05 janeiro 2022

Francisco: adoção, uma das formas mais elevadas de amor, paternidade e maternidade

 
 
"Vivemos numa época de orfandade notória. A nossa civilização é um pouco órfã e sente-se essa orfandade. Muitos casais não têm filhos porque não querem ou têm um só e chega, mas têm dois cachorros, dois gatos que tomam o lugar dos filhos. Renegar a paternidade e a maternidade ninui-nos, tira a nossa humanidade", disse o Papa na Audiência Geral, durante a catequese sobre S. José como pai putativo de Jesus.
 

Mariangela Jaguraba - Vatican News

Na catequese da Audiência Geral desta quarta-feira (05/12), realizada na Sala Paulo VI, no Vaticano, o Papa Francisco meditou sobre S. José como pai putativo de Jesus.

Como pai oficial de Jesus, José exerce o direito de impor o nome ao filho, reconhecendo-o juridicamente. Antigamente o nome era o compêndio da identidade de uma pessoa. Dar o nome a alguém ou a algo significava afirmar a própria autoridade sobre o que era denominado, como fez Adão quando atribui um nome a todos os animais.

Época de orfandade notória

José sabe que para o filho de Maria havia um nome estabelecido por Deus: “Jesus”, que significa “O Senhor salva”, como o Anjo lhe explicou: «Porque ele salvará o povo dos seus pecados». "Este aspeto particular da figura de José permite-nos refletir hoje sobre a paternidade e a maternidade", disse o Papa, acrescentando:

Acredito que seja muito importante pensar na paternidade hoje, porque vivemos numa época de orfandade notória. É curioso! A nossa civilização é um pouco órfã e sente-se essa orfandade. Que S. José, no lugar do verdadeiro pai, Deus, nos ajude a entender como resolver o sentimento de orfandade que nos faz muito mal, hoje.

Segundo Francisco, "não é suficiente pôr um filho no mundo para dizer que também somos pais ou mães". «Não se nasce pai, torna-se. E não se torna pai, apenas porque colocou no mundo um filho, mas porque cuida responsavelmente dele. Sempre que alguém assume a responsabilidade pela vida de outra pessoa, em certo sentido exerce a paternidade a seu respeito», disse o Papa referindo-se a um trecho da Carta apostólica Patris corde.

Não ter medo de escolher o caminho da adoção

O Papa citou, em particular, "todos aqueles que se abrem a acolher a vida através da via da adoção que é um comportamento generoso, bonito. José mostra.nos que este tipo de vínculo não é secundário, não é uma alternativa. Este tipo de escolha está entre as formas mais elevadas de amor e de paternidade e maternidade. Quantas crianças no mundo estão à espera de alguém que cuide delas! E quantos cônjuges desejam ser pais e mães, mas não conseguem por razões biológicas; ou, embora já tenham filhos, querem partilhar o afeto familiar com quantos não o têm. Não devemos ter medo de escolher o caminho da adoção, de assumir o “risco” do acolhimento".

“Hoje, com a orfandade existe um certo egoísmo. Noutro dia, falava eu sobre o inverno demográfico que existe hoje. Vê-se que as pessoas não querem ter filhos ou têm um e acabou. Muitos casais não têm filhos porque não querem ou têm um só e chega, mas têm dois cachorros, dois gatos que tomam o lugar dos filhos. Sim, é engraçado, entendo, mas é a realidade. Renegar a paternidade e a maternidade diminui-nos, tira a nossa humanidade.”

Maternidade e paternidade, plenitude da vida de uma pessoa

Segundo o Papa, deste modo "a civilização torna-se mais velha e sem humanidade, porque perde-se a riqueza da maternidade e paternidade e quem sofre é a Pátria que não tem filhos. Como dizia alguém humoristicamente: "E agora quem pagará os impostos para a minha aposentação se não há filhos? Quem cuidará de mim? Peço a S- José a graça de despertar as consciências e a pensar nisto: ter filhos", disse ainda Francisco, afirmando que "a maternidade e a paternidade é a plenitude da vida de uma pessoa".

Existe a paternidade espiritual para quem se consagra a Deus e a maternidade espiritual, mas aqueles vivem no mundo e casam-se, pensem em ter filhos, a dar a vida, pois serão eles que fecharão os seus olhos, que aprenderão de vós para o futuro. Se vocês não puderem ter filhos, pensem na adoção. É um risco, sim. Ter um filho é sempre um risco, tanto natural como de adoção, porém, é mais arriscado não ter. Mais arriscado é negar a paternidade, negar a maternidade, tanto real como espiritual. Um homem e uma mulher que não desenvolvem o sentido da paternidade e maternidade, falta-lhe alguma coisa de principal, importante. Pensem nisto, por favor.

Instituições prontas para ajudar na adoção

Francisco espera "que as instituições estejam sempre prontas para ajudar neste sentido da adoção, controlando seriamente, mas também simplificando o procedimento necessário para que se realize o sonho de tantos pequeninos que precisam de uma família, e de tantos cônjuges que desejam entregar-se com amor". O Papa então contou o testemunho de um médico, muito importante, que com a sua esposa resolveram adotar um filho. "Quando chegou o momento, foi-lhes oferecida uma criança e alguém disse: "Não sabemos como será a saúde dela. Talvez terá alguma doença". O médico então disse: "Se você me tivesse dito isso antes, talvez eu tivesse dito não. Mas eu o vi-o: levo-o". Este é o desejo de ser pai, de ser mãe na adoção também. Não tenham medo disto".

"Rezo para que ninguém se sinta sem um vínculo de amor paterno. Que S. José exerça a sua proteção e a sua ajuda sobre os órfãos; e que interceda pelos casais que desejam ter um filho", concluiu o Papa.

VN

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