Antonella Palermo – Vatican News
A terceira meditação sobre o caminho da Quaresma de Dom Giacomo Morandi, secretário da Congregação para a Doutrina da Fé - realizada como parte do ciclo "Redimidos do pecado, anunciadores do Evangelho", detém-se no chamamento do cristão à alegria, retomando o capítulo 2 do Evangelho de Marcos no qual são descritas as reações perplexas dos escribas e fariseus diante da falta de respeito da tradição do jejum semanal por parte dos discípulos de Jesus.
O encontro com Jesus transfigura a nossa humanidade
Quando questionado pelos escribas e fariseus sobre a sua não aderência às normas transmitidas, como o jejum, Jesus responde tentando fazê-los compreender o novo caráter do tempo em que estão a viver. "Não é uma questão de acrescentar mais algumas práticas, mas de compreender como o encontro com Jesus leva os homens a revisitarem completamente as suas vidas", explicou o prelado, lembrando as duas imagens: a do remendo novo colocado sobre um vestido velho, e a do vinho novo colocado em odres velhos. Em ambos os casos, o efeito é de arruinar, dispersar o antigo e o novo. "Muitas vezes - aponta o prelado – no nosso caminho de conversão somos tentados a encontrar modalidades de compromisso, queremos concretamente continuar a vida que levamos sem introduzir mudanças radicais. Talvez na Quaresma façamos algum pequeno sacrifício, alguma renúncia, mas 0 nosso modo de vida não muda nas profundezas". Resumindo, queremos mudar, mas não demais. Em vez disto, Jesus quer que compreendamos que, no momento em que o encontramos, a plenitude que brota é tal que toda a nossa humanidade é transfigurada.
Guardando um tesouro
Dom Morandi insiste na necessidade de tomar consciência de que um encontro com Cristo é um encontro com um grande tesouro, com algo extraordinário que inevitavelmente traz mudanças. Daí o facto de que as nossas obras são uma resposta a esta intuição, e não o contrário. “A ascese é sempre uma resposta, nunca é um ponto de partida – explica ainda o bispo – age a partir do desejo de salvaguardar um tesouro. Nesta perspetiva, somos naturalmente levados a não desperdiçá-lo, a não deixar que seja levado por outros”.
Não colocar "remendos" na nossa vida
A primeira conversão verdadeira é ser e viver na alegria, o primeiro sinal de que algo importante aconteceu entre nós e o Senhor. Este é um aspeto no qual o prelado concentra-se muito, citando também um grande autor inglês, Lewis, que intitulou a história da sua própria conversão "Surpreendido pela alegria". Trata-se de ativar uma mudança não apenas no coração, mas também na maneira de agir. Jesus diz: não pensem em fazer uma restauração conservadora. "Somos especialistas neste tipo de trabalho: os arquitetos até nos dizem que é muito caro - adverte o prelado - devemos, ao icontrário disso, evitar colocar remendos nas nossas vidas. Tornar-mo-nos uma nova realidade implica fechar certas portas, fazer escolhas corajosas, dizer não, mesmo que severas, porque dissemos um grande sim ao Senhor. Isto estabelecerá firmemente nosso itinerário de conversão". E dá como exemplo renunciar à Internet porque queremos estar com Jesus.
O caminho da conversão é sempre um caminho de alegria
Voltando à imagem do vinho novo, como podemos não mencionar o episódio das núpcias de Caná? "Os estudiosos dizem que a quantidade de vinho que resultou do milagre teria sido cerca de 600 litros de vinho, de muito boa qualidade". Para dizer que foi um rio de vinho derramado sobre o casamento em Caná". A catequese conclui reiterando que o vinho está sempre associado à alegria: é repetido em Síracle, nos Salmos (cf. "o vinho que alegra o coração do homem... o azeite que faz brilhar o seu rosto..."), na Carta aos Gálatas, quando Paulo enumera os frutos do Espírito e fala principalmente de amor e alegria. "Eliminemos tudo o que compromete esta alegria", recomenda Dom Morandi, "para que a alegria que brota do encontro com Ele possa ser visível aos nossos rostos".
VN
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