24 janeiro 2021

Domingo III do Tempo Comum - “Que ninguém desista de viver porque nós nunca desistiremos de conviver”

 

 

Na Missa deste Domingo, o Cardeal-Patriarca de Lisboa apelou à defesa da vida, desde a “conceção à morte natural”, e garantiu a “proximidade de todos os sacerdotes” neste tempo de suspensão das celebrações litúrgicas comunitárias. “Como só a caridade explica esta atuação, a eficácia não será menor, poderá mesmo ser maior”, garantiu.

Na paróquia do Parque das Nações, o Cardeal-Patriarca de Lisboa lembrou os que estão na linha da frente no combate à pandemia, em particular os profissionais de saúde, e apelou à defesa da vida. “Porque o direito à vida é realmente inviolável – como diz a nossa Constituição –, temos que estar com todos, sobretudo com aqueles que mais sofrem, para criarmos uma sociedade que seja verdadeiramente paliativa, que quer dizer ‘que envolve’, ‘que protege’, que não deixe ninguém só. E que, nem em termos de comportamento ou em termos legais se faça o contrário e se entre numa rampa deslizante que nos levaria muito mal e muito longe – no sentido mais negativo do termo. Estejamos onde Jesus está, em todas as fronteiras da vida de uma convivência completa”, exortou D. Manuel Clemente, deixando o apelo para que “ninguém desista de viver porque nós nunca desistiremos de conviver”. “Assim, o Reino de Deus acontece e completa-se em cada ato de caridade porque a caridade nunca acabará”, reforçou.

“Valor mais alto”
Segundo o Cardeal-Patriarca, é precisamente o “valor mais alto a defender, o valor primeiríssimo de tudo, o valor da vida” que também está na origem da suspensão das Missas com a presença de fiéis. Através da transmissão da celebração pela TVI, D. Manuel Clemente afirmou que os cristãos “acreditam no Deus da Vida e, por isso mesmo, a vida tem que ser defendida em todas as circunstâncias, muito especialmente agora em que somos tão atacados por esta terrível pandemia, com esta grande expansão de contágios que temos que estancar o melhor que pudermos e soubermos, para assim apoiarmos todos aqueles que estão na primeira linha de combate e que levam por diante esta luta”.

A realidade do Reino de Deus
Na homilia da celebração, o Cardeal-Patriarca refletiu sobre as palavras de Jesus, proferidas no Evangelho da celebração – ‘Cumpriu-se o tempo e está próximo o reino de Deus’ –, para mostrar que o Reino de Deus acontece, hoje, na adesão a Jesus. “Se quisermos saber o que é o Reino que Jesus afirma, olhemos para Jesus, (...) para a sua atenção a tudo e a todos, e nas mais diversas circunstâncias, em todo o leque da existência de cada um, da conceção à morte natural. É assim que Deus reina neste mundo. Não é uma realidade política, não é uma realidade de qualquer outra ordem que não seja esta que acontece nos corações e que depois se manifesta nas vidas e nos comportamentos renovados”, assegurou.

Tempo completo
De seguida, D. Manuel Clemente questionou os fiéis sobre “como é que o Reino acontece e o tempo se completa” e afirmou que esta Palavra – neste Domingo especialmente dedicado à Palavra de Deus – “é para agora e nas atuais circunstâncias tão difíceis que atravessamos, onde tanta gente morre, trata e cuida daqueles que pode tratar, alargando ao máximo a sua disponibilidade e capacidade”. O tempo completa-se agora “porque é vivido plenamente, solidariamente, numa solidariedade total, fazendo ou deixando de fazer conforme o interesse e o bem dos outros”, afirmou o Cardeal-Patriarca, concretizando em alguns exemplos. “Aí mesmo, na vossa casa, onde agora há um cuidado para quem precisa de cuidado, onde pode haver um telefonema para quem esteja só e precise de uma voz amiga, onde pode haver uma transmissão telemática para estarmos com os outros, onde pode haver um momento de boa vontade reforçada para que aquele irmão ou irmã que esteja triste fique alegre, onde pode haver um gesto de boa vontade... Aí, o Reino acontece e o tempo completa-se. É um tempo completo porque a caridade nunca acabará”, afirmou. “Quando acontece isto em todos os patamares da vida social e política, então o Reino acontece porque as coisas de Jesus continuam a acontecer e as coisas de Jesus são coisas finais, tempos completos e vidas realizadas. Estejamos deste lado e não deixemos que ninguém desista de viver porque nós nunca desistiremos de conviver, de estar com os outros”, apelou D. Manuel Clemente. 

Proximidade
No final da celebração, o Cardeal-Patriarca dirigiu-se a quem assistia à transmissão, em direto, na TVI, para assegurar a proximidade de “todos os sacerdotes deste país” que, “embora não podendo celebrar com o povo”, “celebram pelo povo”. “E como só a caridade explica esta atuação, neste momento tão difícil para nós, a eficácia não será menor, poderá mesmo ser maior”, prosseguiu. “Mesmo aqueles que, nas suas casas, comungam espiritualmente, não comungam menos realmente, porque é assim que comungam com Cristo para que o bem de todos seja garantido”, afirmou D. Manuel Clemente, assegurando que “a oração da Igreja e a presença dos crentes” é já uma realidade visível “em todas as frentes da luta contra esta pandemia”. “O Reino de Deus começa onde Cristo está e onde Cristo, na vida dos cristãos, agora se desdobra em tantas orações e atuações que realmente salvam”, frisou.

Patriarcado de Lisboa

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