30 abril 2021

Papa Francisco: promover a sinodalidade, não um parlamento católico

 

 Pontífice recebeu  a delegação da Ação Católica Italiana, na manhã desta sexta feira (30) 
 
 
O Pontífice recebeu no Vaticano em audiência, nesta sexta feira (30), os membros do Conselho Nacional da Ação Católica Italiana (ACR). O discurso do Papa aprofundou o nome da própria associação de leigos exortando para um contínuo trabalho de gratuiticidade, humildade e proximidade às pessoas, sobretudo durante a pandemia. Ao enaltecer a importância da experiência sinodal em Itália, Francisco alertou sobre armadilhas que seduzem as associações, como o funcionalismo e a tentação de se fazer um "parlamento católico" - que não é sinodalidade.

 

Andressa Collet – Vatican News

O Papa Francisco, através de um telegrama, tinha já feito a sua saudação aos delegados e assistentes regionais e diocesanos da Ação Católica Italiana (ACR) em virtude da XVII Assembleia Nacional que começou no último domingo (25), em modalidade on-line, e depois de ser prorrogada por um ano devido à emergência sanitária da Covid-19. Nesta sexta feira (30), o Pontífice recebeu na Sala Clementina, no Vaticano, um grupo de cerca de 80 pessoas do Conselho Nacional e da Presidência da associação de leigos.

O discurso do Pontífice aprofundou as palavras que compõem o próprio nome da ACR: ação, católica e italiana, em particular, no período atual, marcado pela pandemia.

“Ação” do Senhor e com o Espírito, sem armadilhas

Ao começar a reflexão sobre “ação”, o Papa propõe repensar o que significa esta palavra, mas, sobretudo, por quem é realizada a ação. O Evangelho assegura, explica ele, que “o agir pertence ao Senhor”, o que não significa livrarmo-nos da responsabilidade, “mas traz-nos de volta à nossa identidade como discípulos-missionários”. Além disto, recorda Francisco, nunca se deve “perder de vista o facto de que é o Espírito é a fonte da missão: a sua presença é causa - e não efeito - da missão”, e ter muito cuidado para não cair “na ilusão do funcionalismo”: porque programas e organogramas são úteis, mas o que faz avançar o Reino de Deus é o Espírito:

“É triste ver quantas organizações caíram na armadilha dos organogramas: tudo perfeito, todas as instituições perfeitas, todo o dinheiro necessário, tudo perfeito ... Mas diga-me, a fé onde está? O Espírito, onde está? ‘Não, estamos a procurá--Lo juntos, sim, de acordo com o organograma que estamos a fazer’. Tenham cuidado com o funcionalismo. Cuidado para não cair na escravidão dos organogramas, das coisas perfeitas, bem ... O Evangelho é desordem porque o Espírito, quando chega, faz tanto barulho que a ação dos apóstolos parece a ação de bêbados. Assim diziam: ‘são bêbados!’ A docilidade ao Espírito é revolucionária, porque Jesus Cristo é revolucionário, porque a encarnação é revolucionária, porque a ressurreição é revolucionária. A vossa mensagem também deve ter esta característica revolucionária.”

Desta forma, os próprios percursos de formação da Ação Católica devem escutar e acolher o Evangelho, com uma forte ligação entre o que se escuta e o que se vive, principalmente, neste período de pandemia que impôs “a cada um de nós de enfrentar o inesperado”. O Papa aconselha “acolher o inesperado, em vez de ignorá-lo ou rejeitá-lo”, com as características que devem permear o serviço da associação de leigos, como: a humildade e mansidão, através de uma “presença fiel, generosa e responsável”; mas, antes de tudo, com a gratuidade.

“O impulso missionário não vos coloca a lógica da conquista, mas naquela da doação. A gratuiticidade, fruto maduro do vosso dom, pede-vos que se dediquem às nossas comunidades locais, assumindo a responsabilidade do anúncio; pede que escutem os seus territórios, sentindo as suas necessidades, entrelaçando relações fraternas. A história da Associação é feita de muitos ‘santos da porta ao lado’, muitos!, e é uma história que deve continuar: a santidade é uma herança a ser preservada e uma vocação a ser acolhida.”

"Católica" como a proximidade

Ao abordar a palavra “católica” que qualifica a identidade da associação, o Papa explica que “a missão da Igreja não tem limites”. Assim como aconteceu com os discípulos, a tarefa da Ação Católica também deve ser, estar "com todos e para todos" (cf. Evangelii Gaudium, 273), acrescenta Francisco - e justamente porque vocês são uma associação de leigos, “uma riqueza para a catolicidade da Igreja”.

Além disto, “a vossa experiência  associativa é ‘católica’ porque envolve crianças, jovens, adultos, idosos, estudantes, trabalhadores: uma experiência do povo”, um “caráter popular” que não pode ser perdido e prejudicado pela indiferença e pela frieza, destaca o Papa. De facto, em toda a Itália, eles são convidados a viver e testemunhar o Evangelho no dia a dia, “em família, no trabalho, na escola, no serviço eclesial, no empenho político, cultural e social”, como lembrou o presidente nacional da Ação Católica, professor Matteo Truffelli, ao saudar Francisco na audiência.

“A palavra ‘católica’ pode, portanto, ser traduzida pela expressão ‘estar próximo’, porque é universal, ‘estar próximo’, mas de todos. O tempo da pandemia, que exigiu e continua a exigir que aceitemos formas de distanciamento, tornou ainda mais evidente o valor da proximidade fraterna: entre pessoas, entre as gerações, entre os territórios. Ser uma associação é precisamente uma forma de expressar este desejo de viver e de acreditar, juntos.”

"Italiana": a experiência sinodal com a presença do Espírito

Francisco finaliza o discurso ao Conselho Nacional da Ação Católica, refletindo sobre o termo ‘italiana’, uma oportunidade para “ajudar a comunidade eclesial da Itália a ser fermento de diálogo na sociedade”, afinal, “uma Igreja do diálogo é uma Igreja sinodal” que precisa de ser “encarnada”, recorda o Papa. E quando se fala em sinodalidade, não significa “fazer um parlamento” só para discutir problemas através acordos para soluções pastorais: “isto é um belo parlamento católico”, mas não é sinodalidade, alerta o Papa, porque falta a presença do Espírito para se tornar uma experiência sinodal: “a oração, o silêncio, o discernimento de tudo o que partilhamos”.

“Nesse sentido, a Associação constitui um ‘academia’ de sinodalidade, e esta vossa atitude tem sido e pode continuar a ser um recurso importante para a Igreja italiana, que se questiona sobre como amadurecer este estilo a todos os níveis. [...] Fazer sínodo não é olharmo-nos para o espelho, nem mesmo para a diocese ou para a Conferência Episcopal, não, não é isto. É caminhar juntos com o Senhor e em direção ao povo, sob a orientação do Espírito Santo.”

VN

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