, quando a sua Páscoa for a nossa vida.
Entendeu-o São Paulo, quando também morreu para si e se ganhou em Cristo, dizendo-o depois em frases memoráveis, como esta, que indica um integral percurso cristão: «… Assim posso conhecê-lo a Ele, na força da sua ressurreição e na comunhão com os seus sofrimentos, conformando-me com Ele na morte, para ver se atinjo a ressurreição de entre os mortos» (Fl 3, 10-11).
Façamos Páscoa em nós, para a alargar aos outros em cada momento que seja. Quando morrer totalmente o egoísmo que aliás nos mataria, seja individual seja coletivamente; quando o bem dos outros imperar nas nossas escolhas e atitudes; quando a vontade de Deus nos levar ao serviço de cada um, começando pelos que mais nos requeiram: então o coração alarga-se e a ressurreição desponta. - Cristo está no meio de nós e por nós no meio de todos!

Sé de Lisboa, 17 de abril de 2022

+ Manuel, Cardeal-Patriarca

Patriarcado de Lisboa