31 dezembro 2021

Mãe de Deus, Mãe do mundo: o “retrato” de Maria segundo o Papa Francisco

  Papa Francisco diante da imagem de Nossa Senhora  (Vatican Media) 

 
Antídoto ao individualismo, fonte de vida, esperança e verdadeira alegria: em oito anos do seu pontificado, Francisco desenhou um verdadeiro “retrato” da Virgem Maria, indicando-a como um modelo a ser seguido pelas mulheres de hoje.
 

Isabella Piro – Vatican News

Alguém as definiu como “equilibristas”: são as mães italianas com filhos menores, sempre divididas, tentando equilibrar a família e o trabalho. De acordo com o último relatório da Save the children, publicado em maio deste ano, existem na Itália pouco mais de 6 milhões de mulheres que se encontram nessa situação. Em 2020, ano que a pandemia da Covid-19 explodiu, muitas dessas mães foram penalizadas pelo mercado de trabalho. Um dos principais motivos, foi a carga de trabalho doméstico e de cuidados que elas tiveram que suportar durante os períodos em que creches e escolas estavam fechadas. De 249 mil mulheres que perderam seus empregos em 2020, observa o estudo, 96 mil são mães com filhos menores de idade. Entre elas, 4 de cada 5 mulheres, têm filhos com menos de 5 anos. Além disso, as mulheres italianas se tornam mães pela primeira vez, sempre mais velhas (32,2 anos), em comparação com a média de idade na União Europeia (29,4 anos). Outra dificuldade enfrentada pelas mães de todo o mundo, destaca a Organização internacional do Trabalho (OIT), é que apenas 45% das mães com recém-nascidos recebem um subsídio de maternidade.

Maria Nossa Mãe

A pergunta que fica: o que fazer para melhorar essa situação? Além das mudanças radicais necessárias no mercado de trabalho, no sustendo da família e na promoção do papel da mulher na sociedade, os cristãos e todas as pessoas de boa vontade têm um recurso adicional: podem recorrer a Maria, Mãe de Deus. Ela representa o modelo de mulher e mãe por excelência. Suas características foram bem definidas pelo Papa Francisco em oito anos de pontificado. Ao reler as homilias proferidas por ele entre 2014 e 2021, na solenidade de Maria Santíssima Mãe de Deus, que cai no dia 1º de janeiro, emerge um verdadeiro “retrato” da Santíssima Virgem, do qual as mulheres de hoje podem se inspirar. “Fonte de esperança e de verdadeira alegria”, Maria não é só Mãe de Deus, mas também “nossa Mãe”. Maria é Aquela que “nos procede e nos confirma continuamente na fé, na vocação e na missão – disse Francisco em 2014 – com seu exemplo de humildade e disponibilidade à vontade de Deus. Ajuda-nos a traduzir nossa fé em um anúncio alegre e sem fronteiras do Evangelho. Assim a nossa missão será fecunda, porque se baseia na maternidade de Maria”.

Jesus não pode ser compreendido sem sua Mãe

Além disso, a “relação muito próxima” de Maria com Jesus é central, pois é algo natural “entre a criança e sua mãe”. “O corpo de Cristo – sublinhou o Papa em 2015 – foi tecido no seio de Maria”, criando efetivamente uma “inseparabilidade”. Isto quer dizer que Maria “está unida a Jesus porque teve o conhecimento do coração dele, o conhecimento da fé, alimentada pela sua experiência materna e pelo vínculo íntimo com seu Filho. É por isso que Jesus não pode ser compreendido sem sua Mãe”, afirmou Francisco.

Com Maria aprende-se o significado dos acontecimentos

Aquela que “acreditou na palavra do Anjo” representa o cumprimento de “uma antiga promessa” e a concretização da “plenitude dos tempos”. Nesse sentido – explicou o Pontífice em 2016 – Maria se apresenta a nós como “um vaso sempre cheio da memória de Jesus, sede de sabedoria, do qual se pode ‘retirar’ para ter uma interpretação coerente do seu ensinamento”. Na prática, disse Francisco, Nossa Senhora nos permite “captar o significado dos acontecimentos que nos afetam pessoalmente, nossas famílias, nossos países e o mundo inteiro”, graças à “força da fé que traz a graça do Evangelho de Cristo”.

Antídoto contra o individualismo e o egoísmo

Mas há um aspecto, em particular, graças ao qual Maria pode ser um ponto de referência para todas as mulheres de hoje. Foi isto que o Papa recordou em 2017. “Ser antídoto mais forte para nossas tendências individualistas e egoístas. Contra nossos fechamentos e apatia”, afirmou Francisco. “Uma sociedade sem mães seria não apenas uma sociedade fria – disse o Papa há 4 anos – mas uma sociedade que perdeu seu coração, que perdeu seu ‘sabor de família’. Uma sociedade sem mães seria uma sociedade sem misericórdia, que cedeu apenas ao cálculo e à especulação. Porque as mães, mesmo nos piores momentos, sabem dar testemunho da ternura, da dedicação incondicional, da força da esperança”.

Proteção da “orfandade espiritual”

As mães sofredoras, as que têm seus filhos presos, hospitalizados ou subjugados pela escravidão das drogas, as que vivem em campos de refugiados ou no meio da guerra – disse o Santo Padre em 2017 – têm muito a ensinar porque “não se rendem e continuam a lutar para dar o melhor aos seus filhos”. Muitas vezes, o “melhor”, significa literalmente a vida. “Onde há mãe, há unidade, há pertença dos filhos”, reiterou o Papa. Francisco aponta para Maria que nos protege da “corrosiva enfermidade da ‘orfandade espiritual’, aquela que encontra espaço no coração narcisista daqueles que só sabem olhar para si e para os seus próprios interesses”.

Um mundo sem olhar materno é míope

Por isso, a devoção à Mãe de Deus “não é etiqueta espiritual, mas uma exigência da vida cristã”, acrescentou Francisco em 2018. Olhando de fato para Maria, “somos encorajados a deixar tantos pesos inúteis e a redescobrir o que importa: [...] a mãe é a assinatura de Deus na humanidade”. O seu “olhar maternal” – explicou o Pontífice em 2019 – “infunde confiança, ajuda a crescer na fé” e “lembra-te que a ternura é essencial para a fé, pois afasta a mornidão”. “Olhar da Mãe, olhar das mães. Um mundo que olha para o futuro, privado de olhar materno, é míope. Aumentará talvez os lucros, mas jamais será capaz de ver, nos homens, filhos. Haverá ganhos, mas não serão para todos. Habitaremos na mesma casa, mas não como irmãos. A família humana fundamenta-se nas mães. Um mundo, onde a ternura materna acaba desclassificada a mero sentimento, poderá ser rico de coisas, mas não rico de amanhã”, disse o Papa.

A Mãe não é um ‘opcional’

Além do olhar, o abraço de Maria também é essencial, fundamento contra “a vida fragmentada de hoje, onde nos arriscamos a perder o fio à meada”. Conectado, mas desunido, de fato – disse Francisco, o mundo precisa se entregar à Mãe que é “remédio para a solidão e a desagregação. É a Mãe da consolação, a Mãe que consola: está com quem se sente só” e o “pega pela mão, apresenta-o com amor à vida”. Deus – sublinhou o Pontífice – “não negou a Mãe, tanto que necessitamos dela”. Isso significa que, “Nossa Senhora não é opcional: deve ser acolhida na vida. É a Rainha da paz, que vence o mal e guia pelos caminhos do bem, repõe a unidade entre os filhos, educa para a compaixão”.

A violência contra a mulher é uma profanação de Deus

Outra característica de Maria, lembrada pelo Papa em 2020, é a capacidade de “guardar as coisas no coração”, isto é, cuidar “levar a vida ao coração”. E esta é uma atitude “própria das mulheres”, disse Francisco, porque “a mulher mostra que o sentido da vida não é produzir coisas em continuação, mas tomar a peito as coisas que existem. Só vê bem quem olha com o coração, porque sabe «ver dentro»: a pessoa independentemente dos seus erros, o irmão independentemente das suas fragilidades, a esperança nas dificuldades; vê Deus em tudo”. A partir desse princípio, o apelo do Pontífice pela proteção das mulheres: elas são “fonte de vida”, mas, “são continuamente ofendidas, espancadas, violentadas, induzidas a prostituir-se e a suprimir a vida que trazem no seio”. “Toda a violência infligida à mulher é profanação de Deus, nascido de uma mulher – disse o Papa no ano passado. A salvação chegou à humanidade, a partir do corpo de uma mulher: pelo modo como tratamos o corpo da mulher, vê-se o nosso nível de humanidade”.

Não humilhar a maternidade

Forte, portanto, a advertência de Francisco contra a exploração do corpo feminino “nos altares profanos da publicidade, do lucro, da pornografia”. Deve ser “libertado do consumismo, deve ser respeitado e honrado; é a carne mais nobre do mundo: concebeu e deu à luz o Amor que nos salvou!”. O Papa fez um apelo contra a humilhação da maternidade, tão frequente hoje, e pelo fato que “o único crescimento que interessa é o econômico. Há mães que, na busca desesperada de dar um futuro melhor ao fruto do seu seio, se arriscam em viagens impraticáveis e acabam julgadas como número excedente por pessoas que têm a barriga cheia, mas de coisas, e o coração vazio de amor”.

Maria traz Deus no tempo

Por fim, em janeiro deste ano, o Papa destacou mais um traço de Maria, tão importante para a época contemporânea: a capacidade de “levar Deus ao longo do tempo”. “O tempo é a riqueza que todos temos – sublinhou Francisco – mas somos ciumentos a seu respeito porque queremos usá-la só para nós”. Esta é, portanto, a “graça” que Nossa Senhora pode nos ajudar a pedir para o novo ano: “encontrar tempo para Deus e para o próximo: para quem está só, para quem sofre, para quem precisa de escuta e atenção. Se encontrarmos tempo para doar, acabaremos maravilhados e felizes, como os pastores”.

As celebrações do Papa

Por último, recorda-se que, por ocasião da Solenidade de Maria Santíssima Mãe de Deus, primeira festa mariana surgida na Igreja Ocidental, o Pontífice presidirá duas celebrações na Basílica de São Pedro, no Vaticano. Nesta sexta-feira (31/12), o Papa Francisco presidirá às Primeiras Vésperas, seguidas pela exposição do Santíssimo Sacramento, o hino tradicional “Te Deum” para o final do ano civil e a Benção Eucarística. A fim de evitar aglomerações e o consequente risco de contágio de Covid-19, o Papa não visitará o presépio montado na Praça São Pedro, como era costume ao final da celebração.

Neste sábado, 1º de janeiro de 2022, às 10h locais, Francisco presidirá à Santa Missa, na qual haverá uma oração pelos pais, para que tenham “a alegria de criar os filhos na santidade”, e pelo povo angustiado, para que possa experimentar “a doce companha de Jesus”. A celebração coincidirá com o 55º Dia Mundial da Paz, para o qual, o Pontífice escreveu uma mensagem dedicada ao tema “Diálogo entre gerações, educação e trabalho: ferramentas para construir uma paz duradoura”. 

VN

30 dezembro 2021

Taizé, o Papa aos jovens: não ao pessimismo, procuremos juntos soluções para o desafios

 
 Um evento de oração organizada pela Comunidade ecuménica de Taizé com os jovens, em agosto passado 
 
Em mensagem assinada pelo cardeal Parolin, o Papa Francisco dirige-se aos jovens da Europa que participam do encontro de Turim, no norte da Itália, de modo virtual, para rezar e refletir sobre as questões mais prementes do momento: sede "peregrinos da confiança"
 

Adriana Masotti/Raimundo de Lima – Vatican News

Pela segunda vez, devido à pandemia, o 44º Encontro Europeu de Jovens de fim de ano, promovido pela Comunidade de Taizé, não poderá ser realizado em presença como de costume. Em nota, a Comunidade tinha informado os participantes no início de dezembro de que não seria "possível realizar-se o encontro europeu em Turim como planeado". Entretanto, tudo só foi adiado para o período de 7-10 de julho de 2022, quando as igrejas e a cidade de Turim – na região do Piemonte, norte de Itália - receberão os jovens participantes, que finalmente poderão viver juntos, momentos de oração, intercâmbio e trabalho.

Francisco: faço-me perto de vós no pensamento e na oração

Contudo, a primeira parte online do evento já está em andamento desde esta quarta-feira, 29 de dezembro, e prosseguirá até o próximo sábado, 1º de janeiro, uma primeira parte do evento online, conduzida a partir de Turim, por alguns irmãos de Taizé e com a participação de jovens da Região. A todos aqueles que, através da Internet, experimentarão este momento de fraternidade, o Papa Francisco assegura a proximidade "em pensamento e oração" e envia "as suas mais calorosas saudações".

As muitas perguntas do presente

"O vosso encontro – lê-se na mensagem assinada pelo secretário de Estado, cardeal Pietro Parolin – realiza-se num momento em que há numerosas inquietações. Muitos estão a questionar: o nosso planeta tem futuro? Que responsabilidades temos que assumir para assegurar-lhe a salvaguarda e tornar a terra habitável?" A questão para os jovens, é enfatizada, citando o tema escolhido para a iniciativa, e como podemos hoje "tornar-nos artesãos da unidade"? O Papa Francisco reconhece que os jovens, ao contrário de "ceder ao pessimismo", decidiram enfrentar corajosamente estas questões e procurar respostas juntos na escuta da Palavra de Deus. "É quando estamos juntos que o Espírito de Deus sopra de modo especial", continua o texto, lembrando o percurso sinodal empreendido pela Igreja ao procurar "tornar-se mais disponível à obra do Espírito", na consciência de quanto os discípulos de Cristo "precisam uns dos outros".

Vós sois parte das soluções que o mundo procura

"Vós escolhestes não desviar os vossos olhos do sofrimento humano e das evidentes urgências do momento - prossegue a mensagem -, mas olhar para estas realidades na confiança que vos é dada por participar das soluções. Pois se não faltam os motivos de angústia, é igualmente verdade que o Espírito de Deus não cessa de operar e de despertar criadores de fraternidade, de solidariedade e de unidade". O Papa Francisco "pede ao Espírito Santo que vos abençoe, jovens católicos, ortodoxos e protestantes que se unem ao Encontro europeu", assegura o cardeal Parolin, "e vos confia à proteção da Virgem Maria", para que "possais continuar a ser peregrinos da confiança para onde quer que o Senhor vos mande".

VN

28 dezembro 2021

O Papa: defender a inocência das crianças dos Herodes de hoje

 
 
 As crianças vítimas da pobreza, guerra e migração forçada,trabalho escravo e exploração no centro da preocupação do Papa 
 
Hoje, 28 de dezembro, é a memória litúrgica dos Santos Inocentes. Num tuíte, Francisco convida a rezar e defender as crianças dos "novos Herodes" que destroem a ua inocência.
 

Isabella Piro – Vatican News

“Os novos Herodes dos nossos dias destroem a inocência das crianças sob o peso do trabalho escravo, da prostituição e da exploração, das guerras e da emigração forçada. #RezemosJuntos hoje por estas crianças e defendamo-las. #SantosInocentes.

Foi o que tuitou o Papa Francisco na sua conta @Pontifex na memória litúrgica dos Santos Inocentes celebrada nesta terça-feira (28/12), que lembra as crianças de Belém de até dois anos, mortas pelo Rei Herodes para eliminar o Menino Jesus, anunciado pelas profecias como o Messias e novo rei de Israel.

São 152 milhões de menores obrigados a trabalhar

Hoje, como no passado, os Herodes ainda são muitos e há muitas armas que eles usam para destruir a inocência das crianças. Segundo o último relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT), publicado em março de 2021, ainda existem 152 milhões de crianças e adolescentes, 64 milhões são meninas e 88 milhões são meninos, vítimas do trabalho infantil. Metade deles, 73 milhões, são obrigados a realizar trabalhos perigosos que põem em risco a sua saúde, segurança e desenvolvimento moral. Muitas delas vivem em contextos de guerra e desastres naturais onde lutam para sobreviver, revistando nos destroços ou trabalhando nas ruas. Outras são recrutadas como crianças soldados para lutar em guerras travadas por adultos.

Os "comerciantes da morte" devoram a inocência das crianças

Um fenómeno dramático e inaceitável contra o qual o próprio Papa Francisco levantou a voz em 2016, numa Carta aos bispos publicada em 28 de dezembro daquele ano: convidando os prelados a terem a coragem de defender os menores de tudo que "devora" a sua inocência, o Pontífice recordou que "milhares das nossas crianças caíram nas mãos de bandidos, máfias, comerciantes da morte que só exploram as suas necessidades". Francisco citou os milhões de crianças sem instrução, vítimas do "tráfico sexual", menores obrigados a "viver fora dos seus países por causa do deslocação forçado", crianças que morrem de desnutrição e vítimas do trabalho escravo.

Nunca mais essas atrocidades!

"Se a situação mundial não mudar", escreveu o Papa, citando estimativas do UNICEF, "em 2030 haverá 167 milhões de crianças que viverão na pobreza extrema, 69 milhões de crianças menores de 5 anos que morrerão até 2030 e 60 milhões de crianças que não poderão frequentar a escola primária". Francisco não se esqueceu “o sofrimento, a história e a dor dos menores abusados ​​sexualmente por sacerdotes”: “Um pecado que nos envergonha”, sublinhou, que devemos “deplorar profundamente” e pelo qual “pedimos perdão”. Daí o apelo do Pontífice a "renovar todos os nossos compromissos para que estas atrocidades não aconteçam mais entre nós".

"O nosso silêncio é cúmplice"

As palavras de Francisco de 2016 recordam as da mensagem Urbi et Orbi do Natal de 2014, durante a qual o Pontífice dirigiu um pensamento a "todas as crianças mortas e maltratadas hoje, as que o são antes de verem a luz, privadas do amor generoso dos pais e sepultadas no egoísmo de uma cultura que não ama a vida, as crianças deslocadas por guerras e perseguições, abusadas e exploradas diante dos nossos olhos e do nosso silêncio cúmplice; e às crianças massacradas sob os bombardeamentos, inclusive onde nasceu o filho de Deus”. "Ainda hoje o seu silêncio impotente grita sob a espada de tantos Herodes", sublinhou Francisco. Hoje, a sombra de Herodes está presente sobre o seu sangue. Realmente, há muitas lágrimas neste Natal, junto com as lágrimas do Menino Jesus!”

VN

26 dezembro 2021

Papa no Angelus: para preservar a harmonia na família devemos combater a ditadura do eu

 
 
Não nascemos magicamente, com uma varinha mágica, mas numa família e o que somos hoje como pessoa é fruto do amor que recebemos no seu seio. Devemos conhecer a própria história e as nossas raízes, para que a vida não se torne árida. E agradecer a Deus pela família que temos, disse o Papa Francisco no Angelus deste domingo, quando deu várias indicações para superar os conflitos e manter a harmonia familiar.

 

Jackson Erpen – Cidade do Vaticano

Rezar juntos diariamente para pedir a Deus o dom da paz, escuta e compreensão recíproca para superar conflitos e dificuldades, converter-mo-nos do eu ao tu, nuncaie dormir sem ter feito as pazes. Afinal, é no dia a dia que se aprende a ser família, nela estão as nossas raízes e o que somos hoje como pessoa, é fruto do amor que dela recebemos.

É de conselhos práticos que se articula a reflexão do Papa antes de rezar o Angelus neste domingo, 26 de dezembro, em que a Igreja festeja a Sagrada família que, não é aquela dos santinhos, como observou Francisco, mas uma família que também enfrentou “problemas inesperados, angústias, sofrimentos”.

Conhecer e preservar as raízes de onde viemos

E o Papa mergulha precisamente naquele contexto familiar para sublinhar aos fiéis e turistas presentes na Praça de S. Pedro num domingo de tempo instável, um primeiro aspeto concreto para nossa família: “a família é a história da qual viemos”:

“Cada um de nós tem a sua própria história, ninguém nasceu magicamente, com uma varinha mágica, cada um de nós tem uma história e a família é a história de onde viemos.”

Jesus – começou por explicar – “é filho de uma história familiar”. Viajou para Jerusalém com os seus pais para a Páscoa e o seu sumiço provocou grande preocupação em Maria e José:

É belo ver Jesus inserido no laço dos afetos familiares, que nasce e cresce no abraço e na preocupação dos pais. Isto também é importante para nós: viemos de uma história entrelaçada por laços de amor e a pessoa que somos hoje não nasce tanto dos bens materiais que desfrutamos, mas do amor que recebemos, do amor no seio da família. Talvez não tenhamos nascido numa família excecional e sem problemas, mas é a nossa história - cada um deve pensar: é a minha história -, são as nossas raízes: se as cortarmos, a vida torna-se árida. E devemos pensar nisto, na própria história!

"Ser família" envolve aprender diáriamente

Deus – disse o Santo Padre - não nos criou para sermos comandantes solitários, mas para caminharmos juntos, e devemos agradecer a Ele e rezar pelas nossas famílias:

“Deus pensa em nós e nos quer juntos: agradecidos, unidos, capazes de preservar as raízes.”

O Papa destaca então um segundo aspeto concreto para as nossas famílias: “aprende-se a ser família em cada dia”. E volta o seu olhar novamente à realidade da Sagrada Família onde nem tudo é perfeito, “existem problemas inesperados, angústias, sofrimentos”:

Não existe uma Sagrada Família dos santinhos. Maria e José perdem Jesus e angustiados procuram-no, para o encontrar três dias mais tarde. E quando, sentado entre os mestres do Templo, ele responde que deve cuidar das coisas de seu Pai, eles não entendem. Eles têm necessidade de tempo para aprender a conhecer o seu filho. O mesmo serve para nós: em cada dia, em família, é preciso aprender a ouvir e a compreender-mo-nos, a caminhar juntos, a enfrentar os conflitos e as dificuldades. É o desafio diário, que é superado com a atitude correta, com as pequenas atenções, com gestos simples, cuidando os detalhes das nossas relações. E isto também nos ajuda muito a conversar em família, conversar à mesa, o diálogo entre pais e filhos, o diálogo entre os irmãos ajuda-nos a viver a raiz familiar que vem dos avós, o diálogo com os avós.

Antes o "tu", depois o "eu"

E como se faz então isto? - pergunta Francisco - convidando a olhar para Maria que no Evangelho de hoje diz a Jesus: «Teu pai e eu estávamos à tua procura»:

“Teu pai e eu, não diz eu e teu pai: antes do eu existe o tu (...). Na Sagrada Família, antes o tu e depois o eu. Para preservar a harmonia na família, é preciso combater a ditadura do eu. Quando o eu se infla. É perigoso quando, em vez de nos ouvirmos, jogamos os erros na cara; quando, em vez de termos gestos de cuidado para com os outros, fixamo-nos nas nossas necessidades; quando, em vez de dialogar, isolamo-nos com o tgelemóvel - é triste ver no almoço uma família, cada um com o seu telemóvel, sem se falarem, cada um fala com o telemóvel-; quando nos acusamos mutuamente, repetindo sempre as mesmas frases, encenando uma comédia já vista onde cada um quer ter razão e no final impera um silêncio frio.”

Família, o nosso tesouro

Então, de Francisco, um conselho já dado em tantas outras oportunidades quer aos casais, como à vida em família: nunca ir dormir sem antes ter feito as pazes, caso contrário, no dia seguinte haverá uma “guerra fria”, e esta é perigosa porque dará início a uma história de repreensões, de ressentimentos:

“Quantas vezes, infelizmente, entre as paredes de casa, dos silêncios muito longos e de egoísmos não tratados, nascem e crescem conflitos! Às vezes, chega-se até mesmo a violências físicas e morais. Isto dilacera a harmonia e mata a família. Convertamo-nos do eu ao tu. O que deve ser mais importante na família é o tu. E em cada dia, por favor, rezem um pouco juntos, se puderem façam um esforço, para pedir a Deus o dom da paz em família. E vamos todos comprometermo-nos - pais, filhos, Igreja, sociedade civil - a apoiar, defender e proteger a família, que é o nosso tesouro!”

Que a Virgem Maria, esposa de José e mãe de Jesus – pediu ao concluir - proteja as nossas famílias.

VN

25 dezembro 2021

NATAL É SEMPRE QUE UM HOMEM QUISER!

 

 

 

Natal é sempre que um homem quiser
Ontem na Missa do Galo esta velha frase veio ao meu pensamento ao meu coração.
Realmente a frase é totalmente verdadeira!

 

Natal é sempre que um homem quiser!
Se o homem quiser abrir o seu coração ao amor de Deus então o Natal acontece sempre na sua vida.

Natal é sempre que um homem quiser!
Se o homem quiser acreditar e se deixar conduzir pelo Espírito Santo então o Natal acontece sempre na sua vida.

Natal é sempre que um homem quiser!
Se o homem quiser amar a Deus e amar os outros então o Natal acontece sempre na sua vida.

Natal é sempre que um homem quiser!
Se o homem quiser deixar-se tomar pelo perdão e assim perdoar e pedir perdão então o Natal acontece sempre na sua vida.

Natal é sempre que um homem quiser!
Se o homem se deixar envolver pela paz, pela concórdia, pela ternura, pela boa vontade então o Natal acontece sempre na sua vida.

Natal é sempre que um homem quiser!
Se o homem quiser fazer apenas e só a vontade de Deus em cada momento então o Natal acontece sempre na sua vida.

Natal é sempre que um homem quiser!
Se o homem quiser encher-se de carinho, enternecer-se perante o presépio, extasiar-se perante o Deus feito Menino, aceitar Maria e José como a sua maior família então o Natal acontece sempre na sua vida.

Natal é sempre que um homem quiser
Se o homem quiser que Jesus nasça no seu coração e lhe dê a Vida Nova então o Natal acontece sempre na sua vida.

Se o homem quiser cantar sempre dentro de si, Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade, então Natal é sempre que um homem quiser!



Marinha Grande, 25 de Dezembro de 2021
Joaquim Mexia Alves

Homilia na Missa do Dia do Natal do Senhor

 

 

O Natal da humildade divina

De quanto ecoa na Liturgia do Santo Natal, retomo a frase que resume tudo o mais: «O Verbo fez-se carne e habitou entre nós». 
Deus comunica-se inteiramente na humanidade que é a nossa, de modo tão manifesto e concreto como aconteceu em Cristo, do presépio à cruz. Não O procuremos doutro modo, senão neste em que nos procurou a nós. Por isso Cristo pôde responder mais tarde a um discípulo que lhe perguntou por Deus Pai: «Há tanto tempo que estou convosco e não me ficaste a conhecer, Filipe? Quem me vê, vê o Pai. Como é que me dizes, então, mostra-nos o Pai? Não crês que Eu estou no Pai e o Pai está em mim?» (Jo 14, 9-10).
Por “carne” entende a Bíblia a nossa condição humana, na fragilidade que a carateriza, com as possibilidades e limites que tem. Condição em que Deus se expressa para ser visto, ouvido e entendido por cada um de nós. Deus Pai diz-se em Deus Filho, pelo Amor que os une e nos quer incluir também. 
Abeirar-se do mistério da Trindade divina e da Encarnação do Verbo é tocar no âmago religioso e existencial de Deus e de nós próprios. Religioso porque nos liga a Deus, como Jesus também disse: «Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém pode ir até ao Pai senão por mim». Existencial e nosso pelo que diz logo a seguir: «Se ficastes a conhecer-me, conhecereis também o meu Pai. E já o conheceis, pois estais a vê-lo» (Jo 14, 6).
Reconheçamos então a Deus como se diz em Jesus Cristo, Verbo de Deus incarnado. Fixemo-nos agora no Menino do Presépio, neste nascimento tão diferente do que seria de esperar. Por mais que a devoção e a arte embelezem a sua representação, trata-se irrecusavelmente de um Menino deitado numa manjedoura. Não houve berço doirado naquele momento em Belém. 

O que na verdade esplende é a verdade de Deus, que se revela em humildade absoluta. O Natal pede-nos conversão ao modo divino de ser e acontecer entre nós. Pede-nos a presteza dos pastores e a demanda dos magos. Ambos prenunciaram aquele “deixaram tudo e seguiram-no” (cf. Lc 5, 11) com que se adere a Cristo, hoje como então. “Tudo” pode referir-se a bens materiais que requerem partilha com quem precisa, ou a outros motivos que nos impedem de O aceitar como unicamente se manifesta. Sigamo-Lo como Ele é e não como o imaginaríamos nós.
Não se trata de voluntarismo, trata-se de nos encontrarmos com Deus tal como Ele se encontra connosco na Palavra viva que nos dá em Cristo, ou seja, em humanidade vivida e convivida.
Não especulemos sobre Deus. Seria perda de tempo e só nos encontraríamos a nós. Oiçamo-lo como Ele se disse e vejamo-lo como Ele se revelou em Cristo, na “carne” de Cristo, tão próxima e sensível que foi. A encarnação do Verbo tanto nos revela os sentimentos de um Deus que se aproxima de nós, como nos demonstra o que havemos de ser, para nos aproximarmos de Deus.
Está connosco onde precisamos de ser acompanhados, na nossa fragilidade, que fez sua. Todas as tradições evangélicas o referem sem sombra de dúvida. Do Natal à Cruz, o Verbo de Deus diz-se na carne que somos. 
Teve sede, quando «cansado da caminhada, se sentou na borda do poço» (Jo 4, 6) e pediu de beber à samaritana. Teve fome, como neste passo, tão preciso e tão corrente: «Saiu da cidade e foi para Betânia, onde pernoitou. Logo de manhã cedo, ao voltar para a cidade, teve fome» (Mt 21, 18). E, como sentiu sede e fome, também reparou na fome dos outros, quando disse: «Tenho compaixão desta gente, porque há já três dias que está comigo e não tem que comer» (Mt 15, 32).
Isto quanto às necessidades corporais. Mas igualmente nosso e bem nosso, quanto aos sentimentos genuínos. Assim, quando se alegrava por ser entendido e bem entendido: «Jesus estremeceu de alegria sob a ação do Espírito Santo e disse: “Bendigo-Te, ó Pai, porque escondestes estas coisas aos sábios e aos inteligentes e as revelastes aos pequeninos”» (Lc 10, 21). Ou, quando se amargurava na tribulação: «… começou a entristecer-se e a angustiar-se. Disse-lhes então: “A minha alma está numa tristeza mortal”» (Mc 14, 34). 
O Verbo de Deus diz-se e encarna no íntimo do que somos, aí mesmo onde precisamos de ser tocados e salvos. Relembremos esta passagem, por demais sugestiva, junto ao túmulo de Lázaro: «Ao vê-la a chorar – a Maria de Betânia – e os judeus que a acompanhavam a chorar também, Jesus suspirou profundamente e comoveu-se. Depois perguntou: “Onde o puseste?”. Responderam-lhe: “Senhor, vem e verás”. Então Jesus começou a chorar. Diziam os judeus: “Vede como era seu amigo!”» (Jo 11, 33-36).
Certamente o Menino chorara ao nascer, como é próprio de quem nasce neste mundo. Depois compartilhou daquele choro de Betânia, junto do túmulo do seu amigo Lázaro. Fixemos o passo evangélico, para compreendermos algo dos sentimentos de Deus agora, diante de tantos sepulcros materiais e anímicos que não faltam por esse mundo além e aquém.
Começa por ser assim, encarnando, para se fazer realmente nosso. É desta companhia absoluta que arranca depois a ressurreição, refazendo-nos como inteiramente seus. O Verbo divino proferido em Cristo impregna de dentro toda a carne do mundo. Toma para si o que nos faz sofrer para nos preencher da vida que só com Deus triunfa. O Natal é o princípio da Páscoa, que nunca aconteceria doutro modo.

Quando daqui a pouco genufletirmos ao dizer «e encarnou pelo Espírito Santo, no seio da Virgem Maria, e se fez homem» coincidamos inteiramente com a verdade do Natal de Cristo. Com a consequência espiritual e a repercussão que há de ter na nossa relação com tudo. Não podemos alhear-nos do que Deus tomou para si, isto é, da fragilidade humana que precisa de ser acompanhada e assim mesmo salva. Para que o Natal continue, também através de nós, Corpo de Cristo alargado no mundo.
Peçamos à Virgem Mãe que nos ensine o que Ela mesmo aprendeu e nos ofereceu com o seu pleno assentimento. Peçamos a São José que nos ensine a guardar o mistério da humildade de Deus, como ele tão exemplarmente o fez. Aprendamo-lo e pratiquemo-lo para que a encarnação do Verbo se propague sempre. 

Sé de Lisboa, 25 de dezembro de 2021


+ Manuel, Cardeal-Patriarca

 

Homilia na Missa da Noite do Natal do Senhor

 

  

No grande presépio do mundo  

Esta noite traz-nos a notícia do nascimento de Jesus e de como aconteceu. Relembremos: «Enquanto ali se encontravam – José e Maria em Belém – chegou o dia de ela dar à luz, e teve o seu filho primogénito. Envolveu-O em panos e deitou-O numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria».
Impressiona o facto de já termos ouvido tantas vezes este trecho e sempre nos trazer algo de novo. É como se ainda não tivéssemos extraído dele tudo quanto oferece, à meditação e à vida de nós todos. E assim é realmente, como acontece aliás com tudo o que a Jesus diz respeito e à nossa vida com Ele.
Por isso estamos aqui e assim estão inumeráveis crentes por esse mundo além, quer se possam reunir em belos templos, quer em recintos mais precários, ou mesmo escondidos de perseguições, que infelizmente não faltam nalgumas latitudes. 
É surpreendente a força agregadora do Natal de Cristo. E exatamente na verdade do que aconteceu, que acaba por se impor e até sobrepor a tudo o que o queira distorcer ou apagar, seja em excesso consumista e decorativo, seja em laicismo desmemoriado e espúrio.
O Natal vence porque nos convence com a verdade de Deus como se apresenta no mundo, na simplicidade do presépio e precisamente como foi, sem distração nem disfarce. É uma lição também, a reaprender sem cessar. Foi assim que os Anjos a apresentaram aos pastores e é assim que a devemos aprender e transmitir. 
«Isto vos servirá de sinal: encontrareis um Menino recém-nascido, envolto em panos e deitado numa manjedoura». Sinal para eles e sinal para nós. Um menino envolto em panos, que já anunciavam os que o envolveriam na sepultura, porque daria a sua vida por nós. E deitado numa manjedoura, cujas tábuas prefiguravam as da cruz. Na verdade, veio preencher as nossas vidas com a sua, do nascimento à morte, por frágeis e custosas que sejam. É sempre o “Emanuel”, que significa Deus connosco e onde mais precisamos de ser acompanhados.
Só assim nos salvaria onde temos de ser salvos – e assim aconteceu plenamente. Conclusões destas são próprias da meditação cristã, como o evangelista já fazia e nós continuamos a fazer, qual «pai de família, que tira coisas novas e velhas do seu tesouro» (Mt 13, 52). 
Como hoje aqui, neste Natal do ano da graça de Nosso Senhor Jesus Cristo de 2021. Teremos feito algum presépio nas nossas casas, sobretudo com as suas figuras centrais: Jesus, Maria e José. Olhemo-las bem e deixemos que elas nos olhem a nós.


Mais além dos presépios que fazemos com imagens simples ou trabalhadas, podemos e devemos fazê-los com figuras em que Jesus se apresenta ao vivo e no que nos pede agora, em tantos lugares deste mundo.
Partilho alguns deles, que se juntam a tantos outros, casa a casa, situação a situação. Apenas alguns, de especial clareza:
É o caso de um grupo que desde há anos “faz presépio” com pessoas sem - abrigo. Começou quando uma religiosa reparou em muitas delas, num jardim da cidade. Com alguns amigos, começou a servir-lhes refeições. Depois, num autocarro cedido e transformado, manteve um posto de primeiros socorros e atendimento para pessoas nessa situação. Seguiram-se as equipas de voluntários que, noite após noite, levaram e continuam a levar-lhes alimentos, em vários pontos da cidade. Aos que aceitam um caminho de recuperação, oferecem a possibilidade de a fazer nalguns centros que fundaram e conseguem manter com os meios pessoais e materiais que vão obtendo. E assim continuaram, mesmo em tempo de pandemia. Podemos dizer que fazem presépio de verdade e de cada ano um Natal inteiro.
Outro presépio vivo surgiu também há alguns anos, para casos em que as mães não têm possibilidade de cuidar de filhos que nascem com graves dificuldades psicofísicas. Algumas pessoas, com especial sensibilidade e grande determinação, levaram por diante uma resposta solidária e capaz a tais situações. Com os recursos possíveis, que advêm sobretudo do grande coração com que se entregam à causa, já conseguiram acompanhar meio milhar de crianças em tais condições, com os recursos humanos e materiais necessários. Sobretudo com o grande recurso dos seus corações generosos. Fazem verdadeiramente presépio e deixam-nos entrever o mais que acontecerá se iniciativas congéneres aparecerem.
Pude ver outro presépio numa unidade de cuidados paliativos. Foi o caso de um professor de música, de meia-idade, que ali preenchia criativamente o último tempo que sabia restar-lhe. Sendo devidamente acompanhado e assistido, queria terminar uns apontamentos que prometera aos alunos e preparava um último encontro dos seus amigos, a realizar mesmo que não pudesse estar entre eles. Bastava-lhe que eles estivessem por perto. – Que bom será quando a generalização destes cuidados nos transformar em sociedade paliativa, para todos os momentos da vida de cada um e sem obviar os derradeiros! Uma sociedade – presépio, a construir agora.
Mais natalício ainda, outro caso na mesma unidade. Uma jovem mãe ali assistida, consciente de que pouco mais estaria neste mundo, quis batizar a sua bebé. Assim foi, com pleno consentimento do seu marido. Celebração simples, de grande serenidade, envolvimento e ternura: Matrimónio cristão dos pais e batizado da filha, na capela do hospital. Estavam também alguns familiares, além de médicas, enfermeiras e auxiliares. Fez-se verdadeiramente presépio e sentiu-se a paz de Belém.   


Como cristãos, acreditamos que tudo isto é “religioso”, porque nos religa a Deus, presente nos outros e tão frágil como nasceu em Jesus. Neste Natal de todos os dias, ouvimo-Lo nas Escrituras, recebemo-Lo nos Sacramentos, adoramo-Lo diante da Hóstia consagrada e servimo-Lo nos outros, em especial os mais pobres, de todas as pobrezas que sejam. Várias estarão bem perto e algumas até nas nossas casas…
Na verdade, “fazer Natal todos os dias” depende só de nós. Da parte de Deus, o presépio está montado e à nossa espera. - É o nosso lugar, no grande presépio do mundo!


Sé de Lisboa, 25 de dezembro de 2021  

+ Manuel, Cardeal-Patriarca   

 

Papa: a esperança é mais forte que as dificuldades, pois um Menino nasceu para nós

 
  
Diante das tantas crises, tragédias esquecidas e sofrimentos ao redor do mundo, na sua Mensagem de de Natal, Francisco diz que "a esperança é mais forte, porque «um menino nasceu para nós»". Com o seu exemplo, aprendamos a escutar-nos e a dialogar, e a caminhar com Cristo pelas sendas da paz!
 

Jackson Erpen – Cidade do Vaticano

“O Verbo fez-Se carne para dialogar connosco. Deus não quer construir um monólogo, mas um diálogo. Pois o próprio Deus, Pai e Filho e Espírito Santo, é diálogo, comunhão eterna e infinita de amor e de vida.”

Diálogo é a palavra a partir da qual o Pontífice desenvolve a sua Mensagem de Natal dirigida à cidade e ao mundo, pronunciada da sacada central da Basílica de São Pedro num 25 de dezembro chuvoso, o que não impediu a presença de milhares de peregrinos e turistas de várias partes do mundo na Praça de S. Pedro, na observância das novas medidas, mais restritivas, para conter a propagação da Covid-19.  

Depois da Mensagem de Natal o Papa rezou o Angelus, seguido pelo anúncio da concessão da Indulgência Plenária pelo cardeal protodiácono Renato Raffaele Martino, que então passou novamente a palavra ao Santo Padre para a Bênção, extensiva também a todos os que acompanhavam pelos meios de comunicação.

O sinal da transmissão estava disponível em seis satélites e a Mensagem com a Bênção Urbi et Orbi foi transmitida na Mundovisão por cerca de 170 redes de televisão. A média vaticana também ofereceu serviço de tradução na língua dos sinais (LIS). Já o Vatican News ofereceu transmissões em sete línguas: português, espanhol, italiano, inglês, francês, alemão e árabe.  

Diálogo, única solução para conflitos

“Quando veio ao mundo, na pessoa do Verbo encarnado, Deus mostrou-nos o caminho do encontro e do diálogo” e “como seria o mundo sem o diálogo paciente de tantas pessoas generosas, que mantiveram unidas famílias e comunidades?”, pergunta o Papa, observando que a pandemia deixou isto muito claro ao afetar as relações sociais, aumentar “a tendência para nos fecharmos, arranjar-mo-nos sozinhos, renunciar a sair, a encontrar-mo-nos, a fazer as coisas juntos”. E a nível internacional, a complexidade da crise pode “induzir a optar por atalhos”, mas só o diálogo conduz “à solução dos conflitos e a benefícios partilhados e duradouros”.

As tragédias esquecidas

E ao lançar o seu olhar para o panorama internacional, Francisco observou que contemporaneamente ao “anúncio do nascimento do Salvador, fonte da verdadeira paz, “vemos ainda tantos conflitos, crises e contradições. Parecem não ter fim, e já quase não os notamos”.

“De tal maneira nos habituamos, que há tragédias imensas das quais já nem se fala; corremos o risco de não ouvir o grito de dor e desespero de tantos irmãos e irmãs nossos.”

Médio Oriente e Afeganistão

E dentre as tragédias esquecidas por todos, o sofrimento das populações da Síria, Iraque, Iémen, em particular das crianças. Mas também o conflito entre israelitas e palestinianos, “com consequências sociais e políticas cada vez mais graves”.

Belém, “lugar onde Jesus viu a luz”, vive tempos difíceis “pelas dificuldades económicas devido à pandemia que impede os peregrinos de chegarem à Terra Santa, com consequências negativas na vida da população”. Crise sem precedentes que atinge também o Líbano. Mas no coração da noite, surgiu um sinal de esperança. E neste dia de festa pedimos ao Menino Jesus, “a força de nos abrirmos ao diálogo”, implorando a Ele “que suscite, no coração de todos, anseios de reconciliação e fraternidade.

“Menino Jesus, dai paz e concórdia ao Médio Oriente e ao mundo inteiro. Amparai a quantos se encontram empenhados em prestar assistência humanitária às populações forçadas a fugir da sua pátria; confortai o povo afegão que, há mais de quarenta anos, está submetido a dura prova por conflitos que impeliram muitos a deixar o país.”

Myanmar e Ucrânia

Ao Rei dos Povos, o Papa pede que ajude as autoridades políticas para pacificar “nas sociedades abaladas por tensões e contrastes”, em particular Myanmar, “onde intolerância e violência se abatem, não raro, também sobre a comunidade cristã e os locais de culto, e turbam o rosto pacífico daquela população.” Mas também “luz e amparo” para quem acredita e trabalha em prol do encontro e do diálogo na Ucrânia e não permitir que "metástases dum conflito gangrenado" se espalhem pelo país.

África

O Santo Padre volta então o seu olhar para os países africanos atribulados por conflitos, divisões, desemprego, desigualdades económicas, pedindo ao Príncipe da Paz pela Etiópia para que descubra o caminho da paz e da reconciliação e para que ouça o clamor “das populações da região do Sahel, que sofrem a violência do terrorismo internacional”, bem como pelas vítimas dos conflitos internos no Sudão e Sudão do Sul.

América

Para as populações do continente americano Francisco pede que “prevaleçam os valores da solidariedade, reconciliação e convivência pacífica, através do diálogo, do respeito mútuo e do reconhecimento dos direitos e valores culturais de todos os seres humanos.”

 

Vítimas de violência, abusos, abandono

O Papa também pede ao Filho de Deus conforto para as mulheres vítimas de violência, esperança para as crianças e adolescentes vítimas de bullying e abusos, consolação e carinho aos idosos, sobretudo os mais abandonados e serenidade e unidade às famílias, “lugar primário da educação e base do tecido social.”

Na saúde, generosidade dos corações

Para os doentes o Papa pede saúde, bem como inspiração às pessoas de boa vontade para que encontrem “as soluções mais adequadas para superar a crise sanitária e as suas consequências”:

“Tornai generosos os corações, para fazerem chegar os tratamentos necessários, especialmente as vacinas, às populações mais necessitadas. Recompensai todos aqueles que mostram solicitude e dedicação no cuidado dos familiares, dos doentes e dos mais fragilizados.”

Não renegar a humanidade que nos une

Mas não só: o olhar de Francisco também abarca civis e militares prisioneiros de guerras, migrantes, deslocados e refugiados, cujos olhos “nos pedem para não voltarmos o rosto para o outro lado, para não renegarmos a humanidade que nos une, para assumirmos as suas histórias e não nos esquecermos dos seus dramas.”

O ambiente que deixaremos para gerações futuras

E para que as gerações futuras possam viver num ambiente de respeito pela vida, o Papa exorta as autoridades políticas a encontrarem acordos eficazes e assim sermos mais solícitos pela nossa Casa Comum, “também ela enferma pelo descuido com que frequentemente a tratamos”.

Caminhar pelas sendas da paz

“Queridos irmãos e irmãs, muitas são as dificuldades do nosso tempo, mas a esperança é mais forte, porque «um menino nasceu para nós». Ele é a Palavra de Deus que Se fez “in-fante”, capaz apenas de chorar e necessitado de tudo. Quis aprender a falar, como qualquer criança, para que nós aprendêssemos a escutar Deus, nosso Pai, a escutar-mo-nos uns aos outros e a dialogar como irmãos e irmãs. Ó Cristo, nascido para nós, ensinai-nos a caminhar convosco pelas sendas da paz. Feliz Natal para todos!”

VN

24 dezembro 2021

Mensagem de Natal do Cardeal-Patriarca de Lisboa

 

A Mensagem de Natal do Cardeal-Patriarca de Lisboa foi transmitida, no dia 24 de dezembro, pelas 21h00, na RTP1 e Rensascença.

 

 

Papa: neste Natal, pedir a Jesus a graça da pequenez

 
 O Papa Francisco na Missa da noite de Natal - 24.12.2021 - Vatican News 
 
Pequenez foi a palavra que o Papa Francisco escolheu para marcar o Natal de 2021. Enquanto vamos atrás de poder, sucesso, visibilidade e força, Jesus vem ao mundo para indicar o caminho contrário, feito de humildade, ternura e serviço. Na sua homilia, o Pontífice fez também um forte apelo em prol dos trabalhadores.
 

Bianca Fraccalvieri - Vatican News

Pedir a Jesus a graça da pequenez: este foi o convite que o Papa Francisco dirigiu aos fiéis do mundo inteiro ao presidir na Basílica Vaticana à tradicional Missa do Galo.

Na sua homilia, o Pontífice ressaltou os contrastes contidos na narração do nascimento de Cristo: grandeza e pequenez, riqueza e pobreza, nobreza e exclusão são aspetos presentes no Evangelho de Lucas.

Jesus nasce para servir

O episódio começa com o imperador César Augusto na sua grandeza, que ordena o recenseamento de toda a terra. De lá, leva-nos a Belém, onde, de grande, não há nada: apenas um menino pobre envolto em panos, rodeado por pastores. Ali está Deus, na pequenez.

“Eis a mensagem: Deus não cavalga a grandeza, mas desce na pequenez. A pequenez é a estrada que escolheu para chegar até nós.”

Fixemo-nos no centro do presépio, convidou o Papa: vamos deixar para trás luzes e decorações e vamos contemplar o Menino para nos questionar se somos capazes de acolhê-lo.

“É o desafio de Natal: Deus revela-Se, mas os homens não O compreendem. Faz-Se pequeno aos olhos do mundo… e nós continuamos a procurar a grandeza segundo o mundo, talvez até em nome Dele. Deus abaixa-Se… e nós queremos subir para o pedestal. O Altíssimo indica a humildade… e nós pretendemos sobressair. Deus vai à procura dos pastores, dos invisíveis… nós  procuramos visibilidade. Jesus nasce para servir… e nós passamos os anos atrás do sucesso. Deus não procura força nem poder; pede ternura e pequenez interior.”

A graça da pequenez

Eis o que devemos pedir a Jesus no Natal, prosseguiu Francisco: a graça da pequenez.

Pequenez significa acreditar que Deus quer vir às pequenas coisas da nossa vida, quer habitar nas realidades quotidianas, nos gestos simples que realizamos em casa, na família, na escola, no trabalho.

Pequenez significa também aceitar a nossa fraqueza e erros e entregarmo-nos a Ele, na certeza de que Deus ama-nos como somos, nas nossas fragilidades.  

Acolher a pequenez significa ainda abraçar Jesus nos pequenos de hoje. Ou seja, amá-Lo nos últimos e servi-Lo nos pobres. São eles os mais parecidos com Jesus. E é nos pobres que Ele quer ser honrado.

Chega de mortes no trabalho!

Jesus nasceu pobre rodeado de pobres, isto é, dos pastores, os “esquecidos da periferia. Estavam lá para trabalhar, porque a sua vida não tinha horário, dependia do rebanho.

“Nesta noite, Deus vem encher de dignidade a dureza do trabalho. Recorda-nos como é importante dar dignidade ao homem com o trabalho, mas também dar dignidade ao trabalho do homem, porque o homem é senhor e não escravo do trabalho. No dia da Vida, repitamos: chega de mortes no trabalho! Empenhemo-nos para que cessem.”

Em Jesus, tudo se harmoniza

Mas se no presépio há os pastores, há também os Magos, “os eruditos e os ricos”.

Tudo se harmoniza quando, no centro, está Jesus, disse o Papa, convidando a voltar para Belém para reencontrar a essencialidade da fé.

“Olhemos os Magos que vêm em peregrinação e, como Igreja sinodal, a caminho, vamos a Belém, onde está Deus no homem e o homem em Deus; onde o Senhor ocupa o primeiro lugar e é adorado; onde os últimos ocupam o lugar mais próximo Dele; onde pastores e Magos estão juntos numa fraternidade mais forte do que qualquer distinção. Que Deus nos conceda ser uma Igreja adoradora, pobre e fraterna. Isto é o essencial.”

Ponhamo-nos a caminho e voltemos a Belém, porque a vida é uma peregrinação, concluiu Francisco. Nesta noite, acendeu-se uma luz, suave, que nos lembra a nossa pequenez. É a luz de Jesus que ninguém jamais apagará.

VN

22 dezembro 2021

CEP recomenda o distanciamento entre participantes nas celebrações

 

 

Missas da Noite de Natal já devem seguir as orientações da Direção Geral da Saúde para os Locais de Culto e Religiosos.

A Conferência Episcopal Portuguesa recomendou que se retome o “distanciamento entre os participantes” nas celebrações, a partir do Natal, inclusive nas Missa da Noite do Natal. “Tendo em conta o forte agravamento da atual situação pandémica, devido sobretudo à nova variante Ómicron da Covid-19, a Conferência Episcopal recomenda vivamente que, a partir das celebrações do Natal, inclusive nas Missas da Vigília, se observe um adequado distanciamento entre os participantes, conforme as orientações da Direção Geral da Saúde”, indica um comunicado enviado hoje à Agência ECCLESIA. A Conferência Episcopal Portuguesa acrescenta que “continuam em vigor as medidas de prevenção, tais como o uso das máscaras, a devida higienização das mãos e dos espaços celebrativos e a comunhão na mão, entre outras”.

Em agosto, a Direção-Geral da Saúde (DGS) publicou a Orientação com medidas de prevenção e controlo da Covid-19 em Locais de Culto e Religiosos, indicando nessa altura o distanciamento de 1,5 metros.
As celebrações públicas na Igreja Católica têm decorrido de acordo com as orientações da Conferência Episcopal Portuguesa de 8 de maio de 2020 e “em consonância com as normas das autoridades de saúde”.
As mais de 80 indicações incluem normas para a higienização dos espaços, das pessoas e dos objetos de culto, o “obrigatório o uso de máscara” para todos e a adaptação de rituais litúrgicos para evitar o contacto físico, no contexto da pandemia.


Ecclesia
Foto: Paróquia de Nossa Senhora do Amparo de Benfica

O Papa: quebrar o espelho da vaidade e encontrar Deus na humildade

 
 
"Só a humildade é o caminho que nos conduz a Deus e, ao mesmo tempo, porque nos conduz a Ele, nos leva também ao essencial da vida, ao seu verdadeiro significado, à razão mais fiável pela qual vale a pena viver a vida. Só a humildade nos abre à experiência da verdade, da alegria genuína, do conhecimento que conta", disse Francisco na Audiência Geral. 
 

Mariangela Jaguraba - Vatican News

"O nascimento de Jesus" foi o tema da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral desta quarta-feira (22/12). Faltando poucos dias para o Natal, o Santo Padre recordou este "acontecimento do qual a história não pode prescindir".

"José e Maria desceram de Nazaré para Belém. Assim que chegaram, procuraram imediatamente uma hospedaria, porque o parto era iminente; mas infelizmente não a encontraram, e assim Maria foi obrigada a dar à luz numa manjedoura", disse Francisco. "Um anjo anunciou o nascimento de Jesus a simples pastores e foi uma estrela que mostrou aos Magos o caminho para Belém. O anjo é um mensageiro de Deus. A estrela nrecorda-nos que Deus criou a luz e que aquele Menino será “a luz do mundo”. Os pastores personificam os pobres de Israel, pessoas humildes que interiormente vivem com a consciência da sua própria falta. Eles foram os primeiros a ver o Filho de Deus feito homem, e este encontro muda-os profundamente", frisou ainda o Papa.

Francisco recordou que "os Magos estão também à volta do Menino Jesus. Eles "representam os povos pagãos, em particular todos aqueles que ao longo dos séculos procuraram Deus e se propuseram encontrá-lo. Representam também os ricos e os poderosos, mas apenas aqueles que não são escravos da posse, que não estão “possuídos” pelas coisas que pensam possuir".

A humildade abre-nos à experiência da verdade

A seguir, o Papa sublinhou que "a mensagem dos Evangelhos é clara: o nascimento de Jesus é um acontecimento universal que diz respeito a todos os homens".

Amados irmãos e amadas irmãs, só a humildade é o caminho que nos conduz a Deus e, ao mesmo tempo, porque nos conduz a Ele, leva-nos também ao essencial da vida, ao seu verdadeiro significado, à razão mais fiável pela qual vale a pena viver a vida. Só a humildade nos abre à experiência da verdade, da alegria genuína, do conhecimento que conta. Sem humildade, estamos “desligados” da compreensão de Deus e de nós mesmos. Os Magos podiam ter sido grandes de acordo com a lógica do mundo, mas tornam-se pequenos, humildes, e por esta mesma razão conseguem encontrar Jesus e reconhecê-lo. Aceitam a humildade de procurar, de partir, de perguntar, de arriscar, de cometer erros.

Pedir a Deus a graça da humildade 

Francisco convidou todos os homens e mulheres a irem à gruta de Belém para adorar o Filho de Deus feito homem. "Cada um de nós aproxime-se do presépio montado na sua casa, na Igreja ou onde quer que esteja, e faça uma adoração interior: "Eu acredito que és Deus, que este menino é Deus. Por favor, dê-me a graça da humildade para poder compreender".

Segundo o Pontífice, quando nos aproximarmos do presépio para rezar devemos colocar os pobres e pedir a graça da humildade: "Senhor, que eu não me orgulhe, que eu não seja autossuficiente, que eu não acredite que eu sou o centro do universo. Faça-me humilde. Dê-me a graça da humildade. Sem humildade nunca encontraremos Deus: encontraremos a nós mesmos. Porque a pessoa que não tem humildade não tem horizontes diante de si, tem apenas um espelho: olha para si mesma. "

Quebrar o espelho da vaidade, da soberbia

Depois, o Papa recordou "todos aqueles que não têm uma inquietação religiosa, que não se colocam no problema de Deus, ou até lutam contra a religião, todos aqueles que são inadequadamente denominados ateus" e repetiu-lhes a mensagem do Concílio Vaticano II: «A Igreja defende que o reconhecimento de Deus de modo algum se opõe à dignidade do homem, uma vez que esta dignidade se funda e se realiza no próprio Deus [...] a Igreja sabe perfeitamente que a sua mensagem está de acordo com os desejos mais profundos do coração humano».

Por fim, o Francisco desejou a todos "um Feliz Natal, um Feliz e Santo Natal", e exortou a tomar consciência de que Deus vem para cada um de nós.

A consciência de que para procurar Deus, para encontrar Deus, para aceitar Deus, é preciso ser-se humildade: olhar com humildade a graça de quebrar o espelho da vaidade, da soberba, de olhar para nós mesmos. Olhar para Jesus, olhar para o horizonte, olhar para Deus que vem até nós e toca no coração com aquela inquietação que nos leva à esperança. Feliz e santo Natal!

VN