11 setembro 2021

O Papa ao Fórum Inter-religioso do G20: libertar o sagrado da violência e do fundamentalismo

 

 Imagem sobre ataques contra igrejas em Sri Lanka 

 
Numa mensagem ao evento, o Papa Francisco citou os ataques contra os lugares de culto e exorta as pessoas a servirem a verdade, combater o analfabetismo religioso e educar para a paz, quarto "P" que poderia ser acrescentado à agenda do G20. "Que venham à tona os interesses e tramas, muitas vezes obscuros, de quem fabrica violência".
 

Benedetta Capelli/Mariangela Jaguraba – Vatican News

Não é tempo de divisões, mas de unidade, de busca comum de soluções para os problemas de todos. É um tempo de memória comum dos irmãos mortos em lugares de culto, é tempo de paz a ser construído juntos. É o que reitera Francisco na sua mensagem ao Fórum Inter-religioso do G20 marcado para domingo, 12 de setembro, até ao próximo dia 14, em Bolonha, Itália, cidade com uma antiga universidade, "que a fez sempre aberta, educando cidadãos do mundo e lembrando que a identidade à qual se pertence é a da casa comum, da universitas", escreve o Papa.

O Pontífice enquadra o horizonte de partilha de ideias e esperanças que a iniciativa envolve, destacando a intenção de promover "o acesso aos direitos fundamentais, sobretudo à liberdade religiosa, e de cultivar fermentos de unidade e reconciliação onde a guerra e o ódio semearam morte e mentira". O seu olhar vai da terra ao céu, da fraternidade à concórdia que são um reflexo no mundo da paternidade de Deus.

Devemo-nos ajudar a libertar o horizonte do sagrado das nuvens escuras da violência e do fundamentalismo, fortalecendo-nos na convicção de que "o Além de Deus envia-nos ao além do irmão". Sim, a verdadeira religiosidade consiste em adorar a Deus e amar o próximo.

A "temperatura" da religiosidade

Na sua mensagem, o Papa mostra, com dados em mãos, que no âmbito religioso estamos a assistir a uma "mudança climática". Nos últimos 40 anos", explica ele, "houve quase 3 mil ataques e cerca de 5 mil mortes em vários lugares de culto, naqueles espaços que deveriam ser protegidos como oásis de sacralidade e fraternidade". Ele recorda que "quem blasfema o nome santo de Deus, perseguindo os seus irmãos e irmãs, encontra financiamento facilmente". Além disto, difunde-se de forma descontrolada a pregação incendiária de quem incita ao ódio em nome de um falso deus".

Educar para não alimentar a violência fundamentalista

O primeiro remédio, diz o Papa, é "servir a verdade e declarar sem medo e dissimulação o mal quando ele é mau, especialmente quando é cometido por quem se diz seguidor do nosso credo". Outra solução é combater o analfabetismo religioso que atravessa todas as culturas.

É uma ignorância difundida que reduz a experiência da crença a dimensões humanas rudimentares e seduz as almas vulneráveis a aderirem a slogans fundamentalistas. Mas, combater não basta. Precisamos de educar, promovendo um desenvolvimento equitativo, solidário e integral que aumente as oportunidades de escolarização e educação, porque onde reina a pobreza e a ignorância, é mais fácil que a violência fundamentalista crie raízes.

A memória do irmão

Francisco gosta da proposta de estabelecer uma memória comum para recordar quem foi morto num lugar de oração. A resposta ao assassinato do irmão, enfatiza ele, é a busca do irmão.

Protejamos juntos a memória comum de nossos irmãos e irmãs que sofreram violência. Ajudemo-nos com palavras e gestos concretos para combater o ódio que quer dividir a família humana!

O caminho para a paz está na justiça

Não há armas que possam responder à violência, excepto as do perdão e ajuda.

"Não mataremos uns aos outros, nos ajudaremos, nos perdoaremos." São compromissos que exigem condições difíceis - não há desarmamento sem coragem, não há ajuda sem gratuitidade, não há perdão sem verdade - mas que constituem o único caminho possível para a paz. Sim, porque o caminho para a paz não se encontra nas armas, mas na justiça.

O Papa fez um apelo aos líderes religiosos à responsabilidade de combater o mal "no oração", "na concórdia" e "na força paciente e construtiva da solidariedade".

Porque somente isto é realmente digno do ser humano, e porque Deus não é o Deus da guerra, mas da paz.

O ius pacis

A invocação final de Francisco é forte: "Não sejam neutros, mas tomem posição pela paz". Sim ao "ius pacis, como o direito de todos de resolver conflitos sem violência".

É por isso que repetimos: nunca mais a guerra, nunca mais contra os outros, nunca mais sem os outros! Que venham à tona os interesses e tramas, muitas vezes obscuros, de quem fabrica violência, alimentando a corrida armamentista e pisoteando a paz com negócios.

Recordando os três "Ps" que estão guiando a presidência italiana em direção à cúpula do G20 no final de outubro (Pessoas, Planeta e Prosperidade), o Papa propõe um quarto P, o da Paz, olhando também para a urgência do clima e da migração.

Realmente, não é mais tempo para alianças de uns contra os outros, mas para uma busca comum de soluções para os problemas de todos. Os jovens e a história nos julgarão sobre isso. E vocês, queridos amigos, se uniram para isso. Portanto, agradeço-lhes de coração e os encorajo, acompanhando-os com minhas orações e invocando a bênção do Altíssimo sobre cada um de vós.

VN

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