29 setembro 2021

Papa: justificados pela graça, sejamos ativos no amor a Deus e ao próximo

 
 
 
Na sua catequese semanal, Francisco falou de um tema “difícil, mas importante”: o da justificação. Se a justificação é a consequência da misericórdia de Deus, sejamos misericordiosos para com o próximo.
 

Bianca Fraccalvieri – Cidade do Vaticano

O Papa Francisco reuniu-se na manhã desta quarta-feira com milhares de fiéis na Sala Paulo VI para a Audiência Geral.

Após a parentese na semana passada para recordar a sua viagem a Budapeste e Eslováquia, na catequese de hoje o Pontífice retomou o ciclo sobre a Carta aos Gálatas e comentou um tema que ele mesmo definiu como “difícil, mas importante”: o da justificação.

“O que é a justificação? Nós, como pecadores, tornamo-nos justos. Quem nos fez justos? Este processo de transformação é a justificação. Nós, diante de Deus, somos justos.”

Certamente somos pecadores, “mas na base somos justos”, explicou Francisco, e quem nos justificou foi Jesus Cristo.

A bondade de Deus

Paulo insiste no facto de que a justificação vem da fé em Cristo. No seu pensamento, a justificação é a consequência da “misericórdia de Deus que oferece o perdão”. “E este é o nosso Deus, assim tão bom! Misericordioso, paciente e repleto de misericórdia, que continuamente oferece o perdão. Continuamente.

De facto, através da morte de Jesus, Deus destruiu o pecado e deu-nos o perdão e a salvação de uma forma definitiva. Assim justificados, os pecadores são acolhidos por Deus e reconciliados com Ele.

É como um regresso à relação original entre o Criador e a criatura, antes que interviesse a desobediência do pecado. Portanto, a justificação que Deus realiza permite que recuperemos a inocência perdida com o pecado. E isto ocorre “por pura graça, não pelos nossos méritos”. Cristo pagou por todos nós, através da sua morte e ressurreição.

Responder ao Amor com amor

Todavia, isto não significa que, para Paulo, a Lei mosaica já não tenha valor; pelo contrário. Inclusive para a nossa vida espiritual é essencial observar os mandamentos, mas também aqui não podemos confiar na nossa própria força: a graça de Deus que recebemos em Cristo é fundamental. Dele recebemos aquele amor gratuito que nos permite, pelanossa vez, amar de modo concreto.

E não só: a resposta da fé exige que sejamos ativos no amor a Deus e no amor ao próximo. Isto requer de nós colaboração, conjugar a graça que recebemos com as nossas obras de misericórdia.

Francisco citou novamente o estilo de Deus, que resumiu em três atitudes: proximidade, compaixão e ternura.

“E a justificação é justamente a maior proximidade Deus para connsco, homens e mulheres, a maior compaixão de Deus para connosco, homens e mulheres, a maior ternura do Pai. A justificação é este dom de Cristo, da morte e ressurreição de Cristo que nos torna livres. (…) Permitam-me a palavra: somos santos na base. Mas depois, com a nossa obra, tornamo-nos pecadores. Mas na base somos santos.”

E o Papa concluiu:

“Vamos em frente com esta confiança: todos fomos justificados, somos justos em Cristo. Devemos aplicar aquela justiça com as nossas obras.”

A proteção dos Santos Arcanjos

No final da Audiência, na sua saudação em várias línguas, o Papa recordou hoje a memória litúrgica dos Arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael.

"Confiemo-nos de modo especial à proteção dos santos Arcanjos: Miguel, que combate satanás e os espíritos malignos; Gabriel, que leva a boa nova do Senhor; e Rafael, que cura e acompanha na procura do bem. Com a sua ajuda, sejam também vós mensageiros da graça e da misericórdia do Senhor."

Paz na Nigéria

Francisco fez também um apelo em prol da paz na Nigéria, depois dos ataques fe domingo passado contra os vilarejos de Madamai e Abun, no norte do país. "Rezo por quem perdeu a vida, por quem ficou ferido e por toda a população nigeriana. Faço votos de que seja sempre garantida no país a incolumidade de todos os cidadãos."

VN

28 setembro 2021

Francisco: escolhamos estilos de vida sóbrios, respeitosos com a Criação

 
 Imagem de Valle d'Aosta, Itália 
 
 
O Papa lançou hoje dois tuítes sobre a questão da ecologia integral. Um convite a refletir sobre o uso dos bens materiais em relação ao ambiente e a apreciar as coisas pequenas. As mensagens são inspiradas no "Tempo da Criação", iniciativa anual em andamento até 4 de outubro e que visa consciencializar os cristãos sobre o compromisso com a defesa da Terra, nossa Casa comum.
 

Adriana Masotti – Vatican News

Dois tuítes sobre o tema da ecologia integral, que se inserem na iniciativa Tempo da Criação em andamento desde o 1° de setembro. Francisco lançou-os na sua conta @Pontifex.

No primeiro, o Papa escreve: "Nestes tempos de crise – na saúde, social e ambiental - vamos refletir sobre, como o nosso uso de tantos bens materiais é muitas vezes prejudicial à Terra. Optemos por mudar e caminhemos rumo a estilos de vida mais simples que respeitem a criação. "

E no segundo: "A espiritualidade cristã propõe a sobriedade e a simplicidade que nos permitem parar e saborear as pequenas coisas, agradecer as possibilidades que a vida nos oferece sem nos apegarmos ao que temos nem entristecermos por aquilo que não possuímos."

O grito da Terra e dos pobres torna-se cada vez mais sério

O convite para celebrar o Tempo da Criação deste ano com ações concretas e iniciativas de consciencialização que contribuem para a mudança urgente e indispensável dos nossos comportamentos para o futuro do planeta e da humanidade foi lançado por Francisco no domingo 29 de agosto. Durante o Angelus disse que "o grito da Terra e o grito dos pobres estão a tornar-se cada vez mais sérios e alarmantes" e que agora é o momento de trabalhar para proteger a criação. E a necessidade de refletir sobre os nossos estilos de vida, para torná-los mais sóbrios e compatíveis com o meio ambiente, foi a intenção da oração escolhida pelo Papa para este mês de setembro.

Tempo da Criação, um evento ecuménico

O Tempo da Criação é a celebração ecuménica anual de oração e ação para a proteção da Terra. Começou no dia 1 de setembro, o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação, e termina a 4 de outubro, festa de S.Francisco de Assis, que é reconhecido como o santo padroeiro da ecologia pelo seu amor à natureza e a todas as criaturas do Senhor. Os cristãos de todo o mundo durante este período unem-se num compromisso comum de defesa do ambiente. O Movimento 'Laudato Si' apoia o Tempo da Criação. O Papa saudou e agradeceu o organismo no Angelus de 29 de agosto: "Obrigado pelo seu compromisso com a nossa Casa comum", disse, "especialmente por ocasião do Dia Mundial de Oração e pelo Cuidado da Criação e do próximo Tempo da Criação".

Católicos, ortodoxos e anglicanos juntos pela Terra

Esta é a sexta edição do Tempo da Criação, evento oficializado pela Igreja católica pelo Papa Francisco em 2015, ano da encíclica "Laudato si", que chamou a atenção internacional para o tema da ecologia integral. Já em 1989, o Patriarca Ecuménico Dimitrios I proclamou o 1º de setembro como o Dia de Oração pela Criação para os Ortodoxos e mais tarde o Conselho Ecuménico de Igrejas prorrogou a celebração até 4 de outubro. Ao longo dos anos, o Patriarca Ecuménico de Constantinopla, Bartolomeu I, enviou várias mensagens aos fiéis: "A luta para proteger a criação é uma dimensão central da nossa fé. (...) A destruição da criação é uma ofensa ao Criador, completamente inconciliável com os princípios fundamentais da teologia cristã", escreveu o Patriarca em 2020. O arcebispo anglicano de Cantuária, Justin Welby, também convidou consistentemente as comunidades para celebrar o Tempo da Criação. Em 2019, ele descreveu a crise climática como "o maior desafio para nós e para as gerações futuras".

Uma declaração histórica conjunta

Este ano, para marcar o início do Tempo da Criação, o Papa Francisco, o Patriarca Bartolomeu e o Arcebispo Welby emitiram pela primeira vez uma declaração conjunta exortando os cristãos a enfrentar a "ameaça das mudanças climáticas e da degradação ambiental". Recordando que está próxima a 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, em novembro, em Glasgow, na Escócia, eles indicaram aos cristãos a oportunidade nessas semanas de apoiarem e criarem uma verdadeira mudança para a nossa Casa comum. "Oremos", escreveram eles, "pelos líderes mundiais e reflitamos sobre as escolhas que todos devemos fazer". "Como líderes das nossas Igrejas", afirma a declaração conjunta, "exortamos todos, qualquer que seja a fé ou visão do mundo, a procurarem ouvir o grito da Terra e das pessoas pobres, examinando o seu próprio comportamento e comprometendo-se a fazer sacrifícios significativos para o bem da Terra que Deus nos doou".

VN

26 setembro 2021

O Papa: comunidades abertas e humildes evitam males

 
 
 
“Cada fechamento mantém à distância os que não pensam como nós. Isto é a raiz de tantos dos grandes males da história: do absolutismo que muitas vezes gerou ditaduras e de tanta violência contra os que são diferentes”. Palavras do Papa Francisco no Angelus deste domingo 26 de setembro.
 

Jane Nogara - Vatican News

No Angelus deste domingo (26/09) o Papa Francisco destacou um breve diálogo entre Jesus e o apóstolo João, que fala em nome de todo o grupo de discípulos (Mc 9, 38-41). João fala de um homem que expulsava o demónio em nome do Senhor, e impediram-no de fazê-lo porque não fazia parte do seu grupo. Então o Papa recordou que Jesus convidou a não dificultar os que fazem o bem porque contribuem para a realização do projeto de Deus, explicando:

"As palavras de Jesus revelam uma tentação e oferecem uma exortação. A tentação é a do fechamento. Os discípulos gostariam de impedir uma obra do bem só porque a pessoa que o fez não pertencia ao seu grupo".

“Cada fechamento mantém à distância os que não pensam como nós. Isto - como sabemos - é a raiz de tantos males da história: do absolutismo que muitas vezes gerou ditaduras e de tanta violência contra aqueles que são diferentes”

Comunidades humildes e abertas a todos

Francisco colocou a questão em relação à Igreja recordando a todos “precisamos estar vigilantes também quanto ao fechamento na Igreja” e detalhou “o diabo, que faz a divisão - é isso que a palavra "diabo" significa - sempre insinua suspeitas a fim de dividir e excluir as pessoas. Tenta com astúcia, e pode acontecer como com aqueles discípulos, que chegam ao ponto de excluir até mesmo os que expulsaram o próprio diabo!”

Ponderando em seguida:

“Às vezes nós também, em vez de sermos comunidades humildes e abertas, podemos dar a impressão de sermos ‘os melhores da classe’ e manter os outros à distância; em vez de tentar caminhar com todos, podemos exibir nossa ‘carteira de crentes’ para julgar e excluir”

Superar a tentação de julgar

“Peçamos a graça – continuou o Santo Padre - de superar a tentação de julgar e catalogar, e que Deus nos preserve da mentalidade do ‘nicho’, da mentalidade de nos guardarmos ciosamente no pequeno grupo dos que se consideram bons. O Espírito Santo não quer fechamentos; ele quer abertura, comunidades acolhedoras onde haja lugar para todos”.

Não pactuar com o mal

Francisco fala também da severidade de Jesus ao exortar contra o julgamento impróprio afirmando que “o risco é ser inflexível para com os outros e indulgente para com nós mesmos”. E que “Jesus exorta-nos a não pactuar com o mal”.

“Se alguma coisa em ti é motivo de escândalo, corte-a! Jesus é radical, exigente, mas para o nosso bem, como um bom médico. Cada corte, cada poda, é para crescer melhor e dar frutos no amor”

Então, interroguemo-nos: o que há em mim, contrário ao Evangelho? O que, concretamente, Jesus quer que eu corte na minha vida?”

VN

25 setembro 2021

O Papa: criar unidade sem anular a diversidade

 
 Encontro do Papa com Bispos amigo dos Focolares 
 
No encontro com os Bispos amigos dos Focolares o Papa disse para “ousarem a unidade. A partir da consciência de que a unidade é dom”, porém “sem anular a diversidade”
 

Jane Nogara - Vatican News

O Papa Francisco recebeu neste sábado (25) um grupo de Bispos amigos do Movimento dos Focolares. Depois de uma breve saudação aos presentes recordou que “a Obra de Maria, ou Movimento dos Focolares, sempre cultivou, através do carisma recebido da sua fundadora Chiara Lubich, o sentido e o serviço da unidade: unidade na Igreja, unidade entre todos os crentes, unidade em todo o mundo, ‘em círculos concêntricos’”.

Criar a unidade sem anular a diversidade

“Perante as lacerações e às destruições da guerra - disse o Papa - o Espírito colocou no coração jovem de Clara uma semente de fraternidade e comunhão. Uma semente que daquele grupo de amigas, em Trento, se desenvolveu e cresceu, atraindo homens e mulheres de todas as línguas e nações com a força do amor de Deus, que cria unidade sem anular a diversidade, ao contrário, valorizando-a e harmonizando-a”.

Ao recordar a evidente “parentela” entre este carisma e o ministério dos bispos Francisco ponderou:

“Nós, bispos, estamos ao serviço do povo de Deus, para que possam ser edificados na unidade da fé, da esperança e da caridade. No coração do bispo, o Espírito Santo imprime a vontade do Senhor Jesus: que todos os cristãos sejam um, para louvor e glória do Deus Uno e Trino e para que o mundo creia em Jesus Cristo.”

Unidade atraída pela forma misericordiosa do seu Mistério pascal

Em seguida reiterou:

“Papa e bispos, estamos ao serviço não de uma unidade externa, de uma ‘uniformidade’, mas do mistério de comunhão que é a Igreja em Cristo e no Espírito Santo, a Igreja como Corpo vivo, como povo que caminha na história e, ao mesmo tempo, para além da história. Povo enviado no mundo para testemunhar Cristo, porque Ele, Lumen gentium, Luz das gentes, possa atrair todos para si, com a força suave e misericordiosa do seu Mistério pascal”.

“Sonho” da fraternidade

“Queridos irmãos, podemos dizer, que este é o ‘sonho’ de Deus. O seu plano é reconciliar e harmonizar em Cristo tudo e todos. Este é também o ‘sonho’ da fraternidade, ao qual dediquei a Encíclica Fratelli tutti”

O Papa recordou que diante de tantas adversidades presentes no mundo de hoje “o Espírito chama-nos a ‘ousar ser um’, como diz o título do seu encontro. Ousar a unidade. A partir da consciência de que a unidade é dom.

Os que têm coragem

“A coragem da unidade é testemunhada sobretudo pelos santos: há alguns dias, celebramos S. Cornélio, Papa, e S. Cirprião, Bispo... Mas pensemos também em tantas testemunhas de nosso tempo, pastores e leigos, que tiveram a ‘audácia da unidade’, pagando às vezes pessoalmente um preço muito alto.

“Porque a unidade que Jesus Cristo nos deu e continua a dar-nos não é unanimismo, não é concordar a todo custo. Obedece a um critério fundamental, que é o respeito pela pessoa, o respeito pelo rosto do outro, especialmente dos pobres, dos pequenos, dos excluídos”

Por fim o Papa saudou os presentes:

Agradeço o compromisso com o qual vocês levam avante este caminho de amizade - lembrem-se: sempre aberto, nunca exclusivo - a fim de crescer ao serviço da comunhão.

VN

23 setembro 2021

O Papa ao Ccee: trabalhar para que a Igreja tenha as portas abertas a todos

 Plenário tem como tema "Ccee ao serviço da Europa, memórias e perspetivas no horizonte da Frateli Tutti" 

 
O Papa Francisco agradeceu ao Conselho das Conferências Episcopais da Europa (Ccee) "por estes primeiros 50 anos ao serviço da Igreja e da Europa. Somos chamados pelo Senhor a trabalhar para que a sua casa seja cada vez mais acolhedora".
 

Vatican News

O Papa Francisco presidiu a celebração eucarística na Basílica de S. Pedro, na tarde desta quinta-feira (23/09), por ocasião da plenária do Conselho das Conferências Episcopais da Europa (Ccee) no seu 50° aniversário de fundação.

A plenária teve início, em Roma, nesta quinta-feira e prossegue até domingo, 26 de setembro, sobre o tema "Ccee, 50 anos a serviço da Europa, memória e perspetivas no horizonte da Fratelli tutti".

Francisco iniciou a sua homilia, usando três verbos, oferecidos pela Palavra de Deus, que interpelam os cristãos e os pastores na Europa: refletir, reconstruir e ver.

Refletir interpela-nos

"Refletir é a primeira coisa que o Senhor convida a fazer por meio do profeta Ageu", disse o Papa. «Reflitam bem no vosso comportamento», repete o Senhor duas vezes ao seu povo. «Então, vocês acham que é tempo de morar tranquilamente em casas bem cobertas, enquanto o Templo está em ruínas?», diz ainda o Senhor.

Este convite a refletir interpela-nos: de facto, também hoje na Europa nós, cristãos, somos tentados a acomodar-nos nas nossas estruturas, nas nossas casas e nas nossas igrejas, na segurança das tradições, na satisfação por um certo consenso, enquanto em redor, os templos esvaziam-se e Jesus fica cada vez mais esquecido.

"Reflitamos! Quantas pessoas deixaram de ter fome e sede de Deus! Não porque sejam más, mas porque falta quem lhes abra o apetite da fé e reacenda a sede que há no coração do homem: aquela que a ditadura do consumismo – leve, mas sufocante – tenta extinguir. Muitos são levados a sentir apenas necessidades materiais, não a falta de Deus", disse ainda Francisco.

O povo ao qual o Senhor fala por meio do profeta Ageu, tinha tudo o que queria, mas não era feliz. "A falta de caridade causa infelicidade, porque só o amor sacia o coração. Fechados no interesse pelas próprias coisas, os habitantes de Jerusalém perderam o sabor da gratuidade. Também este pode ser o nosso problema: concentrarmo-nos nas várias posições da Igreja, nos debates, nas agendas e estratégias, e perder de vista o verdadeiro programa que é o do Evangelho: o zelo da caridade, o ardor da gratuidade. O caminho da saída dos problemas e fechamentos é sempre o do dom gratuito; não há outro. Reflitamos nisto."

Fazer-se artesãos de comunhão

O segundo passo é reconstruir. «Reconstrua o Templo», pede Deus através do profeta. "E o povo reconstrói o templo. Cessa de contentar-se com um presente tranquilo, e trabalha para o futuro".

Disto precisa a construção da casa comum europeia: deixar as conveniências do imediato para voltar à visão clarividente dos pais fundadores, visão profética e de conjunto, porque não procuravam os consensos do momento, mas sonhavam o futuro de todos. Assim foram construídas as paredes da casa europeia e só assim se poderão robustecer. O mesmo vale também para a Igreja, casa de Deus. Para torná-la bela e acolhedora, é necessário olhar juntos para o futuro, não restaurar o passado. Sem dúvida, devemos partir dos alicerces, porque dali reconstrói-se: a partir da tradição viva da Igreja, que nos alicerça sobre o essencial, ou seja, o anúncio feliz, a proximidade e o testemunho. Daqui se reconstrói: a partir dos alicerces da Igreja dos primórdios e de sempre, da adoração a Deus e do amor ao próximo, não a partir dos gostos de cada um.

A seguir, o Papa agradeceu ao Conselho das Conferências Episcopais da Europa "por estes primeiros 50 anos ao serviço da Igreja e da Europa. Somos chamados pelo Senhor a trabalhar para que a sua casa seja cada vez mais acolhedora, para que cada um possa entrar e viver nela, para que a Igreja tenha as portas abertas a todos e ninguém se sinta tentado a concentrar-se apenas no olhar e trocar as fechaduras".

Segundo o Papa, "toda a reconstrução realiza-se em conjunto, sob o signo da unidade, ou seja, com os outros. Pode haver diferentes visões, mas deve-se guardar sempre a unidade. Este é o nosso e chamado: ser Igreja, formar um só Corpo entre nós. É a nossa vocação, como Pastores: reunir o rebanho, não o dispersar nem mesmo preserva-nos em belos recintos fechados. Reconstruir significa fazermo-nos artesãos de comunhão, tecedores da unidade a todos os níveis: não por estratégia, mas pelo Evangelho".

Muitos na Europa pensam que a fé seja algo já visto

Se edificarmos desta forma, daremos aos nossos irmãos e irmãs a chance de ver: é o terceiro verbo que "aparece na conclusão do Evangelho de hoje, onde se diz que Herodes procurava «ver Jesus». Hoje, como então, fala-se muito de Jesus. Então dizia-se que «João ressuscitou dos mortos, (...) Elias tinha aparecido, (...) um dos antigos profetas tinha ressuscitado». Todos eles mostravam apreço por Jesus, mas não compreendiam a sua novidade e oecharam-no em esquemas já vistos: João, Elias, os profetas... Jesus, porém, não pode ser classificado nos esquemas do «ouvi dizer» ou do «já visto»".

Muitos na Europa pensam que a fé seja algo já visto, que pertence ao passado. Porquê? Porque não viram Jesus em ação nas suas vidas. E muitas vezes não O viram, porque nós não O mostramos suficientemente com as nossas vidas. Pois Deus vê-se nos rostos e nos gestos dos homens e mulheres transformados pela sua presença. E se os cristãos, em vez de irradiarem a alegria contagiante do Evangelho, repropuseram esquemas religiosos gastos, intelectualistas e moralistas, as pessoas não veem o Bom Pastor.

Segundo Francisco, "este amor divino, misericordioso e impressionante é a novidade perene do Evangelho" que nos pede "para mostrar Deus, como fizeram os Santos: não por palavras, mas com a vida. Pede oração e pobreza, criatividade e gratuidade". "Ajudemos a Europa de hoje, doente de cansaço, a reencontrar o rosto sempre jovem de Jesus e da sua esposa. Não podemos fazer outra coisa a não ser doamo-nos completamente para que se veja esta beleza sem ocaso", concluiu o Papa.

VN

Gallagher: chega de racismo contra migrantes e refugiados, é preciso cultura do encontro

 
 Secretário da Santa Sé para as relações com os Estados, D. Paul Richard Galalagher 
 
Foi o que disse na ONU o secretário da Santa Sé para as Relações com os Estados, dom Paul Richard Gallagher, por ocasião do 20º aniversário da Declaração de Durban e do Plano de ação sobre discriminação racial. Os direitos humanos são indivisíveis e não podem estar em oposição entre si

 

Benedetta Capelli/Raimundo de Lima – Vatican News

Racismo, eugenia, liberdade religiosa: muitos foram os pontos abordados pelo secretário da Santa Sé para as Relações com os Estados, dom Paul Richard Gallagher, no encontro de alto nível das Nações Unidas para comemorar o 20º aniversário da Declaração de Durban e do Plano de ação centralizado em "Reparações, justiça racial e igualdade para as pessoas de origem africana".

Reiterando o compromisso da Santa Sé a "combater todas as formas de racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerância", o prelado lembrou que o racismo "está enraizado na afirmação errónea e infeliz de que um ser humano tem menor dignidade em relação a outro". Uma suposição que, para dom Gallagher, ignora o espírito de fraternidade e a verdade centrada no facto de que todo o homem nasce livre e com direitos iguais. Seguidamente foi dada atenção ao expresso pelo Papa na Fratelli tutti, ou seja, que o racismo "reaparece sempre, novamente".

Justiça para as vítimas de racismo

Muitas pessoas de origem africana no mundo - disse o prelado - são migrantes ou refugiados que, após deixarem as suas casas - ou serem forçados a deixá-las -, nos países de destino encontram racismo e xenofobia, discriminação e intolerância, em vez do apoio de que necessitam". Daí, a esperança de que "a recente criação do Fórum permanente para as pessoas de origem africana contribuirá para os esforços locais, nacionais e internacionais a fim de proporcionar justiça e apoio às vítimas de racismo".

No seu discurso, o arcebispo inglês também lembrou que "os direitos humanos universais são indivisíveis e interdependentes", que "as leis e normas que procuram erradicar a discriminação e a intolerância devem, portanto, respeitar o direito à liberdade de opinião, pensamento, religião e consciência". Por conseguinte, se é chamado a "monitorar, investigar e processar" os vários casos, tomando cuidado para não violar os "direitos humanos das minorias" ou censurar as "opiniões minoritárias". "O racismo pode e deve ser derrotado através de uma cultura do encontro, fraternidade e solidariedade". A Declaração de Durban, assim como outros acordos, explicou, devem "levar a uma mudança real", promovendo uma mentalidade divisiva do "nós contra eles".

Proteger a liberdade religiosa

Em relação à intolerância com base na religião ou na fé, que também está no centro das preocupações da Declaração de Durban, o arcebispo Gallagher salientou que isto comporta "limitações ao direito de praticar livremente a religião de própria escolha", provocando em casos extremos "hostilidade, violência e crimes atrozes". Ele acrescentou que "a falta de respeito pelo direito à liberdade de religião e de fé leva à violação de outros direitos humanos". "Nos últimos anos - afirmou - temos visto um aumento geral na perseguição religiosa por parte de atores estatais e não estatais", discriminação, por um lado, e, por outro, "impunidade" dos responsáveis. Há um perigo, salientou, de que "algumas minorias religiosas, incluindo os cristãos, que constituem o grupo mais perseguido a nível global", desapareçam.

Uma mentalidade eugénica

No centro da reflexão de dom Gallagher encontra-se "a prática insidiosa da eugenia", que muitas vezes está escondida "por trás das técnicas de reprodução assistida e nos lados obscuros do diagnóstico pré-natal". Uma mentalidade baseada na ideia "de que existem seres humanos de menor valor por causa da deficiência, género ou outras características" e que "muitas vezes leva à negação do seu direito à vida". "Tal mentalidade - concluiu - incorpora princípios de discriminação que estão em nítido contraste com a Declaração de Durban e não pode ser ignorada".

Por fim, partindo do pressuposto de que a Declaração de Durban reconhece "o papel da religião na promoção da dignidade e do valor inerente a cada pessoa e na erradicação do racismo, da discriminação racial, da xenofobia e da intolerância a ela relacionada", dom Gallagher exortou a uma legislação e a um compromisso das instituições porque "o racismo desaparecerá... somente quando morrer no coração das pessoas".

VN

«E procurava vê-lo.» Lc 9, 9



 
 
O Evangelho de hoje narra-nos a perplexidade de Herodes perante o que diziam de Jesus e termina a passagem bíblica com a frase «E procurava vê-lo.» Lc 9, 9

Esta frase faz toda uma diferença entre a atitude de Herodes e Zaqueu, pois na passagem bíblica sobre Zaqueu, no mesmo Evangelho de São Lucas, é escrito que Zaqueu «procurava ver quem era Jesus» Lc 19, 3

E a diferença, entre Herodes e Zaqueu, (para além de todas as outras), é a que muitas vezes acontece nas nossas vidas, ou seja, procuramos ver Jesus, mas não procuramos ver «quem» é Jesus.

O “ver” uma pessoa só por ver, por curiosidade, pode nada mudar em nós.

Mas o “ver” quem é essa pessoa, obriga a um conhecimento da pessoa e isso pode mudar muita coisa nas nossas vidas.

E se essa Pessoa é Jesus Cristo a diferença pode ser total!

Basta ver a transformação que aconteceu na vida de Zaqueu e a indiferença que continuou na vida de Herodes.
 
Marinha Grande, 23 de Setembro de 2021 
Joaquim Mexia Alves


Nota: Os versículos bíblicos foram recolhidas na Bíblia da Conferência Episcopal Portuguesa.
 

22 setembro 2021

IDFC - Escola de Leigos com inscrições abertas

 

 

As inscrições podem ser feitas online.

A Escola de Leigos do Instituto Diocesano da Formação Cristã do Patriarcado de Lisboa (IDFC-PL) anunciou a abertura de inscrições para os cursos do Ano Pastoral 2021-2022. A oferta formativa disponível pode ser consultada em https://idfc.patriarcado-lisboa.pt e a inscrição pode ser feita através do mesmo site. Segundo o instituto, os cursos vão decorrer em regime presencial ou por teleconferência. 
Nesta quinta-feira, 23 de setembro, às 19h00, na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, em Lisboa, o IDFC-PL vai assinalar a abertura do ano pastoral com uma Eucaristia que terá, no final, a entrega de diplomas aos finalistas do triénio de ‘Bíblia e Teologia’ da Escola de Leigos.

Patriarcado de Lisboa

O abraço do Papa a um grupo de famílias que fugiu de Cabul

 

 O Papa Francisco com uma das mulheres afegãs que fugiram de Cabul 
 
Antes da Audiência Geral desta quarta-feira, o Papa Francisco encontrou cerca de quinze pessoas, dentre as quais sete crianças, que lhe contaram a angústia que sentiram após o retorno dos Talibãs ao Afeganistão, antes da ousada chegada à Itália
 

Giampaolo Mattei – L’Osservatore Romano

O anel e a veste. Foi assim que Pary Gul se apresentou, na manhã desta quarta-feira (22/09), ao Papa Francisco, doando-lhe o seu anel - em memória de seu marido "engolido" pelo terror talibã - e a veste "que fala de uma vida de sofrimento". Antes da Audiência Geral na Sala Paulo VI, o Papa recebeu o anel com uma condição: que Pary Gul o guardasse como uma promessa de amizade e um sinal de esperança. A mulher indicou a esperança nos olhos das suas três filhas, Adila, Robina e Setara, e do seu filho Nasim. Eles têm entre 25 e 14 anos. Foram as jovens que lançaram um SOS através dos telemóveis e elaboraram a fuga de Cabul, para finalmente chegarem às suas novas casas em Bérgamo, em Itália, onde poderão recomeçar as suas vidas, graças a uma rede de solidariedade, coordenada pelo escritor Alì Ehsani, que fugiu de Cabul há anos atrás, escondido debaixo de um caminhão e vendo o seu irmão morrer na viagem, e à fundação Meet Human.

Três famílias cristãs, conseguiram fugir: 14 pessoas, 8 mulheres e 6 homens. Os menores são sete (todos com um desenho feito especialmente para o Papa). O mais novo, Eliyas, tem apenas um ano e foi internado com urgência ao chegar à Itália, devido a uma infecção grave. Agora está bem.

A história que as três famílias apresentaram ao Papa impressiona pela crueza e tem implicações dolorosas. O facto de serem cristãos provocou uma denúncia contra eles assim que os Talibãs entraram em Cabul. "O meu marido foi demitido e depois preso, e não tivemos mais notícias dele", disse Pary Gul, 57 anos, cujo sobrenome é Hasan Zada. "Ficamos quatro dias e quatro noites trancados no porão por medo de sermos presos, provavelmente alguém nos denunciou porque éramos cristãos", disseram eles.

Gholam Abbas e a sua esposa Fátima, ambos de 32 anos, também conseguiram deixar Cabul com os filhos Safa Marwah (9 anos) e Muhammad Yousouf (4 anos). Também com eles estavam Zamin Ali (35 anos) e Seema Gul (34 anos) com os  seus filhos Maryam (11 anos), Ali Reza (8 anos) e o pequeno Eliyas.

"Irmãos afegãos" é o slogan da campanha humanitária que a fundação Meet Human escolheu realizar no Afeganistão com a colaboração de instituições civis e militares italianas. Uma fraternidade que imediatamente se concretiza no apoio dado às três famílias para construir relacionamentos, encontrar trabalho e obter uma educação. Enfim, para voltar a viver, conservando "o anel do Papa".

VN

19 setembro 2021

Papa: Queres-te destacar? Serve! Torna-nos livres e mais semelhantes a Jesus

 

 

"Eu entendo a vida como uma competição para abrir espaço para mim mesmo à custa dos outros ou acho que se sobressair significa servir? E, concretamente: dedico tempo a algum "pequeno", a uma pessoa que não tem meios para retribuir? Eu cuido de alguém que não me pode retribuir ou apenas dps meus parentes e amigos?": perguntas a fazer a nós mesmos, sugeriu Francisco.
 

Jackson Erpen – Cidade do Vaticano

Queres-te destacar? Serve!  A nossa fidelidade ao Senhor depende da nossa disponibilidade para servir. O serviço não nos diminui, mas faz-nos crescer. E ao servirmos os esquecidos, que não podem retribuír-nos, “também nós recebemos o terno abraço de Deus”.

O “serviço”, um tema caro ao Papa esteve no centro da sua alocução que precedeu a oração mariana do Angelus neste 25º Domingo do Tempo Comum: “Se quisermos seguir Jesus, devemos percorrer o caminho que ele mesmo traçou, o caminho do serviço.”

Dirigindo-se aos peregrinos e turistas reunidos na Praça de S. Pedro para o tradicional encontro dominical, Francisco começou por explicar a discussão entre os discípulos narrada por Marcos sobre quem entre eles era o maior. E citou a frase que Jesus lhes disse, uma frase “que vale também para nós hoje” - “Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos” -, acrescentando que quem ser o primeiro, deve ir para a fila, tomar o último lugar "e servir a todos".

Queres-te destacar? Serve!

E justamente esta frase pronunciada pelo Mestre marca uma inversão nos critérios daquilo que realmente importa:

O valor de uma pessoa não depende mais do papel que ela desempenha, do sucesso que tem, do trabalho que faz, do dinheiro no banco; não, não, não, não depende disso; a grandeza e o sucesso, aos olhos de Deus, têm um padrão, uma medida diferente: são medidos no serviço. Não no que se tem, mas no que se dá. Queres-te sobressair? Serve. Este é o caminho.

Quanto mais servimos, mais sentimos a presença de Deus

Hoje em dia a palavra "serviço" – disse o Papa – “parece um pouco desbotada, desgastada pelo uso. Mas no Evangelho tem um significado preciso e concreto. Servir não é uma expressão de cortesia: é fazer como Jesus que, resumindo em poucas palavras a sua vida, disse que veio «não para ser servido, mas para servir». Portanto, se quisermos seguir Jesus, devemos percorrer o caminho que ele mesmo traçou, o caminho do serviço:

A nossa fidelidade ao Senhor depende de nossa disponibilidade em servir. E isto, bem o sabemos, custa, geralmente isto custa, “tem gosto de cruz”. Mas, à medida que aumenta o cuidado e a disponibilidade para com os outros, tornamo-nos mais livres interiormente, mais semelhantes a Jesus. Quanto mais servimos, mais sentimos a presença de Deus, sobretudo quando servimos aqueles que não têm nada para nos restituir, os pobres, a abraçar as suas dificuldades e necessidades, com a terna compaixão: e ali descobrimos ser, por sua vez, amados e abraçados por Deus.

Em primeiro lugar, servir a quem não nos pode retribuir

Para ilustrar a importância da doação gratuita, Jesus coloca uma criança entre os discípulos, pois "os gestos de Jesus são mais fortes do que as palavras que usa", observou o Papa. “A criança, no Evangelho – explicou –  não simboliza tanto a inocência mas a pequenez. Porque os pequenos, como as crianças, dependem dos outros, dos grandes, têm necessidade de receber. Jesus abraça aquela criança e diz que quem acolhe um pequenino, uma criança, o acolhe”:

Eis antes de tudo a quem servir: aqueles que têm necessidade de receber e não têm como retribuir. Acolhendo quem está à margem, abandonado, acolhemos Jesus, porque Ele está ali. E num pequeno, num pobre a quem servimos, também nós recebemos o terno abraço de Deus.

O serviço não nos diminui, faz-nos crescer

Interpelados pelo Evangelho, o Papa sugere que nos interroguemos:

Eu, que sigo Jesus, interesso-me por quem é mais abandonado? Ou, como os discípulos naquele dia, estou à procuraa de gratificações pessoais? Eu entendo a vida como uma competição para abrir espaço para mim mesmo à custa dos outros ou acho que se sobressair significa servir? E, concretamente: dedico tempo a algum "pequeno", a uma pessoa que não tem meios para retribuir? Eu cuido de alguém que não pode me retribuir-me ou apenas de meus parentes e amigos? São perguntas que podemos fazer a nós próprios.

Que a Virgem Maria, humilde serva do Senhor, nos ajude a compreender que o serviço não nos diminui, mas faz-nos crescer. E que há mais alegria em dar do que em receber.

VN

XLIV Assembleia Nacional do RCC

 

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