31 outubro 2021

A oração do Papa pelos povos do Haiti e do Vietnam

 
 I Papa Francisco no Angelus deste domingo 
 
 
Depois da oração mariana do Angelus, o Papa Francisco recordou as fortes chuvas em várias partes do Vietnã, o povo haitiano "que está vivendo em condições extremas" e a Cop26 que tem início em Glasgow, Escócia, neste domingo.
 

Mariangela Jaguraba - Vatican News

Depois da oração mariana do Angelus, o Papa Francisco recordou que "em várias partes do Vietnam, as chuvas intensas e prolongadas das últimas semanas causaram grandes inundações, com milhares de evacuados".

A minha oração e o meu pensamento estendem-se às muitas famílias que sofrem, junto com meu encorajamento para aqueles, Autoridades do país e a Igreja local, que estão a trabalhar para responder à emergência. Também estou próximo das populações da Sicília afetadas pelo mau tempo.

A seguir, o Papa recordou o povo haitiano, "que está a viver em condições extremas".

Peço aos responsáveis das nações que apoiem este país, que não o deixem só. E vocês, ao voltarem para casa, procurem notícias sobre o Haiti, e rezem, rezem muito. Eu estava a assistir no programa "A Sua Imagem", o testemunho de um missionário camiliano no Haiti, pe. Massimo Miraglio, as coisas que ele nos disse... quanto sofrimento, quanta dor há nesta terra, e quanto abandono. Não os abandonemos!

O Papa recordou que em Tortosa, em Espanha, foram beatificados no último sábado, Francisco Sojo López, Millán Garde Serrano, Manuel Galcerá Videllet e Aquilino Pastor Cambero, padres da Fraternidade dos Sacerdotes Operários Diocesanos do Coração de Jesus, todos mortos por ódio à fé. "Pastores zelosos e generosos, eles permaneceram fiéis ao seu ministério mesmo correndo risco de vida durante a perseguição religiosa dos anos 30. Que o seu testemunho seja um modelo especialmente para os sacerdotes", disse o Papa, pedindo uma salva de palmas para os novos beatos.

A seguir, o Papa recordou a Cúpula da ONU sobre o Clima, a Cop26, que tem início neste domingo (31/10), em Glasgow, na Escócia.

Rezemos para que o grito da Terra e o grito dos pobres sejam ouvidos; para que este encontro dê respostas eficazes, oferecendo esperança concreta às gerações futuras. Neste contexto, abre-se hoje, na Praça São Pedro, a apresentação fotográfica "Laudato si", de um jovem fotógrafo de Bangladesh.      

Por fim, o Papa saudou os romanos, os peregrinos da Costa Rica e demais partes do mundo e da Itália, e concedeu a todos a sua bênção apostólica.

VN

O Papa: a Palavra de Deus deve ser “ruminada”, deve atingir todos os âmbitos da vida

 
 
 
Francisco disse na alocução que precedeu a oração do Angelus, que a Palavra de Deus "deve ressoar, ecoar dentro de nós. Quando há este eco interior, significa que o Senhor habita no coração". 
 

Mariangela Jaguraba - Vatican News

O Papa Francisco rezou a oração mariana do Angelus deste domingo (31/10), com os fiéis e peregrinos reunidos na Praça São Pedro.

Na alocução que precedeu a oração, o Pontífice ressaltou que o Evangelho fala de um escriba que se aproxima de Jesus e lhe pergunta: "Qual é o primeiro de todos os mandamentos?" Jesus responde, citando as Escrituras e afirma que o primeiro mandamento é amar a Deus. A partir daqui, como consequência natural, segue-se o segundo mandamento: amar o próximo como a mim mesmo.

Segundo Francisco, "ouvindo esta resposta, o escriba não só a reconhece como justa, mas ao fazê-lo repete quase as mesmas palavras proferidas por Jesus: "Muito bem, Mestre! É verdade que amá-lo com todo o coração, com toda a mente, e com toda a força, e amar o próximo como a mim mesmo, é melhor do que todos os holocaustos e os sacrifícios".

A Palavra de Deus deve ser “ruminada”

"Porque ao dar o seu assentimento, o escriba sente a necessidade de repetir as mesmas palavras de Jesus? Esta repetição parece ainda mais surpreendente se pensarmos que estamos no Evangelho de Marcos, que tem um estilo muito conciso. Então, qual é o sentido desta repetição? Perguntou o Papa.

É um ensinamento para nós que ouvimos, porque a Palavra do Senhor não pode ser recebida como uma notícia qualquer: ela deve ser repetida, assimilada, custodiada. A tradição monástica usa um termo ousado, mas muito concreto: a Palavra de Deus deve ser “ruminada”. Podemos dizer que é tão nutritiva que deve atingir todos os âmbitos da vida: envolver, como diz Jesus hoje, todo o coração, toda a alma, toda a mente, toda a força. Ela deve ressoar, ecoar dentro de nós. Quando há este eco interior, significa que o Senhor habita no coração. E nos diz, como àquele bom escriba do Evangelho: " Não estás longe do Reino de Deus."

Familiarizarmo-nos com o Evangelho

De acordo com o Papa, "o Senhor não procura hábeis comentadores das Escrituras, mas sim corações dóceis que, ao acolherem a sua Palavra, se deixam mudar por dentro. Por isso, é tão importante familiarizarmo-nos com o Evangelho, tê-lo sempre à mão, ter um pequeno Evangelho no bolso, na bolsa, para ler e reler, apaixonando-nos por ele".

Quando fazemos isto, Jesus, a Palavra do Pai, entra no nosso coração, torna-se íntimo e nós damos fruto nele. Tomemos o Evangelho de hoje como exemplo: não basta lê-lo e entender que é preciso amar a Deus e ao próximo. É necessário que este mandamento, o "grande mandamento", ressoe dentro de nós, seja assimilado, torne-se a voz da nossa consciência. Então não permanece letra morta, na gaveta do coração, porque o Espírito Santo faz germinar em nós a semente dessa Palavra, e a Palavra de Deus age, está sempre em movimento, é viva e eficaz. Assim, cada um de nós pode tornar-se uma "tradução" viva, diferente e original, da única Palavra de amor que Deus nos doa. Vemos isto na vida dos santos, por exemplo: nenhum é igual ao outro, são todos diferentes, mas todos com a mesma Palavra de Deus.

O Papa convidou a tomar "o exemplo do escriba. Repitamos as palavras de Jesus, façamos que ressoem em nós: «Amar a Deus com todo o coração, com toda a alma, com toda a mente e com toda a força e ao próximo como a mim mesmo». E perguntemo-nos: este mandamento orienta realmente a minha vida? Isto reflete-se nos meus dias? Far.nos-á bem hoje à noite, antes de dormir, fazer um exame de consciência sobre esta Palavra, ver se hoje amamos o Senhor e doamos um pouco de bem a quem encontramos. Que todo o encontro seja para doar um pouco de bem, um pouco de amor que vem dessa Palavra. Que a Virgem Maria, na qual o Verbo de Deus se fez carne, nos ensine a acolher no coração as palavras vivas do Evangelho".

VN

NAVEGAR A VIDA


 

Dormes na barca da minha vida

e isso enche-me
de confiança.

 
Que me importa a chuva,
o vento,
a tempestade,
se à Tua voz
tudo se faz bonança.

Navego neste longo mar,
levado pelo Teu vento,
que sabe onde me levar,
em cada dia,
em cada momento,
e me ensina a perdoar,
a perdoar,
a perdoar,
e a amar,
em todo o tempo…

 

Marinha Grande, 31 de Outubro de 2021
Joaquim Mexia Alves

O Papa: do grito da terra e dos pobres um apelo para mudar o modelo de desenvolvimento

 
A capa do e-book com o prefácio do Papa Francisco
  
Publicamos o prefácio do Papa para o e-book "Laudato si' Reader. Uma Aliança de Atenção à Nossa Casa Comum", publicado pela LEV por ocasião da Cop26. O texto, que reúne reflexões e relatórios sobre a recepção da encíclica em todo o mundo, pode ser obtida gratuitamente a partir de 12 de novembro pelo Vatican News, LEV e pelo site do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, promotor da publicação.

Papa Francisco

À seis anos atrás, publiquei a Carta Encíclica Laudato si', sobre o cuidado de nossa Casa comum, pedindo um novo diálogo partilhado na nossa Casa comum - sobre como estamos a  forjat negativamente o futuro do nosso planeta com o nosso comportamento irresponsável. Estou feliz por ver que a encíclica teve um impacto positivo nos nossos esforços para cuidar de nossa Casa comum na Igreja, nas nossas comunidades ecuménicas e inter-religiosas, nos círculos políticos e económicos, nas esferas educacional e cultural e não só. Depois da publicação da Laudato si', convidei os católicos a unirem-se ao meu amado irmão, Sua Santidade Bartolomeu, o Patriarca Ecuménico, e aos nossos irmãos ortodoxos, para celebrar juntos o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação, no dia 1º de setembro. Estou cheio de gratidão porque a mensagem urgente da Laudato si' ecoou em importantes declarações e especialmente em ações de outras tradições religiosas sobre a nossa vocação de ser guardiães da criação de Deus. Recordo com alegria a Carta Rabínica sobre a Crise Climática, A Declaração Islâmica sobre Mudança Climática Global, A Declaração Budista sobre Mudança Climática aos Líderes Mundiais, a Bhumi Devi Ki Jai!, uma Declaração Hinduísta sobre Mudança Climática.

A Laudato si' é um apelo global para sermos guardiões da nossa Casa comum. É maravilhoso ver que o Dicastério para o Serviço de Desenvolvimento Humano Integral tomou a iniciativa de reunir reflexões de pessoas e comunidades de todo o mundo sobre as mensagens da Laudato si'. Laudato si' Reader, o título sob o qual estas reflexões foram coletadas, é de facto uma conclusão adequada ao "Ano Especial Laudato si'" que foi celebrado de 24 de maio de 2020 a 24 de maio de 2021.

O "Grito da Terra e o Grito dos Pobres" que apresentei na Laudato si' como consequência emblemática da nossa incapacidade de cuidar da nossa Casa comum foi recentemente ampliado pela emergência da Covid-19, que a humanidade ainda está a tentar combater. Assim, uma crise ecológica, representada pelo "grito da terra", e uma crise social, representada pelo "grito dos pobres", tornaram-se letais para uma crise sanitária: a pandemia da Covid-19. Quão verdadeiras são as palavras de meu predecessor, Papa Bento XVI: "As formas como o homem trata o meio ambiente influem nas formas como ele se trata e vice-versa" (Caritas in Veritate, n° 51).

Entretanto, não esqueçamos que as crises também são janelas de oportunidade: são ocasiões para reconhecer e aprender com os erros do passado. A crise atual deve-nos fazer "transformar em sofrimento pessoal o que está a aconter no mundo, e assim reconhecer a contribuição que cada um pode dar" (LS, n° 19). São também para nós um tempo para mudar de marcha, para mudar os maus hábitos a fim de sermos capazes de sonhar, co-criar e agir juntos para alcançar futuros justos e equitativos. É hora de desenvolver uma nova forma de solidariedade universal baseada na fraternidade, no amor, na compreensão recíproca: uma solidariedade que valoriza mais as pessoas do que o lucro, que procura novas formas de entender o desenvolvimento e o progresso. E assim, a minha esperança e a minha oração é que não saiamos desta crise da mesma forma como entramos!

O passado recente mostrou-nos que foram sobretudo as nossas crianças que compreenderam a escala e a enormidade dos desafios que a sociedade tem diante de si, especialmente a crise climática. Devemos ouvi-las com o coração aberto. Devemos seguir o seu exemplo porque têm sabedoria não obstante a idade.

É momento de sonhar grande, de repensar as nossas prioridades - o que valorizamos, o que queremos, o que procuramos - e de planear novamente o nosso futuro, comprometendo-nos em agir na vida de acordo com o ue sonhamos. Agora é momento de agir, e agir juntos!

VN

27 outubro 2021

O Papa: o Espírito muda o coração, a burocracia impede o acesso à graça do Espírito

 
 
"A pregação de S. Paulo é totalmente centrada em Jesus e no seu mistério pascal. Aos Gálatas, tentados a basear a sua religiosidade na observância de preceitos e tradições, ele recorda o centro da salvação e da fé: a morte e ressurreição do Senhor", sublinhou Francisco.

Mariangela Jaguraba - Vatican News

O Papa Francisco deu continuidade ao ciclo de catequeses sobre a Carta de S. Paulo aos Gálatas na Audiência Geral, desta quarta-feira (27/10), na Sala Paulo VI, no Vaticano, sobre o tema "O fruto do Espírito".

"A pregação de S. Paulo é totalmente centrada em Jesus e no seu mistério pascal. Aos Gálatas, tentados a basear a sua religiosidade na observância de preceitos e tradições, ele recorda o centro da salvação e da fé: a morte e ressurreição do Senhor", sublinhou Francisco.

Segundo o Papa, "ainda hoje, muitos procuram a certeza religiosa em vez do Deus vivo e verdadeiro, concentrando-se em rituais e preceitos em vez de abraçar o Deus do amor com todo o seu ser. Esta é a tentação dos novos fundamentalistas, daqueles que têm medo de seguir adiante no caminho e voltam atrás porque se sentem inseguros. Procuram a segurança de Deus e não o Deus da segurança". S- Paulo pede aos Gálatas para que voltem ao essencial, ao Deus que nos dá a vida em Cristo crucificado. Ele testemunha isto na primeira pessoa: «Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim».

Obras da carne e fruto do Espírito

A seguir, o Papa fez a seguinte pergunta: "O que acontece quando encontramos Jesus Crucificado na oração? Acontece o que aconteceu sob a cruz: Jesus entrega o Espírito, ou seja, doa a sua própria vida."

O Espírito, que flui da Páscoa de Jesus, é o princípio da vida espiritual. É Ele que muda o coração: não as nossas obras. É Ele que muda o coração, não as coisas que fazemos, mas a ação do Espírito Santo em nós! É ele quem guia a Igreja, e nós somos chamados a obedecer à sua ação, que vai para onde e como ele quiser. Além disto, foi a constatação de que o Espírito Santo descia sobre todos e que a sua graça agia sem exclusão que convenceu também os mais relutantes dos Apóstolos de que o Evangelho de Jesus era destinado a todos e não a uns poucos privilegiados.

“Aqueles que procuram segurança, o pequeno grupo, afastam-se do Espírito, não deixam a liberdade do Espírito entrar neles. Assim, a vida da comunidade regenera-se no Espírito Santo; e é sempre graças a Ele que alimentamos a nossa vida cristã e continuamos a nossa luta espiritual.”

Segundo o Papa, o combate espiritual é outro grande ensinamento da Carta aos Gálatas. O Apóstolo apresenta duas frentes opostas: por um lado as «obras da carne», por outro o «fruto do Espírito». "Quais são as obras da carne?", perguntou Francisco. "São comportamentos contrários ao Espírito de Deus. Carne é uma palavra que indica o homem na sua dimensão terrena, fechado em si mesmo, numa vida horizontal, onde os instintos mundanos são seguidos e a porta fecha-se ao Espírito, que nos eleva e nos abre a Deus e aos outros. Mas a carne também nos lembra que tudo isto envelhece e passa, apodrece, enquanto o Espírito dá vida. Paulo enumera as obras da carne, que se referem ao uso egoísta da sexualidade, a práticas mágicas que são idolatrias e ao que mina as relações interpessoais, como «contendas, ciúmes, iras, rixas, discórdias, partidos…» Tudo isto é fruto da carne, de um comportamento apenas humano, doentiamente humano. Um ser humano tem os seus valores, mas isto é doentiamente humano."

O fruto do Espírito, ao contrário, é «caridade, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, temperança». Os cristãos, que no batismo se revestiram «de Cristo», são chamados a viver deste modo. Pode ser um bom exercício espiritual ler a lista de S, Paulo e observar a própria conduta, para verificar se corresponde, se a nossa vida está verdadeiramente de acordo com o Espírito Santo, se dá estes frutos. Por exemplo, os três primeiros são amor, paz e alegria: por eles se reconhece se uma pessoa é habitada pelo Espírito. Uma pessoa que está em paz, que é alegre e ama. Com esses três traços, vemos o Espírito.

Tanta burocracia para dar um sacramento

Segundo o Papa, "este ensinamento do Apóstolo é um grande desafio para as nossas comunidades". Por vezes, aqueles que se aproximam da Igreja têm a impressão de estarem perante uma grande quantidade de comandos e preceitos. Isto não é a Igreja, pode ser qualquer associação. Na realidade, a beleza da fé em Jesus Cristo não pode ser apreendida com base em demasiados mandamentos e numa visão moral que, desenvolvendo-se em muitas correntes, pode fazer-nos esquecer a fecundidade original do amor, alimentado pela oração que doa a paz e pelo testemunho jubiloso".

“A vida do Espírito expressa nos sacramentos não pode ser abafada por uma burocracia que impede o acesso à graça do Espírito, autor da conversão do coração. Quantas vezes nós padres ou bispos, fazemos tanta burocracia para dar um sacramento, para acolher as pessoas, e as pessoas dizem: "Não, eu não gosto disso", e vão-se embora. Não veem em nós, muitas vezes, a força do Espírito que regenera, que nos faz novos.”

Rumo à Cop26

Depois da catequese, o Papa saudou os peregrinos de língua inglesa, “especialmente os jovens de vários países envolvidos na COP26 de Glasgow e grupos dos Estados Unidos”. “Sobre todos vós e vossas famílias invoco a alegria e a paz do Senhor”, disse Francisco.

"Sim à vida"

Saudando os fiéis polacos, Francisco recordou que a pedido de uma fundação no país chamada "Sim à vida", abençoou nesta quarta-feira os sinos com o nome "A voz dos nascituros".

Eles têm como destino o Equador e a Ucrânia. Para estas nações e para todos, são um sinal de compromisso a favor da defesa da vida humana desde a concepção até a morte natural. Que o seu som", afirmou o Papa, "anuncie ao mundo o «Evangelho da vida», desperte a consciência dos homens e a memória dos nascituros. Confio à sua oração cada criança concebida, cuja vida é sagrada e inviolável.

VN

26 outubro 2021

Caritas Internacional: estar sempre ao lado dos pobres e dos mais vulneráveis

 

  Os jovens da Caritas Internacional trabalhando no Líbano  
 

No dia 12 de dezembro, a Caritas Internacional celebrará o 70º aniversário da sua fundação. O secretário-geral, Aloysius John, fala com a média vaticana sobre a importância deste aniversário e sobre os desafios mais urgentes para a Confederação da Caritas em tempos de pandemia.
 

Alessandro Gisotti

Atender às necessidades humanitárias que surgiram no final da Segunda Guerra Mundial e prestar assistência às vítimas do conflito. Quando Pio XII a estabeleceu em 12 de dezembro de 1951, estes eram os objetivos principais da Caritas Internacional. Uma Confederação da Caritas nacionais - que passou das primeiras 13 às 162 de hoje - que, ao longo destes 70 anos, aumentou cada vez mais o seu campo de ação e multiplicou os setores de intervenção. No centro, hoje como nas origens, o testemunho concreto da caridade para que as pessoas - sobretudo as mais vulneráveis ​​- possam experimentar o amor misericordioso de Deus. Hoje, a Caritas Internacional anunciou o programa de eventos e iniciativas que marcarão este 70º aniversário de nascimento. Uma ocasião para falar com o seu o secretário-geral, Aloysius John, sobre os desafios que esperam a Caritas no futuro, a partir da crise humanitária global desencadeada pela pandemia.

A Caritas Internacional nasceu poucos anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial. Setenta anos depois da sua fundação, quais são os valores que sustentam a sua Confederação hoje como então?

Aloysius John: A Caritas International nasceu como "mão solícita e amorosa" da Igreja para servir e promover a pessoa humana, em particular, os pobres, os marginalizados e os mais vulneráveis ​​da sociedade. Nestes 70 anos, a nossa Confederação tem sido guiada por valores fundamentais como a proteção da dignidade humana, dos direitos fundamentais e da justiça social. Estes valores estiveram sempre na base da nossa obra, que evoluiu ao longo dos anos acompanhando os sinais dos tempos e procurando um desenvolvimento constante para melhor servir os necessitados. No centro da nossa missão está, e sempre estará, o encontro com os pobres, como também nos lembrou o Papa Francisco em 2019 por ocasião da nossa última Assembleia Geral. «Não se pode viver a caridade sem ter relações interpessoais com os pobres, porque convivendo com os pobres aprendemos a praticar a caridade com espírito de pobreza, aprendemos que caridade é partilhar», disse o Papa.

Nestes 70 anos, a Caritas Internacional esteve presente em todas as grandes emergências humanitárias. Na sua opinião, qual é o maior desafio que vocês enfrentam hoje num mundo marcado por transformações rápidas e profundas?

Aloysius John: O trabalho humanitário mudou significativamente desde 1951 e hoje enfrentamos crises complexas e duradouras, tanto naturais como provocadas pelo homem. Divisões políticas, guerras, conflitos religiosos misturam-se aos efeitos das mudanças climáticas e com o consequente aumento dramático de refugiados deslocados internos. Também enfrentamos graves desigualdades e o surgimento de novas formas de pobreza e vulnerabilidade. À medida que continuamos a servir e a acompanhar as pessoas afetadas por esse sofrimento, enfrentamos o desafio de promover um sentimento de solidariedade para com elas na nossa sociedade moderna. Por outro lado, o desafio mais urgente, diante do imenso sofrimento humano, é mobilizar os recursos necessários para cumprir a nossa missão.

A COVID-19 também exerce pressão sobre as atividades caritativas e humanitárias. Como a Caritas Internacional enfrentou a crise e como está a reparar-se para a pós-pandemia?

Aloysius John: A nossa Confederação viu-se diante de uma crise sem precedentes que fez com que quase todas as Caritas do mundo se empenhassem na resposta à pandemia. Um sinal concreto de apoio e esperança veio do Santo Padre, que quis incluir a Caritas Internacional na Comissão Vaticana COVID-19. A pedido do Papa, e em colaboração com o Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral, criamos um fundo que apoiou 40 projetos da Caritas. Este gesto de solidariedade motivou outros atores locais a unirem-se à Caritas para oferecer apoio. Em Bangladesh, por exemplo, alguns proprietários de restaurantes muçulmanos apoiaram a Caritas local doando alimentos para os refugiados. A resposta imediata à emergência foi acompanhada pela reflexão sobre o amanhã. Instados pelo convite do Papa Francisco a "pensar no novo futuro" da pós-pandemia, criamos um think tank e estamos a refletir sobre como o trabalho da Caritas será influenciado pela nova realidade.

A Igreja está globalmente envolvida no processo sinodal desejado e iniciado pelo Papa Francisco. Qual é a contribuição que uma realidade eclesial mundial como a Caritas Internacional pode oferecer à sinodalidade?

Aloysius John: O Papa Francisco destacou que o processo sinodal, que envolve toda a Igreja, tem como primeiro ponto a escuta. A capacidade de imaginar um novo futuro para a Igreja. Portanto, depende em grande parte do início de um processo de escuta, diálogo e discernimento comunitário. A Caritas Internacional pode, portanto, contribuir para levar a sua contribuição para a reflexão nas comunidades cristãs de base e nas paróquias, promovendo o diálogo e a solidariedade com os mais vulneráveis ​​dentro delas.

Um aniversário é uma ocasião para fazer um balanço, mas também para relançar. Em que se concentrará a Caritas Internacional nos próximos anos? Há alguma campanha em particular que lançarão em vista do aniversário?

Aloysius John:  Esta pandemia mostrou-nos como, sem o cuidado da humanidade e da criação, todos nós, nos tornaremos cada vez mais vulneráveis. Hoje, o mundo precisa, mais do que nunca, de uma conversão radical de corações e mentes e de uma reconciliação com a criação. Realizando o nosso trabalho de caridade, estamos particularmente comprometidos em promover uma civilização de amor e cuidado pela humanidade e a nossa Casa Comum. É precisamente nestes pontos que se apoiará a nossa Campanha global, que lançaremos com vista ao nosso aniversário e que se estenderá até 2024.

VN

25 outubro 2021

Palavras de abertura da fase diocesana do Sínodo dos Bispos 2023

 

 

1. Abrimos hoje no Patriarcado a fase diocesana do Sínodo dos Bispos 2023, cumprindo a indicação do Papa Francisco, que quis dinamizar toda a Igreja no aprofundamento doutrinal e prático da sinodalidade, como nota essencial do nosso ser e missão.
Fazemo-lo com plena adesão, tanto mais quanto vai nesse sentido a principal prioridade saída do Sínodo Diocesano, que de 2014 a junho passado nos ocupou nas suas três fases: preparação, celebração e receção sistemática. No próximo número da nossa revista oficial, a Vida Católica, será publicada a documentação relativa a esta última fase, com as respetivas avaliações e conclusões. Será bom e útil lê-la atentamente, bem como ao número já dedicado às fases da preparação e da celebração, pois dão conta de muitas contribuições chegadas dos grupos sinodais e iniciativas que o caminho sinodal gerou entre nós durante esses anos. Por ali ressoa a voz do Povo de Deus do Patriarcado de Lisboa. Assim prosseguiremos, convicta e decididamente, em grande sintonia com o caminho da Igreja em geral.
O que faremos agora e acompanharemos depois, nas fases seguintes do Sínodo dos Bispos, decorrerá a par com a preparação e efetivação da Jornada Mundial da Juventude, que o Papa Francisco marcou para Lisboa em agosto de 2023. Para isso trabalhamos já, com particular empenho dos mais diretamente envolvidos, no Patriarcado e nas outras dioceses portuguesas, bem como além-fronteiras e em ligação ao dicastério romano. 
Trabalhamos e rezamos, pois rezar é trabalhar com Deus e segundo os seus desígnios, único modo certo e seguro de difundir o Reino. Assim fez Cristo, cumprindo a vontade do Pai e assim fez Maria quando «se pôs a caminho e se dirigiu apressadamente para a montanha» ao encontro de Isabel (Lc 1, 39). Assim prosseguimos nós na preparação da Jornada Mundial da Juventude. 
É algo que ultrapassa em grande escala tudo o que alguma vez realizámos em Portugal, mas estamos crentes de que constitui uma magnífica oportunidade de rejuvenescimento anímico para os que estão e os que vierem de todo o mundo. Aliás, é algo sinodal também, por ser caminho feito em conjunto e destinado a todos. Assim o entenderam os próprios poderes públicos, reconhecendo a oportunidade e apoiando a realização, a bem da sociedade em geral, que bem precisa de realento depois da grande depressão pandémica.

2. A sinodalidade refere-se ao essencial da vida da Igreja, enquanto seguimento e testemunho comunitário de Cristo e do seu Evangelho
. A imagem da caravana (sunodía) em que Jesus foi a Jerusalém, ainda adolescente e com Maria e José (cf. Lc 2, 41 ss), sugere bem o que havemos de ser e fazer como Igreja, pelos caminhos deste mundo e rumo à Casa do Pai. Assim prosseguiu Jesus já adulto, anunciando com o seu grupo a Boa-Nova do Reino de Deus (cf. Lc 8, 1-2).
Reparemos também como reconheceu e valorizou a atitude e a atuação de vários outros, que, não pertencendo ao seu povo ou ao seu grupo, aderiam à sua pessoa ou coincidiam no bem que praticavam (cf. Mt 8, 5 ss: a fé do centurião; Mt 15, 21 ss: a fé da cananeia; Mc 9, 40: «Quem não é contra nós é por nós»).  Por isso escutaremos todos os que se queiram associar ao nosso caminho sinodal, sem esquecer o âmbito ecuménico e inter-religioso. 
Entretanto, valorizemos efetivamente todas as instâncias de sinodalidade previstas nos cânones e insistentemente recomendadas, como tanto lembrámos ao longo do nosso sínodo diocesano: conselhos pastorais e económicos em cada paróquia, encontros e iniciativas vicariais, conselhos e instâncias de corresponsabilidade diocesana, colaboração de institutos e movimentos… 
Na fé de Deus unitrino nada se faz sem comunhão e o Evangelho de Cristo é introdução na vida divina, comunhão perfeita. Relembremos o trecho inicial da Primeira Epístola de São João, quase um resumo do que seja a sinodalidade missionária: «… anunciamo-vos a Vida eterna que estava junto do Pai e que se manifestou a nós […], para que também vós estejais em comunhão connosco. E nós estamos em comunhão com o Pai e com o seu Filho, Jesus Cristo» (1 Jo 1, 2-3). Tudo dito no plural, como aprendizagem de Deus comunhão. 

3. Numa última referência, que podia ser a primeira, sublinho que o lançamento da nossa fase sinodal diocesana acontece neste dia e local, para coincidir com a Solenidade da Dedicação da Sé
. Tem especial significado que assim seja, pois a evocação do que sucedeu naquele dia inaugural do tempo português da Igreja de Lisboa reforça o sentido do que somos e havemos de ser sempre e mais, para louvor de Deus e serviço de todos. 
Nas palavras inspiradas e inspiradoras da Constituição Lumen Gentium, nº 1, «a Igreja, em Cristo, é como que o sacramento, ou sinal, e o instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o género humano». É um objetivo que só Deus garante e o mundo profundamente espera. - Nunca desistiremos de o cumprir!

Sé de Lisboa, 25 de outubro de 2021

+ Manuel, Cardeal-Patriarca

Patriarcado de Lisboa

24 outubro 2021

Papa: pedir tudo a Jesus, pois Ele tudo pode

 
 
A exemplo de Bartimeu, ter uma fé concreta, insistente e corajosa - exortou o Papa - expondo com confiança o coração diante do Senhor e levando-Lhe a nossa história e os rostos que fazem parte da nossa vida.
 

Jackson Erpen – Cidade do Vaticano

“Quando a fé é viva, a oração é sincera: não mendiga trocos, não se reduz às necessidades do momento. A Jesus, que tudo pode, deve ser pedido tudo. Ele não vê a hora para derramar a sua graça e a sua alegria nos nossos corações”.

A fé concreta, insistente e corajosa de Bartimeu foi-nos apresentada como exemplo pelo Papa Francisco, ao refletir no Angelus deste 30º Domingo do Tempo Comum sobre a narrativa apresentada no Evangelho de Marcos (Mc 10, 46-52).

Dirigindo-se aos milhares de fiéis e turistas reunidos na Praça S. Pedro, num belo domingo de outono, o Papa começa por destacar a importância deste encontro entre Bartimeu - “um cego que mendiga ao longo do caminho” – e Jesus, que se preparava para entrar em Jerusalém para a Páscoa.

A fé, raiz do milagre

Se os gritos de Bartimeu "Filho de David, Jesus, tem piedade de mim" incomodaram a multidão e os apóstolos, não passaram despercebidos a Jesus, apercebendo-se que a sua voz “é cheia de fé, uma fé que não tem medo de insistir, de bater no coração de Deus, apesar da incompreensão e repreensões. E aqui – ressaltou o Papa - está a raiz do milagre. Na verdade, Jesus disse-lhe: ‘A tua fé te curou’”.

Ou seja, “a fé de Bartimeu, transparece pela sua oração. Não é uma oração tímida, uma oração convencional. Antes de tudo, ele chama o Senhor de "Filho de David", isto é, reconhece-o como Messias, o Rei que vem ao mundo. Depois chama-o pelo nome, com confiança: "Jesus". Não tem medo dele, não se distancia. E assim, de coração, grita ao Deus amigo todo o seu drama: 'Tem piedade de mim!'".

Não pede alguns trocos como faz com os transeuntes. Não, não. Aquele que tudo pode, pede tudo. Às pessoas pede trocos, a Jesus, que pode fazer tudo, pede tudo: “Tem piedade de mim, tem piedade de tudo o que sou”. Não pede uma graça, mas apresenta-se a si mesmo: pede misericórdia para a sua pessoa, para a sua vida. Não é um pedido pequeno, mas é belíssimo, porque invoca a piedade, isto é, a compaixão, a misericórdia de Deus, a sua ternura.

Apresentarmo-nos inteiramente ao Senhor, como somos

“Bartimeu não usa muitas palavras - recorda Francisco -  diz o essencial e confia-se no amor de Deus, que pode fazer a sua vida voltar a florescer realizando o que é impossível aos homens”:

Por isso, não pede esmola ao Senhor, mas manifesta tudo, a sua cegueira e o seu sofrimento, que iam além do não poder ver. A cegueira era a ponta do iceberg, mas no seu coração haveria feridas, humilhações, sonhos desfeitos, erros, remorsos. E ele rezava com o coração.

"E nós - pergunta o Papa - quando pedimos uma graça a Deus, colocamos também na oração a nossa própria história: as feridas, as humilhações, os sonhos desfeitos, os erros, os remorsos?"

E ao sugerir para fazermos nossa a oração “Filho de David, Jesus, tem piedade de mim!”, o Papa exorta-nos a intyerrogarmo-nos: "Como vai a minha oração?":

É oração corajosa, tem a boa insistência coo aquela de Bartimeu, sabe "agarrar" o Senhor que passa, ou contenta-se em dar-lhe uma saudação formal de vez em quando, quando me lembro? Estas orações mornas não ajudam nada.

Fé viva, oração sincera

Depois – acrescentou Francisco - também podemos interrogarmo-nos se “a nossa oração é “substanciosa”, expõe o coração diante do Senhor: levo a ele a história e os rostos da minha vida? Ou é anémica, superficial, feita de rituais sem afeto e sem coração?“:

Quando a fé é viva, a oração é sincera: não mendiga trocos, não se reduz às necessidades do momento. A Jesus, que tudo pode, tudo deve ser pedido. Não se esqueçam disto. A Jesus que tudo pode, deve ser pedido tudo, com insistência diante d'Ele. Ele não vê a hora para derramar sua graça e sua alegria nos nossos corações, mas infelizmente somos nós que mantemos distância, talvez por timidez, ou preguiça ou descrença. Tantos de nós, quando rezamos, não acreditamos que o Senhor possa realizar o milagre.

Oração insistente e corajosa

Para ilustrar o resultado de uma oração insistente e expectante, o Papa voltou a contar uma história ocorrida quando era arcebispo na Argentina: com a filha pequena desenganada pelos médicos, um pai viajou 70 km de autocarro até um Santuário mariano. Mesmo estando fechado, ele passou a noite agarrado às grades do portão rezando e clamando: "Senhor, salva-a. Senhor, dá a ela a vida". Ao voltar ao hospital na manhã seguinte, encontrou a esposa que chorava, mas não de tristeza: "Não se entende, não se entende. Os médicos dizem algo estranho: parece curada".

"Aquele grito daquele homem que pedia tudo, foi ouvido pelo Senhor que lhe tinha dado tudo", disse o Papa, acrescentando: "Esta não é uma história, eu vi isto"!:

“Mas temos coragem na oração? Peçamos tudo àquele que pode dar tudo, como Bartimeu, que é um grande mestre, um grande mestre na oração nisto.”

Que Bartimeu – disse ao concluir - seja um exemplo para nós com a sua fé concreta, insistente e corajosa. E que Nossa Senhora, a Virgem orante, nos ensine a dirigirmo-nos a Deus de todo o coração, confiando que Ele escuta atentamente cada oração.

VN

23 outubro 2021

Francisco: construir um mundo mais justo não é política, mas "dar corpo à fé"

 
 Na sala Clementina, no encontro do Papa com membros da Fundação Centesimus annus 
 
O Papa encontrou-se com os membros da Fundação Centesimus Annus Pro Pontifice e com os participantes da Conferência internacional "Solidariedade, cooperação e responsabilidade, os antídotos para combater as injustiças, desigualdades e exclusões", realizada no Vaticano nos dias 21 a 22 de outubro, e reitera que ser "irmãos de todos" não é "uma utopia inatingível", mas "um sonho possível, o mesmo de Deus"
 

Alessandro Di Bussolo - Cidade do Vaticano

A construção de um mundo "mais solidário, justo e equitativo" não é uma "questão política", mas "é dar corpo à fé" em Deus "amante do homem" e da vida. Podemos ser verdadeiramente “todos irmãos”: se pode parecer “uma utopia inatingível”, preferimos “acreditar que é um sonho possível”, porque é “o mesmo de Deus”.

Este é o cerne da forte mensagem que o Papa Francisco deixa aos participantes da Conferência internacional sobre "Solidariedade, cooperação e responsabilidade, os antídotos para combater as injustiças, desigualdades e exclusões", organizada no Vaticano pela Fundação Centesimus Annus Pro Pontifice nos dias 21 e 22 de outubro, e cujos participantes foram recebidos na manhã deste sábado, 23, na Sala Clementina do Palácio Apostólico.

A injustiça de um sistema económico que descarta vidas

Os temas da conferência “são grandes e essenciais”, sublinha Francisco após agradecer à presidente da Fundação, Anna Maria Tarantola, pelas suas palavras de saudação “sempre claras”. E aos membros da Fundação, junto com os cientistas, economistas, ministros, cardeais e bispos que participaram nos dois dias de trabalho, reafirma que são reflexões importantes ...

Numa época em que as incertezas e precariedades que marcam a existência de tantas pessoas e comunidades são agravadas por um sistema económico que continua a descartar vidas em nome do deus dinheiro, incutindo comportamentos vorazes em relação aos recursos da Terra e alimentando-se muitas formas de iniquidade.

Estudar uma nova economia "equitativa e benéfica"

A injustiça e a exploração diante das quais “não podemos ficar indiferentes”, esclarece o Pontífice, mas a resposta não pode ser apenas denúncia, “é antes de tudo a promoção ativa do bem”, portanto, “denunciar o mal, mas promover o bem”.

Neste sentido, expressa o seu apreço pela atividade da Fundação, especialmente no campo da educação e da formação, bem como “o compromisso de financiar estudos e pesquisas para os jovens sobre novos modelos de desenvolvimento económico e social, inspirados na doutrina social da Igreja”. Isso é algo importante, comenta:

No terreno poluído pelo predomínio das finanças, temos necessidade de muitas pequenas sementes que façam brotar uma economia equitativa e benéfica, à medida do homem e digna do homem. Temos necessidade de possibilidades que se tornem realidades, de realidade que deem esperança. Isto significa,colocar na prática a Doutrina Social da Igreja.

O predomínio "inutilizável" e "líquido" das finanças

Sobre o “predomínio das finanças”, que aparece como “algo de inutilizável”, “de líquido, gasoso”, e que acaba “como a corrente de S. António”, o Papa conta, deixando de lado o discurso preparado, sobre um encontro de há quatro anos atrás - “uma experiência que talvez possa servir-vos” - com um “grande” economista, que também trabalhava para um governo.

E ela disse-me que tentou criar um diálogo entre economia, humanismo e fé, e religião, e que deu certo, e que deu certo e continua a caminhar bem, num grupo de reflexão. Tentou o mesmo - disse-me - com as finanças, o humanismo e a religião, e não puderam nem mesmo começar. Interessante. Isto faz-me pensar.

Solidariedade, cooperação e responsabilidade: é doutrina social

As três palavras escolhidas como título para a Conferência, solidariedade, cooperação e responsabilidade, representam, reitera o Papa Francisco, “três pedras angulares da Doutrina Social da Igreja”, que vê a pessoa humana “naturalmente aberta às relações”, como “o vértice da criação e o centro da ordem social, económica e política”.

Com este olhar, atento ao ser humano e sensível às dinâmicas da história, “contribui para uma visão de mundo que se opõe àquela individualista”, porque alicerça-se “na interligação entre as pessoas e tem como fim o bem comum”. Mas também opõe-se, esclarece o Papa, “à visão coletivista, que hoje ressurge numa nova versão, escondida nos projetos de homologação tecnocrática”:

Mas não se trata de uma “questão política”: a Doutrina Social está ancorada na Palavra de Deus, para orientar processos de promoção humana a partir da fé no Deus feito homem. Por isso deve ser seguida, amada e desenvolvida: apaixonemo-nos novamente pela Doutrina Social, tornemo-la conhecida: é um tesouro da tradição eclesial!

É precisamente estudando a doutrina social, continua Francisco a dirigir-se aos presentes, "que também vocês se sentiram chamados a comprometerem-se contra as desigualdades, que ferem em particular os mais frágeis, e a trabalhar por uma fraternidade real e eficaz".

Zelar pelo respeito da pessoa humana

As três palavras da Conferência, "solidariedade, cooperação, responsabilidade", recordam, para o Pontífice, "o mesmo mistério trinitário de Deus, que a partir da "comunhão de Pessoas" convida-nos "à abertura generosa aos outros (solidariedade), por meio da colaboração com os outros (cooperação), por meio do compromisso com os outros (responsabilidade)”. E a fazer isto “em todas as expressões da vida social, por meio das relações, do trabalho, do empenho civil, da relação com a criação, a política”.

Em todos os âmbitos, hoje somos mais do que nunca obrigados a testemunhar a atenção pelos outros, a sair de nós mesmos, a comprometer-nos gratuitamente com o desenvolvimento de uma sociedade mais justa e equitativa, onde não prevaleçam o egoísmo e os interesses de parte. E, ao mesmo tempo, somos chamados a zelar pelo respeito da pessoa humana, pela sua liberdade, pela proteção da sua inviolável dignidade.

Como irmãos de todos, colaborar com todos para o bem comum

Esta, para o Papa Francisco, é “a missão de pôr em prática a Doutrina Social da Igreja”. Mas, ao fazê-lo, recorda, “muitas vezes se vai contra a corrente”, mesmo que “não estejamos sozinhos”. Deus faz se próximo de nós ”. Não em palavras, mas encarnando-se em Jesus. Com Ele, nosso irmão, “reconhecemos em cada homem um irmão, em cada mulher uma irmã”. Por isso, “animados por esta comunhão universal”, como crentes, “podemos colaborar sem medo com cada um para o bem de todos: sem fechamentos, sem visões excludentes, sem preconceitos”:

Como cristãos, somos chamados a um amor sem fronteiras e sem limites, sinal e testemunho de que é possível superar os muros do egoísmo e dos interesses pessoais e nacionais; superar o poder do dinheiro que muitas vezes decide as causas dos povos; superar as cercas das ideologias, que dividem e amplificam o ódio; superar cada barreira histórica e cultural e, sobretudo, superar a indiferença: aquela cultura da indiferença que, infelizmente, é quotidiana. Todos podemos ser irmãos e, portanto, podemos e devemos pensar e trabalhar como irmãos de todos.

Não uma utopia inatingível, mas um sonho possível: o de Deus

A da fraternidade universal, “pode parecer uma utopia inatingível”, admite o Papa, que porém convida-nos a acreditar “que é um sonho possível, porque é o mesmo sonho do Deus trino”. Com a sua ajuda, este sonho "pode ​​começar a tornar-se realidade também neste mundo". Uma grande tarefa, a de "construir um mundo mais unido, justo e equitativo".

Para o crente, não é algo de prático desvinculado da doutrina, mas é dar corpo à fé, para o louvor de Deus, amante do homem, amante da vida. Sim, queridos irmãos e irmãs, o bem que vocês fazem a cada homem na terra alegra o coração de Deus no céu.

VN

20 outubro 2021

Francisco: a verdadeira liberdade é plenamente expressa na caridade

 

 
"Este menino teve a liberdade de se aproximar e mover-se como se estivesse em casa", disse o Papa, agradecendo ao "menino pela lição que nos deu a todos. Que o Senhor o ajude na sua limitação, no seu crescimento, porque ele deu este testemunho que veio do seu coração".
 

Mariangela Jaguraba - Vatican News

"A liberdade realiza-se na caridade" foi o tema da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral desta quarta-feira (20/10). O pontífice deu continuidade ao ciclo de catequeses sobre a Carta de São Paulo aos Gálatas.

Uma criança aproximou-se do Papa e o Pontífice aproveitou a ocasião para recordar o que Jesus diz a propósito da espontaneidade e da liberdade das crianças. O menino italiano de 10 anos que se aproximou do Papa chama-se Paolo Jr. Ele superou as barreiras de segurança, na Sala Paulo VI, e foi tranquilamente em direção ao Santo Padre. Paolo sofre de atraso cognitivo. Veio a Roma com a sua família de San Ferdinando di Puglia e participou na Audiência Geral.

"Este menino teve a liberdade de se aproximar e mover.se como se estivesse em casa", disse o Papa, lembrando as palavras de Jesus: "Se vós não vos tornardes como crianças, não entrarão no Reino do Céu." Ter a "coragem de aproximar-me do Senhor, de estar aberto ao Senhor, de não ter medo do Senhor.

Testemunho que vem do coração

Agradeço a este menino pela lição que nos deu a todos. Que o Senhor o ajude na sua limitação, no seu crescimento, porque ele deu este testemunho que veio do seu coração. As crianças não têm um tradutor automático do coração para a vida: o coração continua.

São Paulo, na sua Carta aos Gálatas, "introduz-nos gradualmente na grande novidade da fé. Renascidos em Cristo, passamos de uma religiosidade feita de preceitos para uma fé viva, que tem o seu centro na comunhão com Deus e com os irmãos, ou seja, na caridade. Passamos da escravidão do medo e do pecado para a liberdade dos filhos de Deus".

"A liberdade não é uma forma libertina de viver, segundo a carne, ou segundo o instinto, desejos individuais e impulsos egoístas; pelo contrário, a liberdade de Jesus leva-nos a estar – escreve o Apóstolo – «ao serviço uns dos outros». A liberdade em Cristo tem alguma dimensão de escravidão, que nos leva ao serviço, a viver para os outros. Por outras palavras, a verdadeira liberdade é plenamente expressa na caridade. Mais uma vez encontramo-nos perante o paradoxo do Evangelho: somos livres para servir; e não, de fazer o que queremos. Encontramo-nos plenamente na medida em que nos doamos; possuímos a vida se a perdemos. Isto é Evangelho puro", sublinhou Francisco.

Não existe liberdade sem amor

"Mas como se pode explicar este paradoxo?", perguntou o Papa. A resposta do Apóstolo é simples e exigente: «mediante o amor».

Não existe liberdade sem amor. A liberdade egoísta de fazer o que eu quero não é liberdade, porque ela volta para si mesma. Não é fecunda. Foi o amor de Cristo que nos libertou e é ainda o amor que nos liberta da pior escravidão, a do nosso ego; por conseguinte, a liberdade cresce com o amor. Mas, atenção: não com o amor intimista, das novelas, não com a paixão que simplesmente procura o que nos convém e o que gostamos, mas com o amor que vemos em Cristo, a caridade: este é o amor verdadeiramente livre e libertador. 

O Papa frisou que "para Paulo a liberdade não significa “fazer o que nos apetece”. Este tipo de liberdade, sem um fim e sem referências, seria uma liberdade vazia. Uma liberdade de circo. E de facto deixa um vazio interior: quantas vezes, depois de termos seguido apenas o nosso instinto, nos damos conta de que ficamos com um grande vazio interior e que abusamos do tesouro da nossa liberdade, da beleza de poder escolher o verdadeiro bem para nós mesmos e para os demais. Só esta liberdade é plena, concreta, e nos insere na vida real de cada dia".

Recordar-me dos pobres

Na primeira Carta aos Coríntios, o Apóstolo responde àqueles que têm uma ideia errada de liberdade. «Tudo é lícito!», dizem eles. «Sim, mas nem tudo é benéfico», responde Paulo. «Tudo é lícito!» – «Sim, mas nem tudo edifica», objetou o Apóstolo. E acrescenta: «Ninguém procure o próprio interesse, senão os dos outros».

Esta é uma regra para desmascarar qualquer liberdade egoísta. Aqueles que são tentados a reduzir a liberdade apenas aos próprios gostos, Paulo apresenta a exigência de amor. A liberdade guiada pelo amor é a única que liberta os outros e a nós mesmos, que sabe ouvir sem impor, que sabe amar sem forçar, que constrói e não destrói, que não explora os demais para a sua conveniência e que pratica o bem sem procurar o próprio benefício. Em suma, se a liberdade não estiver ao serviço do bem, corre o risco de ser estéril e de não dar frutos. Por outro lado, a liberdade animada pelo amor conduz aos pobres, reconhecendo no seu rosto o de Cristo.

"Recordar-me dos pobres." Depois da luta ideológica entre Paulo e os apóstolos eles concordaram que o importante é seguir em frente e "não nos esquecermos dos pobres, ou seja, que a tua liberdade como pregador deve ser uma liberdade ao serviço dos outros, não para ti mesmo, para fazeres o que queres".

A pandemia ensinou-nos que precisamos uns dos outros

Francisco recordou uma das mais difundidas concepções modernas de liberdade: "A minha liberdade acaba onde começa a tua". "Mas aqui falta a relação! Trata-se de uma visão individualista. A dimensão social é fundamental para os cristãos", recordou Francisco, permite-lhes "olhar para o bem comum e não para o interesse particular".

O Papa sublinhou que "neste momento histórico, precisamos de redescobrir a dimensão comunitária, não individualista, da liberdade.  

A pandemia ensinou-nos que precisamos uns dos outros, mas não é suficiente sabê-lo, precisamos de o escolher concretamente todos os dias. Decidir sobre aquela estrada. Os outros não são um obstáculo à minha liberdade, mas a possibilidade de a realizar plenamente. A nossa liberdade nasce do amor de Deus e cresce na caridade.

 

 Paolo beija o Papa Francisco durante a Assembleia Geral 

VN

"A minha alma dilacerada". Nas mãos do Papa, a carta de uma vítima de abusos

 
 O Papa Francisco 
 
Francisco recebeu o corajoso testemunho de uma sobrevivente e quis que o presidente da Comissão para a Proteção dos Menores, cardeal O'Malley, o partilhasse com todos os sacerdotes e seminaristas. Nas páginas da missiva, a dor de não poder mais senti-se segura na Igreja, depois o apelo: "Vocês receberam um dom enorme, sejam bons sacerdotes"
 

Salvatore Cernuzio – Vatican News

"O meu nome é... e durante anos fui maltratada por um padre a quem eu deveria chamar de 'irmãozinho' e eu era sua 'irmãzinha'."

O nome não aparece, mas aparece - e dolorosamente clara - a ferida profunda que os abusos sofridos praticados por um sacerdote abriu na alma desta mulher que, mesmo depois de muitos anos, tem dificuldade de começar um caminho de recuperação. Tanto que ela ainda tem medo de ver qualquer sacerdote e não pode sequer ir à missa.

Um alerta aos sacerdotes

A carta escrita em italiano por uma sobrevivente e partilhada com a Pontifícia Comissão para a Proteção dos Menores é de partir o coração, mas ao mesmo tempo corajosa. O Papa Francisco pôde vê-la e ler com os seus próprios olhos estas páginas impregnadas de amargura e sofrimento. O Papa também quis que todos os sacerdotes pudessem lê-la, como alerta de um horror que a Igreja está a procurar contrastar com veemência. Seguidamente, autorizou o presidente da Comissão, o cardeal Sean O'Malley, a tornar público este testemunho.

O'Malley: a voz de todas as pessoas feridas

"Neste tempo de renovação e conversão pastoral em que a Igreja enfrenta o escândalo e as feridas de abusos sexuais infligidos em todos os lugares a tantos filhos de Deus, o nosso Santo Padre recebeu um corajoso testemunho oferecido a todos os sacerdotes por uma sobrevivente", escreve o arcebispo de Boston, EUA, numa breve introdução à missiva. "Ao partilhar este testemunho, oferecido a nós por uma vítima cujo nome foi subtraído por razões de anonimato, Sua Santidade o Papa Francisco deseja acolher a voz de todas as pessoas feridas e mostrar a todos os sacerdotes que proclamam o Evangelho o caminho que conduz ao autêntico serviço de Deus em benefício de todos os vulneráveis."

Em nome das crianças

A sobrevivente invoca a vitória da "verdade amorosa" e diz que conta o que experimentou "também em nome das outras vítimas... das crianças que foram profundamente feridas, a quem foi roubadaa  sua infância, pureza e respeito...". Crianças "que foram traídas e das quais se aproveitou de sua confiança sem limites... das crianças cujos corações batem, que respiram, vivem... mas as mataram uma vez (duas, várias vezes)". "As suas almas foram dilaceradas em pequenos pedaços ensanguentados".

"A Igreja é a minha Mãe", diz a mulher, "e dói-me muito quando ela está ferida, quando está suja". "Os adultos que experimentaram esta hipocrisia quando crianças nunca poderão apagá-la das suas vidas. Elas podem esquecer por um pouco de tempo, tentar perdoar, tentar viver uma vida plena, mas as cicatrizes permanecerão nas suas almas, elas não desaparecerão."

Ânsias, medos, distúrbios pós-traumáticos

A autora da carta não esconde as insuportáveis condições de vida em que se encontra atualmente, mesmo depois de anos. "Tento sobreviver, sentir alegria, mas na realidade é uma luta incrivelmente difícil... Tenho distúrbio de identidade dissociativa, distúrbio pós-traumático complexo grave (PTSD), depressão, ansiedades, medo das pessoas, erros e, não durmo e, se consigo adormecer, tenho sempre pesadelos. Às vezes tenho estados, quando estou 'fora', não percebo 'aqui ' e ' agora'. O Meu corpo lembra-se de cada toque...".

"Tenho medo dos padres, de estar nas proximidades deles", conta ela mais adiante. "Ultimamente não posso ir à Santa Missa. Isto amachuca -me muito...". A Igreja, "aquele espaço sagrado era a minha segunda casa", e ele, o sacerdote que dela abusou, "tirou-lhe isto". "Tenho um grande desejo de me sentir segura na Igreja, de não ter medo, mas o meu corpo, as minhas emoções reagem de uma maneira completamente diferente", lê-se no texto, que se conclui com um apelo a cada sacerdote, de todas as idades e países.

Proteger a Igreja

"Gostaria de pedir-ves que protejam a Igreja, o corpo de Cristo! Aquele em que tudo está cheio de feridas e cicatrizes. Por favor, NÃO permitam que essas feridas se aprofundem e que novas feridas ocorram! Vocês são homens jovens e fortes. CHAMADOS! Homens chamados por Deus, para servir a Deus, e através dele, as pessoas... Deus vos chamou para ser seu instrumento entre os homens. Vocês têm uma GRANDE RESPONSABILIDADE! Uma responsabilidade que não é um fardo, mas um DOM! Por favor, tratem desse dom de acordo com o exemplo de Jesus... com HUMILDADE e AMOR!".

Apelo aos sacerdotes: viver a verdade

O apelo torna-se uma súplica comovente e comovedora, movida por um instinto de amor à Igreja: "Por favor, não varramos as coisas para debaixo do tapete, porque depois elas começarão a cheirar mal, a apodrecer e o próprio tapete se decomporá... Percebamos que se ocultarmos estes factos, quando nos calamos sobre eles, ocultamos a sujidade e assim tornamo-nos CÚMPLICES. Se queremos viver na verdade, não podemos fechar os nossos olhos".

"Viver na verdade é viver de acordo com Jesus, ver as coisas através dos seus olhos", continua a carta. Cristo "não fechou os olhos ao pecado diante do pecado e do pecador, mas viveu a VERDADE com AMOR... Com verdade amorosa apontou o pecado e o pecador". "Por favor", escreve a vítima, ainda dirigindo-se aos sacerdotes, "percebam que receberam um enorme presente. O dom de serem um alter Christus, de serem a encarnação de Cristo aqui no mundo. As pessoas, e especialmente as crianças, não veem em vós uma pessoa, mas Cristo, Jesus, em quem elas confiam sem limites". É algo "enorme e forte", mas também "muito frágil e vulnerável". "Por favor - conclui a sobrevivente -, sejam bons sacerdotes".

VN